A obsolescência pública

A obsolescência pública

Os poderes públicos municipais, personificados pela Prefeitura de Ribeirão Preto e pela Câmara de Vereadores, começaram 2017 pior do que se imaginava, depois dos escândalos que ocorreram no final do ano passado. Ambos os poderes estão com as estruturas nos escombros, a credibilidade minguando e com as imagens destruídas perante a opinião pública. Como disse, resignado, o empresário, Eike Batista, o Brasil está sendo passado a limpo e essas são as novas regras do jogo. Enquanto Eike se transforma numa bomba ambulante, por aqui, na esfera municipal, ainda há muito por resolver. As últimas administrações de Ribeirão Preto tiveram baixíssima resolubilidade e os grandes problemas da cidade foram parar em instâncias judiciais na famosa judicialização da política. Se for condenada por todos os ilícitos que cometeu, a ex-prefeita Dárcy Vera precisaria de umas cinco reencarnações para pagar por todos os crimes.

Bonfim Paulista tornou-se um bairro simpático próximo a Ribeirão Preto. No entorno surgiram dezenas de condomínios onde moram pessoas que foram em busca de paz, de tranquilidade e, principalmente, de segurança. Bonfim, assim como todos os bairros da cidade, está com demandas acumuladas, mas, no atual estágio da administração pública municipal, mesmo questões muito simples podem se tornar complexas. Um caso rotineiro que bem retrata essa enorme incapacidade do poder público de resolver problemas, mesmo que eles sejam básicos, refere-se à manutenção do posto da Polícia Militar. Com os atuais índices de violência, embora não seja uma garantia absoluta, um posto fixo de um órgão de segurança, numa pequena comunidade, cumpre o simbólico papel de demonstrar, publicamente, que aquela não é uma terra sem lei. Isso vale tanto para inibir a conduta ilícita dos moradores locais, quanto de criminosos dispostos a tirar proveito dessa tranquilidade. Uma prosopopeia inacreditável se instalou desde que a CPFL cortou o fornecimento de energia em função da falta de pagamento da conta de R$ 70,00. Acreditem os senhores, mas a única base policial do bairro está fechada por um valor tão irrisório para uma Prefeitura do porte de Ribeirão Preto.  

Pelos descaminhos da administração, o prédio pertence ao Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp), um caso à parte no descalabro da administração pública local. A energia do prédio foi cortada em dezembro, religada, e agora desligada novamente. A questão não foi posta de forma pública para os moradores da simpática Bonfim Paulista, mas, certamente, se um pouco mais de segurança depende de um valor tão irrisório a comunidade até pagaria essa conta, embora não tenha essa responsabilidade e essa obrigação. Talvez até um morador mais abastado de Bonfim Paulista poderia doar os R$ 70,00, enquanto a administração pública municipal tenta sair do estado de obsolescência para o patamar da eficiência. Já a Polícia Militar prefere manter as viaturas rodando, de acordo com a disponibilidade do efetivo, do que ficar ocupando bases fixas.  No fim dessa inadimplência administrativa, a segurança do cidadão de Bonfim Paulista diminui pela falta de pagamento de uma conta de R$ 70,00. Estendendo-se esse mau exemplo de gestão de Bonfim Paulista para outros setores e outros bairros da cidade chega-se ao caos administrativo.
Outro caso de descalabro governamental veio à tona no próprio Daerp, com a abertura da caixa-preta. Se não bastassem os escândalos, as fraudes milionárias nas licitações, através de uma visita, o Ministério Público escancarou uma farra de desperdício de dinheiro público. Tubos de esgoto, pneus de caminhão e de tratores (que o órgão não tem), material de limpeza e baldes em quantidades exageradas foram desperdiçados. Dinheiro público jogado fora. Moralizar o Daerp e recolocar o órgão para trabalhar pelo interesse público será um dos grandes desafios da atual administração.

Tarefa semelhante tem a Câmara de Vereadores que, nas últimas décadas, tornou-se um grande feudo para camuflar vantagens e privilégios. Essa realidade começou a mudar, em setembro do ano passado, quando a operação Sevandija afastou nove vereadores. Esse processo de renovação foi confirmado nas urnas em que novos vereadores se elegeram, abrindo caminho para que o Poder Legislativo adote uma nova postura que contemple o interesse público. O novo presidente, Rodrigo Simões (PDT), assumiu prometendo tornar a gestão transparente, informando quanto ganham os servidores e quais as despesas da casa. Essa deveria ser a regra e não um segredo guardado a sete chaves. Afinal de contas, quem paga as contas do posto de Bonfim, do Daerp e da Câmara de Vereadores é a população. Nessas novas gestões que estão iniciando, o cidadão ribeirãopretano espera que, com mais transparência, sejam adotadas condutas e práticas que tirem a administração pública desse terrível estado de obsolescência. A transparência precisará ser total e absoluta. 

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