Ansiedade também é problema de criança

Ansiedade também é problema de criança

Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

Podemos, equivocadamente, pensar que distúrbio de ansiedade é algo exclusivo do mundo complexo dos adultos. No entanto, o que muitas pessoas desconhecem é que este tipo de distúrbio não escolhe idade e muitas crianças também têm sido vítimas deste problema. Entretanto, a boa notícia é que tais distúrbios, mesmo quando presentes durante a infância podem ser superados sem deixar sequelas, desde que sejam corretamente identificados e tratados. Por ocorrer com relativa frequência e ser fonte de grande sofrimento para a criança, o Transtorno de Ansiedade de Separação receberá um destaque especial neste artigo.

Antes de tudo, é preciso compreender que todo problema psicológico/psiquiátrico necessita de uma cuidadosa avaliação e que jamais poderemos caracterizar um problema clínico apenas com base na identificação de alguns sintomas. Mesmo assim, é importante que alguns aspectos gerais do referido transtorno sejam explicitados, de forma a servir de pistas para que pais e professores possam reconhecê-lo e, assim, poder oferecer algum apoio à criança com esse tipo de problema.

O Transtorno de Ansiedade de Separação é um distúrbio que se caracteriza por sintomas de ansiedade intensa que a criança apresenta ao se perceber separada ou com a possibilidade de separar-se de pessoas com quem ela mantém fortes vínculos afetivos, como seus pais, avós e mais frequentemente, a sua mãe. Os sintomas mais comumente observados são: sofrimento excessivo frente à ocorrência ou previsão de afastamento de casa; preocupação persistente e excessiva sobre possíveis perigos ou de que um evento indesejado leve à separação de uma figura importante de vinculação (por exemplo: perder-se ou ser sequestrado); relutância ou recusa em ir para a escola ou outro lugar; temor excessivo ou relutância em ficar ou dormir sozinho; pesadelos envolvendo temas de separação; queixas repetidas de sintomas como cefaléias, dores abdominais, náusea ou vômito, em decorrência de uma possível separação prevista, como por exemplo, na hora da criança ir para a escola.

Embora haja semelhança nas manifestações comportamentais das crianças que apresentam esse problema, as causas do distúrbio são sempre muito particulares, pois cada criança possui uma história de vida única. De qualquer forma, a experiência nos mostra que crianças mais inseguras ou dependentes apresentam maior possibilidade de desenvolver esse problema e que estilos parentais podem influenciar fortemente no desenvolvimento do referido transtorno. Por exemplo, pais muito ansiosos podem “transferir” suas tensões aos filhos por meio de seu exemplo ou por fornecerem instruções exageradas e constantes em relação aos “perigos da vida”. Outro exemplo refere-se a pais que apresentam padrão comportamental “superprotetor” e que, mesmo sem intenção, fazem com que a criança se sinta segura somente na presença deles.  O outro extremo refere-se a pais muito punitivos ou negligentes, já que os primeiros levam a criança a manter-se em estado constante de alerta, “temendo a próxima punição”, enquanto que os pais negligentes podem gerar na criança a sensação de estar completamente desprotegida no mundo.

Sabemos que pais amorosos doam sempre o melhor de si para suas crianças, mas nem sempre conseguem encontrar o equilíbrio ideal na educação de seus filhos. Ainda bem que sempre haverá tempo e oportunidades para um mergulho em novas aprendizagens.

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