Seria " homem" até morrer

Seria " homem" até morrer

 

Pedrinho foi um menino criado na roça, filho de pais analfabetos, que perdeu a mãe ao seu nascimento. Foi criado com o pai e duas irmãs mais velhas. Apesar do carinho do pai e das irmãs era um solitário que gostava de ouvir histórias dos meninos mais velhos e dos vizinhos adultos. Desde seus primeiros dias de entendimento ouviu falar que os meninos não podiam passar por baixo do arco-íris porque  "viravam mulher" se o fizessem. De tanto ouvir falar, acabou ficando amedrontado e em dias de arco-íris não saía de casa. Apesar de achar o arco-íris muito lindo, tinha medo dele. Para azar dele a casa do sítio onde morava estava ao lado de um regato onde o arco-íris costumava  "beber água", como dizia a molecada da região! Para sua sorte o arco-íris ficava do outro lado do riacho e nunca em cima da casa do sítio!

    Estava passando da hora de estudar até que por insistência das irmãs foi matriculado na escola rural da fazenda vizinha. Para ir à escola tinha que passar sobre a ponte no riacho vizinho de sua casa. Apesar da resistência inicial de matricular-se na escola, com o passar dos  dias habitou-se e já ia e vinha sem nenhuma consternação. Certo dia, ao voltar da escola começou a cair um leve chuvisqueiro. Ficou apavorado quando, de longe viu que o arco-íris estava "bebendo"  água no riacho e ele tinha de passar por baixo dele para ir para a sua casa. Apalpou os genitais e viu que era menino!    Resolveu esperar! Sentou-se em uma pedra à beira da estrada e esperou a chuva passar e o arco-íris acabar de beber água. Que bom! Ele já bebeu água e foi embora, disse Pedrinho para os seus botões! Pegou a bolsa e saiu correndo estrada abaixo com medo que o arco-íris voltasse a aparecer! Ufa! disse ao entrar correndo pela porta! acho que deu tempo! Ao olhar para trás viu que o arco-íris estava lá!

As irmãs, vendo-o resfolegar perguntaram-lhe. Ué, você perdeu o medo do arco-íris?  Eu passei correndo quando ele cansou de beber água e foi embora! Eu acho que ele te enganou! Ele apenas se escondeu atrás de uma nuvem para te ver, mas ele estava lá! Pedrinho petrificou-se! Ele acabara de ver que o arco-íris estava lá! Depois de soltar as mãos  e os pés amarrados pelo medo, correu para o quarto, abaixou a calça e viu que ainda era "homem"  Puxa! Ainda bem que ele não me viu! Voltou sorrindo do quarto!  A irmã brincalhona não se deu por vencida e disse-lhe que a transformação não era de repente, ela era feita lentamente, demoraria alguns dias para se completar a troca. As irmãs, vendo o semblante de Pedrinho,  abraçaram-no  e disseram-lhe que era tudo brincadeira e essa história de virar mulher era conversa fiada do povo. Pedrinho sorriu, mas o sorriso era desbotado! Acreditou não acreditando!  Dois dias depois, ele começou a sentir uma coceira terrível no saco escrotal! Que seria aquilo? Início da transformação? O saco estava meio inchado e dolorido! A cada hora aumentava a coceira e o desespero de Pedrinho! Estava perdido! O saco iria cair! Ele se transformaria em mulher! Que azar! Por que não esperou o sol aparecer e levar o arco-íris?

  O pai, vendo o desespero do filho, ao observar que ele não tirava as mãos dos genitais, quis saber o que estava acontecendo. Pedrinho desandou a chorar e contou o que havia acontecido. O pai, vendo a grande inflamação no saco escrotal de Pedrinho, correu com ele para o farmacêutico do arraial!

  - Isso não é nada, disse o velho farmacêutico! Jogue este pozinho no saco, todos os dias após o banho e você ficará bom em poucos dias! Você está atacado por um carrapatinho muito pequeno chamado carrapato-pólvora! Algumas pessoas o chamam de micuim!

  - Ele não vai se transformar em mulher? Perguntou o pai sorrindo.

  - Não! Ele nasceu homem e vai morrer homem! Não precisa ter medo de arco-íris, disse o farmacêutico ao passar a mão sobre a cabeça de Pedrinho!

  Que felicidade! Pedrinho acabara de ouvir a melhor notícia que escutara em  sua vida? Seria "homem" até morrer!

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