Para onde estamos indo com tanta pressa?

Para onde estamos indo com tanta pressa?

Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

https://www.psicologaribeiraopreto.com/ 

Confesso que nunca fui uma excepcional aluna em física. Mesmo assim, contrariando alguns poucos conceitos que aprendi sobre astronomia, arrisco-me a dizer que o mundo está girando num ritmo cada vez mais veloz e o tempo ficando cada vez mais curto. Pelo menos, é essa a minha sensação quando olho daqui da Terra. Do escritório à cozinha, incontáveis produtos tecnológicos têm nos trazido muitas facilidades que, teoricamente, deveriam tornar nossas vidas mais práticas e muito mais simples.Em busca dessa tal simplicidade e praticidade, despendemos uma boa parte do nosso tempo para acumularmos recursos financeiros que viabilizem a aquisição de carros, computadores, máquinas multifuncionais e outras tantas coisas que são apresentadas como essenciais para economizarmos o nosso precioso tempo, mas que acabam por determinar o nosso modo de viver e a nossa forma de pensar a vida. O curioso é que após adquirirmos todas essas coisas e acelerarmos todas as nossas atividades cotidianas, continuamos dizendo que não temos tempo pra nada e que a vida continua corrida. Na verdade, o que acontece é que continuamos correndo atrás do vento... Mas o que é ainda mais insano e contraditório em tudo isso é o fato de nos desdobramos e trabalhamos arduamente com a justificativa de que queremos mais qualidade de vida. Estamos tão ocupados em trabalhar para termos uma vida melhor, que, absolutamente, não sobra tempo para usufruirmos das bênçãos advindas do nosso esforço. E na pior das hipóteses, nos poucos momentos de descanso, ainda nos sentimos culpados por ter desperdiçado nosso tempo produtivo.

Estamos nos especializando em sermos rápidos que até os abraços que trocamos são apressados. Nossas poucas conversas acabam se transformando em diálogos breves, corridos e cheios de promessas não cumpridas.  Prometemos ao amigo querido que nos esforçaremos para encontrá-lo mais vezes, e o que foi uma promessa, continua sendo apenas uma promessa que talvez nunca se cumprirá. Ah! Mas como não podemos aceitar que agimos desse jeito, continuamos nos autoenganando dizendo: “Este ano serei menos sedentário, brincarei mais com meus filhos, passearei mais com minha família, terei mais tempo para os amigos etc.” E de autoengano em autoengano, o tempo se esvai e tudo continua do mesmo jeito, com exceção das nossas almas, que se tornam cada vez mais vazias. O que está acontecendo conosco? Tenho a impressão de que perdemos a simplicidade e o carinho pelas coisas essenciais da vida. Estamos optando por uma vida na qual apenas cumprimos obrigações, uma após a outra, e que nos envolve num emaranhado complexo de compromissos criados por nós mesmos. Parece um lugar sem volta.

O mundo está carente de lugares onde realmente possamos nos expressar, ser ouvidos, compreendidos e aceitos. Como psicóloga clínica, percebo que o momento da terapia pode representar a chance de muitas pessoas serem ouvidas sem pressa ou interrupções e terem seu tempo respeitado. Em uma psicoterapia, escutamos a voz de nossos próprios pensamentos e sentimentos, traçamos metas e buscamos ser melhores, e o mais gratificante de todo esse processo é não estarmos sozinhos. Aonde vamos, nos percebemos rodeados de pessoas, mas, muitas vezes, não nos sentimos ligados a quase ninguém. Para o vínculo crescer é preciso dedicação, importar-se e demorar-se na presença do outro. Ah! Mas é verdade! Não temos tempo a perder! Temos tantas coisas mais importantes a fazer que permitimos que nossos relacionamentos e a nossa saúde sejam definhados pelo tempo. Vamos lá, precisamos correr! Só nos resta responder: para onde estamos indo com tanta pressa?

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