Educação inclusiva

Educação inclusiva

Há no país uma mobilização pela construção de uma educação inclusiva que acolha e ofereça um ensino de qualidade para pessoas diferentes. Essa discussão, que envolve pais, professores, educadores e os governantes, começa pela própria terminologia que define esse segmento da população. Se no passado essas pessoas eram discriminadas, sofriam preconceitos e eram denominadas com termos grosseiros e pejorativos, hoje há um esforço para superar essas barreiras e vencer os desafios de uma educação que não pode deixar ninguém para trás, mesmo aqueles que possuem algum tipo de limitação. Claro que só o processo de conscientização, a adesão de boa parte dos profissionais da educação e a luta dos pais para conquistar a inclusão dos filhos não são suficientes para promover a igualdade de tratamento e de oportunidade. Esse movimento precisa ser abraçado pelas políticas públicas com a formação de profissionais preparados e a inclusão desta nova visão na grade curricular.  

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15% das pessoas apresentam algum tipo de limitação que prejudica a sua vida cotidiana. Quando se aplica esse percentual à população brasileira, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 203 milhões, chega-se a conclusão que 30 milhões de brasileiros estão nessa condição. Muitas dessas limitações são difíceis de perceber e de diagnosticar e por isso exigem uma abordagem especializada que as escolas públicas e até mesmo as privadas ainda não estão preparadas para atender. Para mudar essa realidade, empatia e boa vontade ajudam, mas a capacitação é fundamental. O avanço da ciência permitiu concluir que o cérebro humano não funciona de maneira igual no seu aspecto neuroconignitivo, que significa a capacidade de processar informações, fazer comparações e absorver conhecimentos. Cada um de nós possui o seu próprio tempo e o fato de cumprir as etapas deste processo de maneira mais rápida ou mais lenta não torna nenhum ser humano inferior ao outro. Baseado nesse entendimento, surgiu uma palavra que melhor representa o contexto das pessoas que possuem um grau de dificuldade maior para assimilar o conhecimento e até mesmo adotar os padrões de comportamento socialmente aceitos.

 

A expressão neurodiversidade reitera, principalmente no ambiente educacional, uma ideia sobre a qual, teoricamente, não há muita controvérsia: que todos os indivíduos são diferentes, inclusive no seu funcionamento neurocognitivo. Assim, quem apresentar um comportamento divergente do comportamento considerado padrão pela sociedade, necessariamente, não possui doenças ou transtornos, mas diferenças normais que devem ser aceitas e respeitadas. Os mais refratários à mudança de comportamento dirão que este é apenas mais um modismo que aparece de tempos em tempos. Pelo contrário, a linguagem, através da escolha das palavras apropriadas, possui uma força transformadora à medida que vai deixando para trás as velhas ideias preconcebidas ao mesmo tempo em que promove uma caminhada em direção a um mundo mais fraterno, inclusivo e com equilíbrio na distribuição das oportunidades.

 

A construção de uma nação solidária ocorre em várias frentes. Na maioria das vezes, as questões econômicas, sociais e de segurança estão no topo da pirâmide das demandas, mas a identidade de um povo também se forja pelo combate a tudo aquilo que exclui, marginaliza, segrega, fere, machuca e compromete a vida plena dos semelhantes. Assim, a criança diagnosticada com autismo ou com algum tipo de transtorno não pode ficar à margem do processo educacional porque a escola não está preparada, porque faltam professores capacitados ou porque inexistem políticas públicas. Não é preciso ser nenhum expert na área para concluir que a educação e a sociedade ainda não são inclusivas, mas também não se pode negar que o movimento existe e que a semente dessa transformação foi lançada. A mudança começa pelo olhar para reconhecer e respeitar o diferente. O segundo passo é descobrir como ele pode ser ajudado a desenvolver as suas potencialidades. Assim, chegará o dia em que os neurodivergentes terão os seus direitos respeitados e que os iguais e os diferentes vão conviver em harmonia.

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