O voto regional

O voto regional

Pela lei eleitoral, em cada eleição, o eleitor tem uma tarefa obrigatória importante: a escolha de bons candidatos, desta vez para deputado, estadual e federal, governador, senador e presidente. A segunda missão resulta da primeira. Depois da disputa, ele precisa fiscalizar o trabalho dos eleitos. São duas incumbências difíceis de serem realizadas em função da distância das casas legislativas, São Paulo e Brasília, e da quantidade de representantes em cada uma dessas instituições. Há pouco interesse pelo universo da política. Sem pesquisar no google, poucas eleitores são capazes de dizer de bate-pronto quem são os três senadores do seu estado.  Este ano, nos 645 municípios paulistas, 1.540 candidatos disputam as 70 vagas do Estado de São Paulo na Câmara dos Deputados. Para a Assembleia Legislativa (Alesp), são 2.059 candidatos concorrendo a 94 cadeiras. Quem assistiu ao horário eleitoral gratuito ficou zonzo com o desfile de tantos candidatos de mais de 30 partidos e tem dificuldades para separar o joio do trigo. 

 


Por isso, há muitas eleições se discute o voto regional para que a cidade e a região possam acompanhar mais de perto o trabalho dos representantes. Embora o voto regional não seja obrigatório, o raciocínio tem lógica. O Brasil tem dimensões continentais e o Estado de São Paulo possui uma extensão maior do que muitos países. Uma das tarefas do parlamento, com base na representação popular, é justamente identificar os maiores problemas regionais e buscar recursos para projetos que possam solucionar demandas que mudam e crescem  constantemente. Ao mesmo tempo, o representante eleito deve participar dos debates das questões nacionais e estaduais. Com a concentração da arrecadação,  60% na União e 20% no Estado, os municípios necessitam de verbas estaduais e federais para fazer frente aos problemas de saúde, educação e infraestrutura. Hoje, as prefeituras brasileiras não possuem recursos nem para reerguer a ponte que caiu. Por isso, o voto tem a ver com a qualidade dos serviços públicos prestados.

 


No entanto, a política está longe de ser uma atividade pública pautada exclusivamente por valores morais. Em todas as eleições, por trás do discurso ético, políticos e partidos instauram o vale-tudo eleitoral para eleger o maior número de candidatos e aumentar o poder de influência. A sobrevivência política fala mais alto. A estratégia mais conhecida é a dos famosos puxadores de voto, humoristas, esportivas, artistas, figuras públicas que arrebatam votos em muitas cidades do Estado, sem nunca terem passado no trevo de acesso ao município. Na carona do puxador de votos se elegem figuras inexpressivas, sem biografia e até com maus antecedentes. Na eleição de 2018, uma extensa lista de aventureiros fez 10 mil, 20 mil, 35 mil votos em Ribeirão Preto, mesmo sem uma única visita à cidade. Os eleitores locais espalharam votos em mais de 200 candidatos “estrangeiros” que depois nem aparecem por aqui. 

 


Alguém poderá argumentar que o voto no candidato local não garante uma boa atuação parlamentar e algum tipo de retorno para a cidade, mas sem dúvida que o candidato eleito por uma região recebe uma pressão maior para apresentar resultados. Este ano, os 467 mil eleitores de Ribeirão Preto podem escolher entre 35 candidatos a deputado federal e estadual, cerca de 30 são residentes na cidade. Hoje, a região de Ribeirão Preto conta com dois deputados estaduais e cinco federais. A eleição deste ano tem uma diferença em relação às anteriores. Os candidatos estão capitalizados por R$ 4,9 bilhões provenientes do fundo eleitoral e as campanhas ganharam visibilidade. Registre-se que só os candidatos do Partido Novo não utilizaram recursos públicos nas campanhas. Pesquise o currículo, discuta com os familiares e os amigos, analise as propostas e não esqueça de anotar em quem votou. Só assim você poderá avaliar futuramente se ajudou a eleger alguém que contribuiu para o desenvolvimento da sua região, do seu Estado e do seu país. 

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