A Tecnologia também estressa

A Tecnologia também estressa

Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto


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Os recursos tecnológicos mudam constantemente e exigem que as pessoas tenham que se adaptar a eles rapidamente, na tentativa de se inserirem no grupo de pessoas que buscam usufruir dos benefícios anunciados pelas tecnologias emergentes. No entanto, quando, enfim, aprendemos a manipular algum tipo de tecnologia, a satisfação de ter conseguido aprender algo novo dá lugar a frustração de saber que aquele conhecimento não é mais útil frente às inúmeras e contínuas inovações tecnológicas, apresentadas sempre como algo extremamente necessário, induzindo-nos ao consumo e aprisionando-nos num processo cíclico de aprendizagem e adaptação constante. Sem dúvida, já se foi o tempo em que para assistir televisão era só apertar um botão.

Na verdade, o problema não pode ser associado apenas à tecnologia em si, mas, principalmente, ao fato da maioria de nossas ações cotidianas estar condicionada ao uso direto de algum tipo de tecnologia, o que nos faz ficarmos reféns da parafernália tecnológica que nos circunda. Essa relação de dependência faz com que sejamos submetidos constantemente a um estado de desequilíbrio e tensão emocional, o que nos leva a uma situação de estresse, também chamada de tecnnoestresse. Por exemplo, há pessoas que ao se perceberem sem o seu celular, ficam extremamente preocupadas por saberem que não poderão atender ao telefone caso alguém tente entrar em contato com elas, sentindo-se também impedidas de retornarem as ligações instantaneamente. Elas viajam de férias e não conseguem desligar o celular, ficando o tempo todo checando se alguém ligou, mandou mensagens ou e-mails, sem contar as redes sociais.

Atualmente, nos restaurantes, é comum observarmos adolescentes que, mesmo sentados ao lado de seus pais, acabam por interagir apenas com seus fones de ouvido e celulares, imersos num mundo quase autista de redes sociais virtuais. Não é preciso dizer o quanto isso é prejudicial para as relações familiares, trocadas muitas vezes por um universo virtual que rouba a privacidade e o tempo que as pessoas teriam para se dedicar ao outro e a outras atividades sadias de lazer. Infelizmente, muitos adolescentes nunca tiveram a chance de experimentar viver sem o uso desses aparatos tecnológicos, devido ao fato de terem nascido e crescido dentro dessa cultura tecnológica na qual o computador (ou o IPAD), o celular e a televisão dividem o papel de protagonistas no entretenimento da criança e do adolescente.  
Há casos em que o pai sai de casa pela manhã, vai trabalhar, faz várias coisas e, quando volta, percebe que o filho continua diante do computador, na mesma posição que o havia visto pela última vez, quando saiu para trabalhar.

De qualquer forma, precisamos admitir que o avanço tecnológico nos proporcionou e ainda nos proporciona maravilhas e, considerando que não é mais possível voltar atrás, resta-nos apenas desfrutarmos de seus benefícios, porém com bom senso e sabedoria, lembrando sempre que as coisas mais belas e verdadeiras da vida vêm de coisas muito mais simples. Isso me faz lembrar de uma reportagem de alguns anos atrás em que a repórter se mostrou maravilhada ao ver uma multidão de crianças brincando com pipas na rua, mesmo possuindo videogames e computadores em casa. Ao perguntar para uma mãe sobre como explicar algo tão inusitado dentro do atual contexto tecnológico, a repórter ouviu a seguinte frase:
- As crianças de hoje e de antigamente gostam de soltar pipas porque, antes de mais nada, são as mesmas crianças em sua essência.

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