O reconhecimento do jornalismo

O reconhecimento do jornalismo

O jornalismo profissional não poderia ter recebido notícia melhor neste fim de ano. Depois de ter sofrido uma longa e agressiva onda de ataques de governantes autoritários pelo mundo afora, a Academia Real das Ciências da Suécia, que concede o prêmio, decidiu homenagear dois jornalistas que representam a importância da profissão para a preservação da liberdade de expressão e da democracia no mundo contemporâneo. Os jornalistas Maria Ressa das Filipinas e o russo Dmitry Muratov ganharam o Prêmio Nobel da Paz por sua “luta corajosa” em defesa da liberdade de expressão nos seus respectivos países. A premiação se reveste de uma enorme simbologia com repercussão mundial. A própria comissão responsável pela escolha se referiu à dupla como representantes de todos os jornalistas profissionais com atuação crítica, independente, baseada em fatos, contra a disseminação de notícias falsas.  As condições adversas que incluem a repressão, a censura e até assassinatos não se restringem aos dois países, mas podem ser verificadas em vários continentes. De acordo com a Organização das Nações Unidas, nos últimos 10 anos, mais de mil jornalistas foram mortos.  

Maria Ressa, co-fundadora do site de notícias Rappler, foi elogiada por usar a liberdade de expressão para “expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo nas Filipinas”. O comitê responsável pela premiação disse que o russo Muratov, que co-fundou o jornal independente Novaja Gazeta e foi seu editor-chefe por 24 anos, defendeu por décadas a liberdade de expressão na Rússia em condições cada vez mais desafiadoras. Muratov dedicou o prêmio a seis colegas do jornal que foram mortos no exercício da profissão. O jornal crítico à politica do ditador russo Vladimir Putin foi fundado em 1993. Para se ter ideia da magnitude desse prêmio, basta dar uma olhada no peso de alguns ganhadores do Nobel da Paz: Mikhail Gorbatchov (1990), Nelson Mandela (1993), Kofi Annam (2001) e Barack Obama (2009). A escolha de dois jornalistas no contexto atual significa uma resposta contra a desinformação e as estratégias deliberadas de líderes populistas para desacreditar instituições como o Judiciário, a Justiça Eleitoral e a própria imprensa. Mesmo com seus problemas e imperfeições são essas instituições que garantem o mínimo de equilíbrio de uma sociedade democrática.  Elas precisam ser aperfeiçoadas e não destruídas pelo governante que tem seus interesses contrariados. 

O prêmio concedido a dois jornalistas que se destacaram por sua atuação contra governos autoritários mostra que os ditadores de plantão não terão vida fácil. Em qualquer país do mundo, um indicador informal mede a atuação da imprensa profissional. As reclamações, a ira, a fúria, a agressividade e os xingamentos dos governantes revelam que o jornalismo está exercendo seu papel crítico, de defender o interesse público com a cobrança de transparência e a observância de padrões éticos e legais. Não se pode passar por cima da lei. Há décadas que jornalistas profissionais do Brasil trilham esse caminho reconhecido pelo prêmio nobel da paz. Por isso, mesmo distante das Filipinas e da Rússia, os operários da notícia dessas bandas também se sentem devidamente homenageados e recompensados. 

Foto: The Nobel Prize/Divulgação

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