Ninho Vazio

Ninho Vazio

Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

https://www.psicologaribeiraopreto.com/ 

Penso que a grande maioria dos pais se esforça para que seus filhos cresçam como adultos fortes, corajosos, bem sucedidos em sua vida pessoal e profissional e, como consequência, aprendam a ser independentes. Visando o bem estar de seus filhos, estes pais se dedicam a ensiná-los para que eles amadureçam e aprendam, a cada dia, a serem pessoas mais autônomas, preparando-os para um futuro no qual viverão sem eles.

Na maioria das vezes, os filhos aprendem cedo a bater suas asas e se arriscam a voar na busca de uma formação, de um emprego e, principalmente, quando resolvem se casar. O fato é que chegará um momento no qual os filhos buscarão voos próprios pelo bater de suas próprias asas. Após a saída do primeiro filho, geralmente os pais se adaptam e voltam a dar continuidade à missão de cuidar daqueles que ainda ficaram embaixo de suas asas, até que, finalmente, o último também se despede e vai trilhar seus próprios caminhos. É nesse momento que o ninho se torna realmente vazio, sem a presença daqueles que foram preparados por seus pais para viver sem eles. Mas será que os pais se prepararam para viver sem os seus filhos? De fato, os pais que assumem a criação de seus filhos como o único foco de suas vidas acabam por ficar desolados ao verem o ninho vazio. 

Como psicóloga clínica, tive a oportunidade de acompanhar diversas pessoas que experienciaram e enfrentaram essa etapa em suas vidas, o que me possibilitou perceber que diferentes pessoas lidam de diferentes formas com esse momento. Percebi que as pessoas que passam melhor por esta fase são aquelas que possuem algumas características e vivem dentro de alguns princípios que desejo dividir com vocês neste texto.

Primeiro, elas entendem que seus sentimentos negativos são naturais e encaram de frente o desafio de mudar o ciclo, compreendendo este momento como uma possibilidade para um novo começo, mesmo que este seja um pouco doloroso. Segundo, são pessoas que sempre permitiram e deram aval para que seus filhos crescessem e fossem felizes, mesmo depois de comporem uma vida independente deles. Este segundo princípio pode ilustrar um comportamento óbvio, mas há muitos pais que vivem interferindo fortemente na vida de seus filhos e até de seus genros, noras e netos, principalmente por não compreenderem que seus filhos passaram a ser protagonistas de sua própria história e da qual os pais deveriam sair de cena.

Uma terceira característica refere-se à compreensão por parte desses pais em relação ao cumprimento de sua primeira missão em relação aos filhos: ensiná-los a voar. Estes pais, embora mostrem um pouco de aflição, também se mostram orgulhosos do bom trabalho que realizaram ao perceberem a autonomia de seus “ex- filhotes”. Também buscam viver em harmonia com as escolhas de vida de seus filhos, mesmo que estas não sejam as mesmas com as quais os pais sempre sonharam e idealizaram. Uma quarta característica marcante destes pais é a sua percepção de que a sua vida não acabou, mesmo após a saída de seus filhos de casa, embora, muitas vezes, até pareça que sim.

Assim, se você está vendo o seu ninho vazio ou se esvaziando e tem experimentado um sofrimento muito intenso e prolongado, não demore em procurar apoio profissional. Por mais difícil que pareça, acredite que é possível recriar algo novo e maravilhoso  mesmo sem a constante presença e participação dos filhos. De forma nenhuma permita que a depressão se instale ou permaneça em sua vida. Mas se isso já ocorreu, recomendo que busque ajude o quanto antes. No entanto, se você, assim como eu, ainda não enfrentou esta fase, você ainda tem a chance de se prevenir, preparando-se, gradativamente, para o momento no qual seus filhos baterão asas e voarão.

Portanto, procure se envolver desde já em projetos pessoais e em outros que contemplem a participação de seu cônjuge, sem a necessidade de incluir seus filhos em tais projetos, por mais difícil que isso seja para você. Evite o equívoco de concentrar e focalizar a sua vida e todas as suas energias na vida de seus filhos. Assumindo esses princípios, posso dizer que há uma grande chance de você continuar experienciando uma vida plena de sentido, propósito e felicidade, mesmo diante de um ninho vazio. Você verá que um ninho nunca fica ou permanece vazio quando nos propomos a preenchê-lo com tantas  outras coisas edificantes.

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