Quando usar um mouse é mais fácil que amarrar os próprios cadarços.

Quando usar um mouse é mais fácil que amarrar os próprios cadarços.

 Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

 Quando usar um mouse é mais fácil que amarrar os próprios cadarços.

A matéria realizada por Gisele Mota e originalmente publicada em Opinião e Notícia, em 20 de outubro de 2013, é bastante interessante e vale a pena ser compartilhada!

Não é incomum estar em restaurantes ou shoppings e ver crianças quase hipnotizadas, brincando com tablets. O aparelho eletrônico vem sendo uma das estratégias dos pais para acalmar os filhos. Mas não se sabe quais são os efeitos sociais, comportamentais ou neurológicos das novas tecnologias a longo prazo.

A AVG – aquela mesma empresa dos antivírus – fez um mapeamento em diversos países, desde 2010, que intitulou de Digital Diaries. São dados e mais dados de como a tecnologia afeta crianças e adultos em diversas idades e ambientes. Esse ano, eles lançaram um relatório chamado “Um olhar sobre como a tecnologia afeta quem somos a partir do nascimento“, que mostrou como crianças estão cada vez mais propensas a operar no mundo digital do que no real.
Segundo o estudo, 58% das crianças entre dois e cinco anos conseguem brincar com um jogo simples de computador, enquanto somente 20% sabem nadar. Se nadar pode parecer muito difícil, o que dizer sobre amarrar os próprios sapatos? Na mesma faixa etária, somente 11% conseguem fazer tal atividade, enquanto 69% sabem utilizar um mouse perfeitamente.

Mães com 35 anos ou mais são melhores em ensinar seus filhos “habilidades para a vida real”. Por exemplo, 40% das crianças com mães com idades entre 35 ou mais sabem escrever seu próprio nome, 5% a mais do que as crianças com mães com idade abaixo de 34 anos. Quando perguntados quem sabe mais sobre a internet em suas casas, 72% dos pais disseram que eram suas crianças.

A culpa não é da tecnologia

Annie Wielewicki, psicóloga e fundadora do Instituto Innove, de Londrina, corrobora os dados da pesquisa. Segundo ela, crianças têm tido menos contato com atividades motoras e contato presencial com outros da mesma idade, e essas crianças apresentam pior desempenho acadêmico, menor nível de atenção e baixa compreensão em leitura, além de habilidades sociais mais pobres. Porém, a culpa não é da tecnologia. “O problema está no uso excessivo e indiscriminado desses aparelhos. Tudo depende do uso que é feito, que pode ser educativo.”

A profissional recomenda que o tempo na internet e com jogos seja limitado e que outras atividades sejam incentivadas. Até os 13 anos, o uso de computadores deve ser supervisionado. “É recomendado que computadores sejam de uso comum e estejam em locais de circulação.” No Facebook, rede social mais popular do país, só é permitido criar perfis a partir dos 13 anos, o que muitas vezes não acontece na vida real. “Quando isso não é seguido, os pais devem monitorar o uso, sim. Sendo amigo do filho na rede social, acompanhando postagens e, em alguns casos, tendo acesso a senha e login”, completa a psicóloga.

O mesmo estudo da AVG revelou ainda que quase 50% dos pais controlam os filhos através do Facebook. As respostas apontaram que mais de um terço deles temem que as atividades de seus filhos nas redes sociais possam prejudicá-los em futuras oportunidades de trabalho. A preocupação é normal, mas para a especialista, na adolescência deve haver uma mudança de postura, priorizando a privacidade e estando aberto ao diálogo.

Além dos próprios pais reconhecerem que os adolescentes são os que mais sabem sobre tecnologia, o Facebook usou esse argumento para mudar mais uma de suas configurações de privacidade.  Logo depois de acabar com a ferramenta com a qual as pessoas poderiam manter seus perfis ocultos, essa semana a empresa anunciou que adolescentes podem postar publicamente — antes a visualização só era permitida para amigos. Eles alegaram que os adolescentes estão entre os mais experientes usuários do Facebook, e a voz deles deve ser ouvida.

Educação

Como a própria Annie afirmou, a tecnologia pode ter um papel na educação, e os governos começam a investir nisso, embora nem sempre de forma eficiente. Em setembro desse ano, 6.400 tablets foram distribuídos pela Secretaria da Educação e Cultura, no Piauí. A despeito de várias escolas ainda não terem internet, mais da metade do professores das redes  tem o novo aparato. Além dos professores, alguns alunos que se destacam em suas escolas também já receberam um tablet.

Se por um lado a iniciativa mostra uma preocupação com a tecnologia, para alguns ela só serve como propaganda. Segundo o professor Marcos James, da Unidade Escolar Pedra Mole, não há infraestrutura para receber esses aparelhos. “Aqui na Unidade Escolar do Pedra Mole não tem internet e muito menos sala de informática, não temos a estrutura mínima para alunos, e o tablet serve apenas de objeto decorativo na mão do professor”, alertou.

Os alunos também não acham que tablet seja prioridade. “O teto está caindo, não temos sala de informática, computadores, tem sala que os ventiladores não funcionam e gostaríamos que as autoridades olhassem para os poucos alunos que acreditam nos estudos e sabem que este é o caminho para um futuro melhor”, disse Arthur Sousa.

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