O engenho
Chico pinga não tinha esse apelido à toa! Bebia como um gambá, como diziam os vizinhos, brigava com a família e os vizinhos. Já havia consultado muitos médicos, farmacêuticos, sessões espíritas, candomblés e curandeiros, passou por várias igrejas evangélicas e no final ficou amigo do padre que o recebeu com muito carinho e com a ilusão de que o livraria da bebida, mas a bebida continuava. Chico passou a frequentar a igreja e até se confessava com o padre regularmente. Às vezes ficava uma semana sem beber, depois bebia duas e ia confessar-se com o padre. As confissões sempre falavam sobre a embriaguês e as brigas. O padre dizia-lhe que dos pecados feitos estava perdoado, mas nunca mais deveria repeti-los. Chico concordava com o padre, mas sempre se esquecia da segunda parte da conversa. Voltava a se embriagar e a brigar.
- Padre bebi demais e briguei com a minha mulher.
- Beber é um grande pecado, mas brigar com a mulher é maior ainda! Vá! Está perdoado desse pecado, mas não repita!
- Padre eu bebi demais e briguei com o meu filho que foi buscar-me no engenho!
- Já lhe disse que beber é pecado! Brigar com o filho é pior. Vá e não beba mais, nem brigue com ninguém!
- Padre bebi muito, escorreguei, caí sobre o braço e tive uma fratura! Acho que Deus começou a me castigar! Peço perdão!
- Está perdoado, mas Deus o proíbe de beber mais.
- Padre bebi, briguei com o vizinho e fui preso! Tenho certeza de que Deus, definitivamente passou a me castigar!
- Não foi Deus não! Quem o castigou foi o delegado. Vê se serve de lição e não bebe mais!
Chico era frequentador de um engenho de fabricação de águardente que estava a dois quarteirões de sua casa. O padre exigiu que ele nem olhasse para o lado do engenho, pedido tão inútil quanto pedir para político corrupto não pegar propina no Brasil!
Dez dias depois Chico vai à igreja e faz nova confissão:
- Padre, acho que desta vez o pecado foi muito maior! Não sei se o senhor poderá me perdoar!
- O que aconteceu?
- Eu fiquei sócio do engenho de pinga...