O que havia naquele sótão?

O que havia naquele sótão?

       A casa de meu primo e amigo de infância era grande.  Fora construída em terreno imenso e o quintal dava para a outra rua! Que gramado verde havia naquele quintal! Era um verdadeiro campo de futebol. Do quintal víamos a pequena janela do sótão.  Que haveria naquele sótão? Tínhamos uma curiosidade imensa para sabermos o que estaria lá dentro, guardado  a sete chaves! Para nós eram mais de sete, mas, na verdade, havia apenas uma fechadura. Quando tocávamos no assunto na hora do lanche, a resposta era sempre a mesma: "sótão não é lugar de criança!"  Da sala principal saía um corredor que lá no fundo tinha  uma escada estreita de madeira que levava ao sótão. Quantas vezes brincamos na sala, no corredor e subimos pela pequena escada para olhar pelo orifício da fechadura! O buraco da fechadura parecia um funil e não mostrava nada. Alguma coisa misteriosa deve haver dentro desse sótão, dizíamos um para o outro! A nossa curiosidade aumentava á medida que o nosso esticava pelo orifício da fechadura! Que haveria lá dentro, de tão proibitivo para estar fechado há tantos anos? A nossa curiosidade aumentava à medida que a proibição continuava! Que haveria lá, de tão perigoso? Facas, espadas, armas de fogo, bombas que poderiam explodir a qualquer momento?  Barras de prata, de ouro?  Um livro de registro das todos os crimes provocadas pelos ancestrais de nossos parentes?

Retratos  antigos cujas pessoas saiam dos quadros e vinham conversar na sala enquanto a família dormia? Um cadáver seco de uma pessoa que há muitos anos fora enforcado por seus tetra avôs e não poderia ser visto por ninguém? Seus parentes eram criminosos e teriam provocado tal deprimente  crime, escondendo os ossos há mais de cem anos?

     Onde  estaria  a chave de tão importante fechadura?  Teríamos de achá-la custasse o que custasse. Estaria no fundo de algum armário, atrás do forno de assar pães, atrás do tanque de lavar roupas, dependurada em um prego grudado na vigota do forro? Muitas chaves foram encontradas, mas nenhuma entrava na fechadura! A cada decepção, o ânimo de procurar nova chave, aumentava!

Inventaram até o nome de  prêmio que o descobridor da chave ganharia: "rei da sabedoria!"  Dias, meses se passaram e o futuro "rei da sabedoria" não ganhou o seu prêmio!

Certo dia, ouvimos minha tia dizer para a empregada que iria abrir o sótão para fazer limpeza geral!  Nossos olhos quase saltaram de nossa face!  Enfim chegara o dia! Eureka! Iríamos saber o que o sótão escondia! Minha tia retirou a chave de m pequeno chaveiro que tinha dentro da bolsa e subiu a escada do sótão! Nossa respiração ficou presa, mas nossos olhos subiram junto dela! Ela abriu a porta do sótão!  Corremos e subimos a escada! Queríamos ver as facas, as espadas, as armas de fogo, as bombas que poderiam explodir a qualquer momento! Ah! As barras de ouro e de prata! O livro que registrava os crimes da família!  Os retratos que deixavam os quadros das paredes e iam conversar na sala durante as madrugadas! O cadáver seco do inimigo do  tetra avô que lá o deixara dependurado!

    A porta estava um pouco emperrada, abriu com um grande empurrão de minha tia e da empregada! Corremos para dentro do sótão entre minha tia e a empregada. Que decepção!  Ferramentas velhas e enferrujadas e a janelinha pregada com uma tábua por dentro para nunca ser aberta! Com certeza, nem os nossos fantasmas conseguiriam abri-la!

   Descemos a escada estreita do sótão! Não era aquele sótão que nós  queríamos ver!

 

 

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