Tragédias que indignam

Tragédias que indignam

Já houve um tempo em que as tragédias contemporâneas ficavam restritas às páginas policiais dos jornais. Depois o registro dos crimes migrou com estardalhaço para o horário nobre dos programas sensacionalistas de TV. Em tempos de internet, elas estão por toda parte, ficam escancaradas para todos os internautas desde que o dia amanhece. Com a sequência interminável de atrocidades, a sociedade vai ficando anestesiada, se acostumando com a barbárie que sorrateiramente começa a fazer parte da rotina. Crianças vítimas de balas perdidas nas grandes cidades, cenas de ódio e racismo explícitas, violência policial desmedida aqui e nos Estados Unidos já não são novidade para ninguém.

 

Por vezes, somos induzidos a pensar que estamos distantes e a salvo dessa violência que vai se tornando banal e corriqueira. Não é difícil encontrar pessoas que defendem o emprego da força, das armas e da violência para resolver conflitos e divergências. Esse processo fraticida resulta numa escalada sem fim de mortes, de dor e sofrimento. Em Ribeirão Preto, janeiro terminou com duas dessas notícias estarrecedoras ocorridas na mesma semana. A primeira vítima foi um motociclista de 43 anos, degolado por uma linha de pipa com cerol. A palavra “degolado” não é nenhum exagero, mas a que melhor classifica o crime fatal cometido contra esse trabalhador que
perdeu a vida por causa de uma brincadeira estúpida e irresponsável. São corresponsáveis por esse homicídio, os pais dessa criança ou adolescente e quem forneceu o material para transformar a pipa numa arma que mata.

 

Outra ocorrência que deixou a opinião pública estarrecida foi o crime de matricídio: o filho matou a mãe. Réu confesso, ele foi preso pela polícia alegando legítima defesa. Crime semelhante também ocorreu no mês de ja-
neiro em Orlândia. Jornalistas em começo de profissão costumam pensar que podem mudar o mundo. À medida que o tempo passa descobrem que a imprensa tem um grande poder de influência, mas que as transformações dependem da ação de outros agentes sociais. Mesmo que não tenha o poder absoluto, o jornalismo precisa continuar fazendo a sua parte, mantendo viva a chama da indignação contra as barbáries do cotidiano.

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