A chuva...

A chuva...

           A chuva cai torrencialmente e passa por minha janela! Os pássaros que cantavam alegremente desapareceram! As ruas ficaram vazias de gente e cheias de água!  Os ribeirões que sempre corriam tranquilamente afogaram-se com o volume de água atrevido que lhes inundaram o leito!  Os mendigos e andarilhos que eram vistos por quase todas esquinas, recolheram-se aos viadutos e aos estacionamentos  de edifícios comerciais e industriais!  Seus pertences que se alojavam em sacos de estopa ou de plásticos, viajaram com a enxurrada que tudo  carregava!  A água da chuva nunca lavou as calçadas tão bem lavadas quanto naquele dia! Um rio caíra do céu da ponta de um arco-íris  e corria rua abaixo como um trem descarrilado rumo ao infinito!  A ponte mal estruturada sobre o velho riacho antes sonolento, despediu-se de todos e de tudo e acompanhou a fúria das  águas!  Os capins alegres e alvissareiros que normalmente beijavam sossegadamente as águas tranquilas dos riachos tiveram seus lábios arrebentados, suas raízes estouradas e seguiram o caminho das águas! O velho transformador de energia elétrica, que há muito repousava à sombra de árvore gigantesca, teve seu poste destruído pela queda da grande árvore e foi soltar foguetes  no meio da rua  sobre a enxurrada  que passava! A luz que antes iluminava o caminho dos pedestres que por ali passavam, viajou com as águas e deixou em seu lugar uma profunda escuridão! Os guarda-ruas, mestres em trinar seus apitos para alertar os gatunos que eles tinham acabado de passar e que o caminho estava livre,  guardaram seus apitos e esconderam-se com eles em lugar silencioso e sem risco!  Um caminhão dos bombeiros, que mais parecia uma grande canoa singrando o rio que passava pela rua, rompia a imensidão do mar aberto para socorrer os desvalidos! A grande flamboaiã, que tantas vezes encantara a rua com suas maravilhosas flores, viu as flores, folhas e parte dos galhos rolarem rua abaixo,  impulsionados pela força arrebatadora  da enxurrada!

   A chuva continuou caindo! A enxurrada continuou correndo! A escuridão continuou dona do espaço. É uma noite de almas penadas, diriam os amantes de feitiços! Depois dessa chuva devem estar despenadas, diriam o brincalhões que só acreditavam na cerveja do fim de semana! É o ensaio para o novo dilúvio, pressagiava o velho padre Bartolomeu!

  Que noite, meu Deus! Sem me lembrar no padre Bartolomeu, juro que pensei na Arca de Noé se a chuva continuasse a cair! 

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