O economista de Ribeirão Preto

O economista de Ribeirão Preto

Com a devida vênia de todos os economistas formados e diplomados, Antonio Vicente Golfeto era o economista mais popular de Ribeirão Preto, pelo menos entre os jornalistas. Faleceu no domingo, 18 de outubro, aos 80 anos. No começo de década de 90, foi uma das primeiras fontes de notícia que conheci pessoalmente. Um jornalista vindo de fora, que ainda não conhecia a cidade, precisava de um interlocutor para recorrer na hora de encontrar uma boa pauta. Com sua educação, simpatia e conhecimento, o Golfeto era esse entrevistado que gostava de uma boa prosa, sempre regada a um café.

 

Como não era formado em economia, teve alguns problemas com a entidade que representa a categoria e por isso sempre nos pedia para que não o apresentássemos como economista. A saída foi grafar nas reportagens “analista econômico”. Mesmo sem o título de economista, Golfeto foi pioneiro ao fazer um trabalho que até hoje a cidade não conseguiu criar de forma completa. A formação de um banco de dados local e regional para traduzir em números e em estatísticas o tamanho e a relevância da nossa economia. Atendia a todos com a sua infalível cordialidade, podia ser um estudante fazendo um trabalho para escola, um jornalista da grande imprensa ou um empresário disposto a investir e a fazer negócios na cidade.

 

Depois da entrevista, puxava outros assuntos com os visitantes. Comigo, sabendo da minha procedência, gostava de discutir sobre a trajetória dos políticos e das personalidades gaúchas: Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, João Goulart, Leonel Brizola e o jurista Raimundo Faoro. Profundo conhecedor da história política e econômica do país, certa feita me perguntou quem foi o político mais influente da minha cidade. Respondi que tinha sido o bageense Gaspar Silveira Martins e logo ele comentou:

 

— Esse foi diferenciado, o único para o qual Rui Barbosa concedia apartes por considerar que tinha o mesmo nível intelectual. Anos mais tarde, descobri que também adotava essa prática com outros visitantes. Era a sua maneira de demonstrar empatia e esticar os minutos de prosa que tanto apreciava. Na sua longa trajetória, com simplicidade, educação e conhecimento, Golfeto se tornou uma personalidade da história de Ribeirão Preto. Seu riso fácil e a sua alegria espontânea ficarão na minha lembrança.  

Compartilhar: