Brincando com fogo

Brincando com fogo

Pelo calor dos últimos dias, a conta do aquecimento global chegou queimando, escaldando corpos e mentes. Ribeirão Preto sempre foi conhecida como uma cidade de clima quente, mas as temperaturas dos últimos dias quebraram recordes históricos. Em dias seguidos, a cidade registrou temperaturas na casa dos 40º com sensação térmica de 45º C. Máquina sensível, o corpo humano não aguenta grandes variações da temperatura interna. Aos 42º, as proteínas começam a cozinhar e os sinais de desconforto aparecem. Nessa temperatura, o metabolismo e o funcionamento dos órgãos ficam comprometidos com riscos à vida humana. Além dos sintomas físicos, como a transpiração excessiva e a perda de líquidos, ainda surgem os efeitos psicológicos como o cansaço, a irritação e a falta de ânimo. A baixa umidade do ar provoca dificuldades respiratórias e aumenta o risco de contrair doenças.  


Por qual a razão as temperaturas estão tão elevadas? Os especialistas dão duas explicações que se somam para justificar o aumento do calor. O efeito do fenômeno “El Nino”, que aquece a temperatura das águas e provoca ondas de calor, e as consequências do aquecimento global, decorrentes da intervenção humana. A massa de ar quente que se instalou em várias regiões do país impede a chegada das frentes frias. O aumento dos gases do efeito estufa eleva ainda mais as temperaturas. Se não há muitas controvérsias em relação às causas, as consequências da bagunça climática saltam aos olhos e assustam pesquisadores, autoridades e a população. Embora a questão ambiental tenha sido muito debatida nos últimos anos, a grande maioria dos países protelou a adoção de medidas que restringissem a emissão dos gases que estão aquecendo o planeta. Metas que não são cumpridas e intermináveis adiamentos da implantação de uma economia verde estão levando ao desequilíbrio climático, um caminho perigoso que não tem volta. 


Há poucos dias, enchentes e rios que subiram mais de 10 metros destruíram cidades gaúchas, provocando cerca de 50 mortes. Em alguns minutos, moradores perderam tudo o que juntaram no decorrer de uma vida. O mesmo ocorreu no litoral paulista no começo deste ano. A água que sobra e provoca catástrofes em algumas localidades falta em outras regiões, caso do Pantanal, onde o fogo, todos os anos, destrói ecossistemas valiosos. Há alguns anos, a temperatura em Ribeirão Preto vem subindo, surpreendendo os moradores. No final de 2021, a seca e o calor intenso provocaram uma onda de queimadas e de incêndios de grandes proporções que bloquearam rodovias e ameaçaram moradores da zona urbana. No começo deste ano, chuvas persistentes comprometeram o pavimento de um trecho da Rodovia Anhanguera. Numa medida extrema, nos dias com clima de deserto, os órgãos públicos passaram a distribuir água em alguns locais de Ribeirão Preto.


Além dos efeitos ambientais, a alta temperatura traz prejuízos econômicos e financeiros. A produção de alimentos será parcialmente comprometida, o consumo de energia elétrica aumenta e algumas cidades enfrentam o problema da falta de água, caso de Ribeirão Preto. A irresponsabilidade ambiental acontece tanto no varejo como no atacado. Embora o nível de conscientização tenha avançado bastante, com campanhas de conscientização, governos, empresas e os próprios cidadãos poderiam fazer mais para preservar o meio ambiente. Esses últimos episódios mostram, com a clareza e a contundência das catástrofes, que a linha tênue que equilibra o meio ambiente e a vida humana está se rompendo. Bastam alguns graus a mais para que a água falte, para que a conta de energia aumente e que as enchentes ocorram. Bela, diversa e cheia de recursos, a natureza possui também dentro de si uma força destruidora que as barreiras humanas não conseguem suportar. Quando um rio sobe demais, uma cidade inteira pode ser arrasada em poucos minutos. Não há como se esconder de um Sol inclemente. Quando se examina o conjunto dos desastres climáticos, fica a clara impressão que a raça humana está brincando com fogo. 

 

Foto: Freepik

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