Medo: enfrentá-lo é a melhor alternativa

Medo: enfrentá-lo é a melhor alternativa

Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

Quando ainda era estudante de psicologia, ouvi um professor dizer: “enquanto você correr do medo, o medo correrá atrás de você”. Essa frase ficou em minha mente e ainda me apanho refletindo sobre ela. Sabemos que o medo faz parte de nossa existência  e que será necessário aprendermos a conviver com ele. O medo, na dose certa, é protetor e nos faz mais prudentes e cautelosos, evitando que nos coloquemos em situações de perigo.

Muitos medos nos alertam dos perigos reais da vida. No entanto, a maioria dos medos que paralisam as pessoas é imaginária, fruto de preocupações excessivas e de interpretações equivocadas de fatos e situações. E é sobre esse tipo de medo que vamos discutir neste artigo.  

Há medo para todos os gostos. Medo de avião, de rato, de escuro, de barata. Medo de amar e não ser amado, medo de ser traído, de ser enganado. Medo de não dormir, medo de ter pesadelos, medo de dormir e não acordar. Medo de dirigir, de andar de avião, de ser contaminado por um vírus dentro do ônibus. Tem gente com muito medo de morrer e tem gente que morre de medo de viver. Enfim, são apenas alguns exemplos de uma lista interminável de medos.

Depois de analisarmos todos os supostos “perigos” da vida, acabamos por concluir que viver é muito arriscado, e então nos acomodamos em um estado de paralisia disfarçado de cautela. Max Lucado, em seu livro “Sem medo de viver”, salienta que o degrau entre a prudência e a paranóia é curto e íngreme, afirmando que:

“a prudência usa cinto de segurança, a paranóia evita carros... A prudência lava com sabão... A paranóia evita contato humano... A prudência calcula o risco e mergulha... A paranóia nunca entra na água”.

No fundo, pensamos ter controle sobre as coisas. Evitamos relacionamentos amorosos, pois temos medo de nos machucar. Dessa forma, se não nos envolvermos, poderemos evitar o sofrimento. Evitamos buscar um novo emprego, pois tememos não conseguir. Se não tentarmos, nunca fracassaremos.  Mas será que essas atitudes conseguem mesmo blindar uma pessoa dos sofrimentos da vida?

Obviamente que não. Em primeiro lugar, porque muitas situações que nos geram sofrimento estão totalmente fora do nosso controle. Em segundo lugar, porque ao esquivarmos de um problema, certamente outros serão criados e muitas aprendizagens e oportunidades serão perdidas. Por exemplo, se não nos arriscarmos a nos relacionar afetivamente, como vamos conhecer o amor? Se não tentarmos conseguir um novo emprego ou um melhor cargo, como cresceremos profissionalmente?

Como podemos ver, agindo pelo medo, a vida deixa de ser uma busca de realização, de alegria, de bem-estar, passando a ser restrita a uma luta contra a tristeza, a decepção e a tragédia. Obviamente que o resultado disso tudo será uma vida empobrecida, vazia de experiências edificantes e repleta de frustrações e sonhos não realizados.

É necessário que a nossa vida contemple riscos, e que o medo não seja um empecilho para que desfrutemos de uma vida plena. Não há coragem sem o medo, pois a coragem é o enfrentamento do medo. Quando o medo nos envolve, precisamos identificá-lo, reconhecê-lo e enfrentá-lo.

Encerro este texto com uma frase de Platão. Penso que vale a pena refletir sobre ela.

“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.

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