A (in)segurança dos pais e dos filhos

A (in)segurança dos pais e dos filhos

  Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

 Diante de nossas dificuldades e exigências da vida adulta é comum pensarmos “bom mesmo é ser criança, pois elas não possuem preocupação nenhuma”. Mas será que isso é uma realidade?  Seria muito bom que fosse verdade, mas não é bem assim. Crianças têm medos e preocupações típicos da infância e o nível de seu sofrimento pode ser igual ou até maior do que o de um adulto. É bem verdade que, assim como não temos medo que monstros saiam de dentro de nosso guarda-roupa e nem que fantasmas nos capturem enquanto caminhamos poucos passos no escuro, as crianças não precisam se preocupar com o pagamento do imposto de renda.  É óbvio que da infância até a fase adulta nossos medos adquirem novas configurações, mas os sentimentos continuam os mesmos. 

Como já disse em outros artigos, pais amorosos doam o melhor de si para suas crianças, mas nem sempre conseguem encontrar o equilíbrio ideal na educação de seus filhos, principalmente quando buscam ajudá-los a desenvolverem autonomia e autoconfiança. Diversos estudos sobre desenvolvimento infantil são muito claros ao afirmarem que reforçar comportamentos adequados mostra-se muito mais eficaz do que a simples punição ou correção de comportamentos inadequados. Vejamos: quantas vezes punimos os erros, mas não valorizamos os acertos da criança? Temos a regra de que acertar é obrigação e que errar é infração e, como tal, deve ser punida. Se nossos filhos apresentam maus modos durante a refeição, não hesitamos em corrigi-los, dizendo: senta direito, coma com a boca fechada, pare de bater o garfo no prato etc. Entretanto, o dia em que eles se comportam ou tentam se comportar como pequenos príncipes, suspiramos aliviados e esquecemos de elogiá-los pelas boas ações. 

Dessa forma, quando damos muito mais atenção aos maus comportamentos passamos a mensagem de que não há valor no acerto.  Lembre-se que sua criança fará o que for possível para que você “olhe” para ela, pois atenção é sempre uma grande recompensa para as crianças, mesmo que seja em forma de bronca. Com isso, não estou dizendo que as crianças não devam ser corrigidas e muito menos que não devam sofrer consequências por suas atitudes inapropriadas, apenas proponho que haja uma mudança de foco. Se você deseja que seus filhos sejam autônomos e seguros, apresento aqui algumas dicas importantes:

  • Procure incentivar seu filho a participar de atividades esportivas e coletivas, permitindo que ele aprenda com acertos e erros.
  • Não faça para a criança o que ela pode fazer sozinha. Por exemplo, se ela é capaz de amarrar seus cadarços, então porque você os amarra para ela todos os dias?
  •  Procure ser um modelo de autoconfiança. Se você tem medos e ansiedades excessivos, ela rapidamente os “absorverá”.
  • Permita que ela tenha seus próprios gostos e opiniões. Não é saudável que ela dependa sempre da sua opinião.  
  • Não se esqueça de reforçar comportamentos de decisões e escolhas feitas pela própria criança. Ajude-a a tomar decisões, ao invés de decidir tudo por ela.
  •  Possibilite toda e qualquer expressão de sentimentos da criança (medo, ansiedade, vergonha, raiva). Se for para corrigi-la, foque a correção na atitude e não no sentimento, sempre valorizando suas emoções.
  • Se a criança demonstrar muitos medos ajude-a enfrentar de forma gradual as situações temidas, reforçando seus pequenos progressos.

Não esqueça que o desenvolvimento de nossa autonomia e autoconfiança é um processo que dura toda nossa vida. Assim, as primeiras aprendizagens são fundamentais e não devem ser desprezadas.

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