Quem era ele?

Quem era ele?

                Ele estava sentado em uma banqueta à entrada da cidade, perto de uma escola que o Estado acabara de fechar. A árvore que protegia a banqueta estava desfolhada pelas tempestades de verão que caminhava no mês quente de dezembro. Crianças e pais faziam protesto à porta da escola tentando a reabertura da mesma que fora fechada, segundo a direção, por falta de condições de funcionamento.

                Ele parecia não tomar conhecimento dos protestos das crianças e dos adultos que estavam à frente da escola, na rua sem calçamento, sem sarjeta, sem passeio. Estava triste!  Seu semblante amargurado parecia esconder todos os sonhos que tivera, mas que foram, dispersados com o passar do tempo. Calça desbotada com alguns rasgos, camisa sem botões, chapéu aparentemente novo, mas com muitas marcas de nódoas que ele não conseguira evitar, botinas gastas cujo solado ainda parecia bom, mas o couro estava carcomido pelas intempéries dos tempos e das estradas. Estava quieto diante da turba que o rodeava à porta da escola!Não era cego nem surdo, não falava, não  reagia, apenas escutava a manifestação popular, cujo desagravo crescia a cada hora que passava.

              A turba estava a fim de derrubar a cerca da escola quando um jovem de boa aparência, calmo e  respeitador apareceu. O velho sentado na banqueta debaixo da árvore , apreensivo com aquela barulheira, colocou as duas mãos espalmadas sobre os ouvidos. Com certeza sofria com aquela manifestação barulhenta que impedia o trânsito pela rua empoeirada e sem calçamento. O jovem passou pelo velho sentado, cumprimentou-o com respeito e perguntou-lhe se precisava de alguma coisa.

               -Preciso de muita coisa, meu caro jovem!

               -Posso ajudá-lo?

               -Não sei! Você é tão jovem!

               -Do que precisa?

               -Em primeiro lugar parar com essa barulheira, em seguida, não deixar fechar escolas por falta de verbas. Estou desempregado e a minha saúde está abalada! O Posto de Saúde da cidade está abarrotado e eu não pude consultar! Várias tentativas que fiz em minha vida não levaram a nada. Continuo sofrendo porque vejo meus irmãos sofrendo, minha família sem emprego, não posso pagar aluguel, perdi a minha casa, que adquiri com grande esforço. Ao perder o emprego, fiquei desamparado! Quando ouço notícias no rádio e na televisão fico estarrecido ao ouvi-las! Chego a não acreditar que brasileiros  filhos desta terra tão maravilhosa chegaram a praticar atos tão traiçoeiros e desonestos como os que praticaram.

               -O senhor tem razão! Os brasileiros estão perdidos diante de tanta barbárie.

             -Se ao menos um brasileiro se revoltasse contra tanta maldade, creio que acenderia uma chama para iluminar o povo que vive na escuridão!

            O moço deixou o velho senhor esfarrapado, que na verdade não parecia ser tão velho e caminhou na direção da turba que fazia barulho no meio da rua. Deu três passos e voltou.

            -Eu gostaria de saber o seu nome.

            - O meu nome?

            -Sim! O seu nome!

            -O velho levantou a aba do chapéu surrado, olhou fixamente nos olhos do jovem e disse-lhe: o meu nome é Brasil.

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