Fake news oficial

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A pandemia revelou mais um aspecto nefasto da política, a politização de questões relacionadas à saúde, algo que não poderia ocorrer em hipótese alguma, principalmente em um momento de calamidade pública. Todos os órgãos públicos que estão em evidência nessa crise sanitária, o Butantã, a Fiocruz e a Agência Nacional de Vigilância (Anvisa) não pertencem a nenhum governante de plantão, mas ao povo brasileiro que mantém essas instituições com o dinheiro dos impostos. Governantes das mais variadas esferas deveriam considerar que existem outras pautas que possibilitam o embate político e a explicitação de diferenças ideológicas. 

Um exemplo do aparelhamento indevido dessas instituições ocorreu na sexta-feira, dia 26/03/2021, quando o governo de São Paulo forçou a mão e montou um palanque para anunciar “uma vacina 100% nacional, integralmente desenvolvida pelo Butantã”. A reportagem da Folha de São Paulo apurou que os primeiros estudos foram desenvolvidos por um centro de pesquisa dos Estados Unidos. Depois de algumas idas e vindas e de alguns “ajustes” no discurso, o Instituto Butantã admitiu que a tecnologia foi desenvolvida por um instituto de pesquisa de Nova Iorque que já havia publicado estudos em revistas científicas. O Butantã é parceiro de um consórcio internacional com know-how e capacidade de produzir a vacina no país, sem depender de insumos farmacêuticos vindos do exterior. Nessa questão, ponto para a repórter da Folha SP, Ana Botallo, que desvendou esse intrincado jogo de vaidades. 

Uma polêmica desnecessária, um gasto de energia que desvia a atenção do problema mais sério. Admitir publicamente que faz parte de um consórcio e que a tecnologia foi obra de outros pesquisadores não diminui o papel relevante que o Butantã tem desempenhado até agora. Quem conhece a ética dos círculos acadêmicos e científicos sabe que fica muito feio não dar o crédito devido a publicações alheias. Desde o início da pandemia, o combate ao coronavírus exigia um somatório de forças para vencer um inimigo comum. O que ocorreu foi justamente o contrário. A divisão de orientações, a disputa política e agora as vaidades científicas só aumentam as dificuldades que já eram grandes demais. Se os cidadãos brasileiros tivessem acesso direto aos seus governantes certamente pediriam que os seus representantes priorizem a saúde política e deixem de lado a politização da saúde. 

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