Contar carneirinhos...
"Conte carneirinhos quando for dormir e não tiver sono",
dizia minha querida mãe quando queria por-me para dormir.
Sempre tive mil sonhos, acordado ao esperar
por meu porvir!
Lá vem o primeiro carneirinho, tão apressado
que espanta a pombinha que me trazia o raminho da paz!
Ela voou e o carneirinho passou!
O segundo carneirinho distraído chegou
e a tábua que estancava as águas do riacho
que irrigavam as rosas amareladas
que perfumavam os meus sonhos, derrubou!!
O terceiro carneirinho chegou e abriu a porteira
que mantinha fechado
o meu sonho de poeta encantado!
O quarto carneirinho chegou,
aos meus ouvidos balou!
Encobriu o som da lira que embalava o meu encantamento
na quietude da noite, exatamente naquele momento!
O quinto carneirinho veio e ficou à frente da estrela-d'alva
que me enviava seus maravilhosos raios pelas frestas da janela
e fazia-me sonhar acordado com a beleza dela!
De repente um rebanho inteiro de carneirinhos correu, passou por mim,
encheu meus olhos de poeira e de lágrimas porque
já era quase meia noite e eu não conseguia dormir!
Ó Deus! Quantos carneirinhos haverei de contar
para no reino de Morfeu entrar?
Estaria enganada a minha mãe,
ou, como quase sempre,
enganado estaria eu?