O último apito do trem

O último apito do trem

 

     Ele trabalhava em uma estação de trens em uma pequena cidade do interior. A estação ficava a cerca de 500 metros das últimas casas da cidade. Ele tinha pelo trabalho dedicação exclusiva.  A estação e o trem eram o motivo de continuar vivendo. Dava a vida por eles.  Em tempo algum pensou em deixar o trabalho. Recebia e despachava o trem que tanto amava, além dos serviços de recebimento e despacho de encomendas. Trabalhava de bom humor e todos conheciam o seu sorriso largo.  Gostava da convivência com as pessoas da cidade e sempre fazia amizade com as que por lá passavam. O trem era o único meio de transporte da pequena cidade. Pela manhã, tomava café, pegava a pasta com alguns documentos da estação e ia para o trabalho.  Chegava cedo. Abria o sorriso largo, quando pela manhã ouvia o apito do trem e começava a ouvir o barulho das rodas sobre os trilhos. Costumava dizer que o apito do trem era o despertador da cidade. Era possante, agudo e repetido por três vezes. A velha maria-fumaça  fazia a subida com garbo e altivez. Ele sentia-se orgulhoso ao vê-la chegar e parar junto à plataforma da estação. Gostava tanto da estação e do trem que os amigos o chamavam de dono da estação e do trem. Ele sorria! Nunca pensou em aposentar-se. Trabalharia enquanto tivesse força para fazê-lo!

    Certo dia levou um choque ao receber da direção da ferrovia, comunicado informando que o trem não viria todos os dias. Passaria três vezes por semana! Ele havia notado que ônibus e caminhões começavam a circular pelas estradas e pela cidade e que o trem havia tido grande perda de função. Tentou adaptar-se ao novo tempo do trem, mas a tristeza passou a dominar o seu coração!

   Depois de algum tempo recebeu a informação definitiva: o trem deixaria  de trafegar.  Que desilusão! O choque foi maior que o primeiro!  Depois desse dia, o sorriso desapareceu completamente de seus lábios! O dia da última viagem do  trem foi estabelecido! Que infelicidade! O trem viria com um dos chefes da ferrovia para cumprimentá-lo, agradecer pelos serviços prestados e despedir-se dele!

    Naquele dia ele chegou mais cedo à estação! Ao ouvir o apito do trem, correu para a plataforma!  O trem foi chegando! A locomotiva pareceu-lhe alquebrada e triste! O apito pareceu-lhe rouco e a fumaça pareceu-lhe mais compacta que de costume. A locomotiva  parou! Ele correu para ela como se quisesse abraçá-la, beijá-la, despedir-se dela!

   A autoridade desceu de um dos vagões e veio na direção dele!  Ele tentou sorrir e ser gentil,  mas a tristeza o impediu de fazer qualquer tipo de satisfação!

   Os minutos passaram rapidamente! O trem soltou o primeiro apito! A seguir, o segundo e por fim, o último! A locomotiva soltou a fumaça mais escura! Estaria de luto? O trem foi saindo vagarosamente! O maquinista, ao ver que o último vagão deixava a estação soltou mais um apito de despedida! Lágrimas inundaram o rosto do chefe da estação ao ouvir o último apito!

   Passado algum tempo, a estação foi demolida, os trilhos e dormentes foram arrancados e transportados.

   O chefe da estação presenciou a tudo, com lágrimas nos olhos! Eles acabavam de sepultar o grande amor de sua vida...

 

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