Na areia...
Súbito na areia da praia ele vê o dia chegar! O sol nasce no começo do horizonte lá no fim do mundo! Fim ou começo? Quem é capaz de responder? Não importa! Ele aparece! Os primeiros raios vêm surfando sobre as ondas do mar que correm em direção à praia formando outros sois que correm brincando um ao lado do outro até a areia da praia, onde se apagam! Ele, notívago que ali passou a noite, abre os olhos sonolentos e vê os primeiros companheiros do dia: a primeira onda da manhã e o primeiro feixe de raios do sol! Que maravilha! Sente-se vivo! Ainda não foi desta vez! Tem um sorriso breve e irônico! Afinal de contas, quem ironizava?
A bola de fogo que não teve medo da água, emerge dela e apresenta-se como um todo! Como tanta água não consegue apagar aquela bolinha de fogo? Quantas vezes ele já fez essa pergunta e nem Deus lhe respondeu! Se Deus nunca lhe respondeu é porque a pergunta não era pergunta importante!
Certa vez ouviu dizer que os grandes símbolos da vida eram água, ar, fogo e terra! Sem eles a vida não existiria! Claro que isso é uma grande verdade, mas por que existem os contratempos? Como entender, se o ar provoca o vento, as tempestades, o fogo queima as matas e provoca vulcões, a água provoca enchentes e tsunamis e a terra se abre em buracos e acaba por destruir o corpo do homem?
Ele sentado, junta em torno das pernas magras e esguias, um grande monte de areia, um mundo de areia está aprisionado entre as suas pernas! Quantos grãos de areia ali estavam amontoados? Quanto seu pensamento poderia imaginar? Não importa, ele era o dono daquele mundo de areia por aqueles instantes! Afinal de contas era dono de alguma coisa, nem que fosse por poucos minutos!
Certo dia ouviu falar que a China tinha uma muralha que poucas pessoas sabiam a sua extensão! Quantas pedras foram colocadas naqueles quilômetros de muralha! Quantos homens nasceram durante a construção e quantos morreram! Quantos exércitos tentaram transpô-la e não conseguiram! Quantos! Mais do que aqueles grãos de areia que acumulava entre as pernas? Mais do que ele poderia imaginar? A que distância chegaria o seu pensamento? Quanto poderia imaginar?
Levanta-se! O mar, grande gigante Adamastor, ruge sobre as rochas que encontra em seu caminho! Ondas bipartem-se, tripartem-se, procuram outros caminhos, voltam aos mesmos! Para aonde vai o mar, que caminha, caminha e sempre fica no mesmo lugar!
Ele ajoelha-se na areia e faz reverência ao mar, ao deus mar, cujas ondas embalam seu sono e irrigam seus sonhos! Levanta-se e sai andando! A areia massageia-lhe os pés, as pernas, a visão, o pensamento!
Ora ou outra a espuma das ondas vem beijar-lhe os pés e apagar-lhes os rastros! Ele continua caminhando! Para aonde vai? Ninguém sabe! O que importa saber para aonde vai um ser tão pequeno, minguado de corpo e de mente? Nem ele sabe! Para que saber se nem se sabe para aonde vai o mar?