Encontros e despedidas

Encontros e despedidas

Assim como descreve o título da música acima que inspira este texto, 2022 manteve a escrita de um ano de encontros, desencontros, conquistas e despedidas. Embora cada dia seja diferente do outro, à medida que o tempo avança um olhar abrangente revela que a vida se repete num eterno vaivém com alegrias, tristezas, desencantos e momentos de euforia. Os autores da significativa composição são Fernando Brant e Milton Nascimento que, por sinal, este ano, se despediu dos palcos, homenageando Gal Costa, um ícone da Música Popular Brasileira que morreu em novembro. No mesmo mês também houve a partida de Erasmo Carlos, o eterno parceiro de Roberto Carlos desde os tempos da jovem guarda. São perdas irreparáveis. Não veremos mais Gal Gosta, Erasmo Carlos e Milton Nascimento subirem nos palcos para alegrar as nossas vidas. 

 


Mas seria injusto representar o universo das perdas só pela morte de músicos famosos. Pelo contrário, as perdas maiores são de gente anônima da zona rural e urbana deste imenso e desigual país. O que dizer do assassinato de Genivaldo Santos, 38 anos, em Sergipe, morto asfixiado, por três policiais rodoviários, depois de ser preso por andar de moto sem capacete? Como aceitar ou procurar explicações para morte de professores e de uma estudante da pequena Aracruz, no Espírito Santo, surpreendidas pela violência cruel e covarde que mata sem nenhuma chance de defesa? Além das mortes decorrentes da violência, todo ano que termina ainda deixa um rastro de perdas subjetivas que não aparecem nas estatísticas dos assassinatos, das vítimas do trânsito, da fome e da falta de atendimento médico. Embora seja uma avaliação muito subjetiva afirmar se houve avanços ou retrocessos no campo das relações sociais, o ano de 2022 dá a impressão de terminar com perdas significativas no que se refere à tolerância, ao respeito ao próximo e à convivência com o diferente. 

 


Decorrente da radicalização política, neste ano ficou visível que a sociedade brasileira avançou algumas casas em direção aos conflitos motivados pelo ódio e pela propensão em resolver as diferenças com agressões e até mesmo pela força das armas. Poeticamente, a música “encontros e despedidas” pede que para quem for para o mundo de lá, mandar notícias para o mundo de cá. Apesar dessas mazelas, o ano que termina não será lembrado como um período de 365 dias com a preponderância dos desencantos e das tristezas. A ciência consolidou a vitória da razão, espantando com firmeza o fantasma da morte endêmica. O interesse do coletivo se sobrepôs aos arroubos autoritários da minoria ruidosa que se julga detentora da razão para subjugar os destinos de uma maioria silenciosa. Há muitas feridas abertas e até algumas fraturas expostas. 

 


Há que se retomar o caminho da negociação, do entendimento, ouvir mais do que falar e da arte de ceder para poder avançar. O caminho do confronto, do conflito e dos embates violentos possui um custo elevado demais que não vale a pena. Não existem receitas prontas, fórmulas que podem ser repetidas e nem salvadores da pátria. A evolução política, econômica e social de um país resulta das pequenas transformações cotidianas, alicerçadas pela educação, pelo conhecimento e pela informação apurada com a abertura para o controverso. Todas as teses possuem as antíteses justamente para que brotem os novos aprendizados. Assim tem sido e assim deve ser. Um eterno vaivém que nos balança, sedimentado pelo refrão da música dos artistas mineiros.

 

 

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...  

 

Imagem de Nick por Pixabay 

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