DIVERTIDA MENTE

DIVERTIDA MENTE

  Por Ana Beatriz Burin - Psicóloga Comportamental do IACEP- Ribeirão Preto

Amei as considerações  feitas pela psicóloga  Ana Beatriz Burin sobre o filme Divertida Mente. Ana Beatriz é psicóloga colaboradora do IACEP- Ribeirão Preto e Especialista em Clínica Analítico-Comportamental.   No texto abaixo, unindo consistência teória e sensibilidade, suas ponderações sobre o filme  nos dão olhos clínicos e nos levam a  tirar o máximo proveito dessa SUPER ANIMAÇÃO!  Aproveite o texto e clique no link, logo abaixo, para ver o trailer do filme.


Parece que o último filme produzido pela Pixar, em parceria com a Disney, está mesmo provocando reflexões. Muitos pais de crianças que atendo na clínica apareceram essa semana dizendo “Você precisa assistir!” e seguiam comentando sobre aspectos retratados no filme e orientações dadas ao longo da psicoterapia. Decidi ir assistir ao filme e, durante todo o tempo, eu pensava o quanto aquela representação do funcionamento da cabeça das pessoas era genial. Além da delicadeza e sensibilidade com que as emoções, sentimentos e memórias são tratados, o filme proporciona reflexões muito importantes. Sou psicoterapeuta e atendo muitas crianças. Por mais diferentes que sejam as demandas que apareçam na clínica, a questão das emoções e sentimentos está sempre associada.

O filme retrata uma criança que enfrenta uma mudança difícil na vida e como suas emoções ficam confusas frente a esta nova realidade. É muito interessante como o filme mostra que os próprios personagens das emoções (Alegria, Tristeza, Nojo, Raiva e Medo) se alternam no comando das ações de Riley e ficam tentando afastar a Tristeza e evidenciar a Alegria com o objetivo de proteger Riley das sensações desagradáveis e deixá-la feliz a qualquer custo. Os personagens das emoções passam por diversas situações, mas acabam percebendo que Riley precisava aceitar e sentir a tristeza que aquela nova situação produzia. Quando as emoções param de agir no sentido de fazê-la se esquivar do sofrimento, Riley entra em contato com seus sentimentos e, a partir disso, começa a se sentir melhor. Entre muitas questões abordadas no filme, destaca-se a esquiva experiencial. Ela é entendida como comportamentos de fuga/esquiva de sentimentos e sensações desagradáveis e precisa ser discutida, principalmente porque a sociedade parece valorizar este tipo de padrão comportamental. Muitas crianças aprendem, desde cedo, a tentar evitar pensamentos e sentimentos ruins. Em alguns casos, ela pode até ser adaptativa, mas em outros casos, ela pode acarretar mais sofrimento, já que a pessoa se esforça tanto e dedica tanto tempo para fugir daquilo que dói que acaba não percebendo e não aproveitando coisas boas que podem estar acontecendo. Eu sempre oriento os pais a ajudarem os filhos a  identificarem e nomearem as emoções e sentimentos e fornecerem maneiras adequadas de lidar com isso. É importante reconhecer e aceitar todas as emoções. Fugir da tristeza ou qualquer outro sentimento classificado como desagradável não significa que eles não existam. A verdade é que eles continuarão a nos machucar apesar dos nossos esforços em afastá-los. Ensinar os filhos a reconhecer e aceitar todos os estados internos (emoções e sentimentos) e oferecer possibilidades para que eles lidem, de forma tranquila, com todos eles é um ato de coragem e amor. Quanto mais cedo as crianças entenderem a importância de aceitar as emoções e sentimentos desagradáveis, mais cedo fortalecerão o repertório de comportamentos para manejar adequadamente situações difíceis.

O filme oferece uma riqueza de detalhes que possibilitam inúmeras reflexões. Além de tudo que foi discutido até aqui, eu gostaria de comentar, ainda, uma cena específica em que o amigo imaginário de Riley está chateado e a personagem Alegria se engaja em várias tentativas para deixá-lo feliz, mas nada parece funcionar. Neste momento, a personagem Tristeza se aproxima e nos dá uma aula de empatia. Ela se coloca no lugar dele e valida o que ele está sentindo e, no filme, isso basta para que ele se sinta melhor para continuar buscando a estação do trem dos pensamentos. Empatia é uma habilidade tão importante e tão rara nos dias de hoje e também complexa de ser ensinada. O filme foi muito feliz na maneira de retratar esta habilidade.

 Embora seja um filme voltado para o público infantil, os adultos vão se identificar com o mau humor da Raiva, com o jeitinho da Nojo, com a euforia da Alegria, com as preocupações do Medo e com os comentários tristonhos da Tristeza e podem aprender muito com as questões retratadas. Quero encerrar dizendo que estou muito feliz com o filme e sugiro que todos assistam. Como é bom ver a qualidade indiscutível das produções da Pixar alinhada com a relevância das questões trabalhadas de forma tão lúdica.

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