A margem do acerto

A margem do acerto

Às vésperas das eleições, a credibilidade das pesquisas sempre volta à baila. Eleitores e candidatos que não aparecem na frente costumam desdenhar dos resultados e fazer piadas com a credibilidade dos institutos de pesquisa. Um dos últimos memes que circulou na internet perguntava se “alguém já tinha visto por aí um pesquisador do Datafolha, pertencente ao Jornal Folha de São Paulo, ou do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria)”. O Ipec foi fundado em fevereiro de 2021, por executivos oriundos do antigo Ibope, logo após o encerramento das atividades do instituto mais famoso cujo nome virou sinônimo de desempenho. Em público, os políticos costumam fazer coro e atacam a credibilidade das pesquisas, mas nos bastidores nenhum candidato a cargo importante concorre sem ter uma pesquisa própria para avaliar o seu desempenho e as questões que mais interessam ao eleitorado. Empiricamente, sem fazer uma investigação, parece que hoje há mais céticos do que crentes nas pesquisas eleitorais.  

 


A pesquisa de opinião política se baseia na estatística, a ciência que utiliza as teorias probabilísticas para explicar a frequência da ocorrência de eventos, tanto em estudos observacionais quanto em experimentos para modelar a aleatoriedade e a incerteza para estimar ou possibilitar a previsão de fenômenos futuros. Os primeiros fundamentos teóricos desta ciência remontam ao século XVII com o desenvolvimento das teorias das probabilidades para o estudo dos jogos de azar. Hoje, a estatística é largamente utilizada na elaboração de políticas públicas. Na iniciativa privada, nenhuma estratégia de lançamento de produtos envolvendo grandes investimentos prescinde de uma pesquisa de mercado. 


Para avançar do conceito teórico à prática, vale relembrar um exemplo trivial usado por professores de estatística em sala de aula. A clássica panela gigante da feijoada de quartel. Para saber se a feijoada ficou salgada demais, basta mexer bem o feijão com uma colher e depois experimentar uma pequena amostra. Se a minúscula porção da colher estiver salgada não é preciso provar mais e já dá para jogar todo o feijão da panela fora. Os medicamentos são outro exemplo clarividente da funcionalidade das pesquisas científicas. Localizar alguém que tenha sido objeto de pesquisa dos laboratórios que fabricam medicamentos é como encontrar uma agulha no palheiro, mas quando alguma infecção aparece o médico receita o antibiótico sem pestanejar. Salvo as exceções da margem de erro, o remédio funciona, mesmo que a substância nunca tenha sido testada naquele paciente. A pandemia da Covid 19 foi outra demonstração da base científica da estatística e da pesquisa. No Brasil, as vacinas foram testadas em grupos de 5 mil a 10 mil pessoas e depois se mostraram eficientes para combater a doença em 213 milhões. 


Quando a amostra representa bem o universo, o grau de confiabilidade da pesquisa aumenta. Obviamente que pesquisas, como qualquer outro instrumento de medição, não possuem 100% de exatidão, podem ser manipuladas, mas isso impacta na credibilidade dos institutos. Quem divulga muitos resultados errados certamente perderá clientes, influência e prestígio. No caso das eleições, as pesquisas estão sujeitas a muitas variáveis que influenciam o comportamento do eleitor até a última hora. Um fenômeno político inesperado, uma facada ou uma notícia escandalosa na internet, muda o rumo de eleição. A pesquisa eleitoral significa uma fotografia do momento e o eleitor pode mudar de ideia até a hora em que estiver na urna eletrônica. Isso explica muitas viradas que ocorrem dias antes de uma eleição. Já aconteceram erros crassos, mas na grande maioria, as pesquisas acertam os resultados. Entretanto, nas eleições para prefeito de Ribeirão Preto, os institutos de pesquisa têm um retrospecto desfavorável.   


Na eleição que se aproxima o eleitor pode fazer a prova dos nove e por conta própria realizar um teste sobre a credibilidade das pesquisas. À medida que a eleição se aproxima, basta anotar os resultados anunciados pelos institutos de pesquisa, acompanhar a evolução até a véspera e ficar de olho na boca de urna. Apurados os votos basta confrontar os resultados para verificar se os prognósticos estavam certos e dentro da margem de erro.  

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