A Síndrome de Rejeição  à velhice

A Síndrome de Rejeição à velhice

 

 

        Nos quase  50 anos de profissão médica, trabalhando na especialidade de Ortopedia e Traumatologia venho acompanhando o desenrolar da medicina e o grande sucesso dela, no eterno trabalho de tentar  aumentar a vida. Não há dúvida quanto ao benefício trazido e ao sucesso alcançado para os pacientes idosos: o idoso vive mais feliz, com mais qualidade de vida, com menos sofrimento, enfim, vive melhor. Apesar disso, venho observando nestes últimos anos, um fato que poderíamos chamar de Síndrome de Rejeição à Velhice. Como ortopedista tenho visto que as artroses dos joelhos, dos quadris e da coluna que, como todos nós sabemos, são doenças comuns na velhice, estão aumentando em número e se tornando mais graves, porque os idosos estão vivendo mais. O tratamento médico e fisioterápico avançou muito, a prática de exercícios e dos esportes, também, o sorriso que era escasso no rosto dos idosos voltou a aparecer, as viagens, hoje muito mais facilitadas, estão sendo  realizadas, e os idosos deveriam estar felizes na unanimidade. Isto, entretanto, não é real. Tenho dentro do meu consultório e da minha amizade, muitos idosos infelizes e “doentes”. São idosos de bom poder aquisitivo, ou não, que vivem no seio da família, ou não, que tiveram boa saúde até a velhice, ou não, mas têm uma característica em comum: são infelizes, não aceitam a velhice. Estudando cada um dos casos, fui anotando as minhas observações do dia a dia e hoje me arrisco a chamar esse comportamento anômalo do idoso, de “Síndrome de rejeição à velhice”.  Vamos descrevê-la.

        Com o passar do tempo o idoso vai ficando nervoso, um pouco desobediente e teimoso, com ares de dar pouca importância aos que o cercam, diminui o diálogo com os familiares e amigos, e tende ao isolamento. Vai ficando triste e passa a deixar de fazer algumas coisas das quais gostava de fazer no seu passado, tais como pintar, ler, desenhar, jogar baralho, fazer trabalhos manuais. Além disso, passa a deixar de lado o seu programa preferido de televisão, deixa de ingerir certos alimentos de que gostava antes etc. Alguns começam a ter dificuldade de deglutição e de falar palavras mais complexas. Outros começam a ter dificuldade na deambulação, e aquele passeio matinal recomendado pelo médico  é deixado para mais tarde, não é realizado. Com o passar do tempo, acomodam-se em uma cadeira de rodas, após passarem por uma bengala, que é seguida por um  andador. Esse tempo pode variar de um paciente para outro, mas, se a vida continua, quase todos vão ficar retidos na cama. Nota-se que durante esse período que começa no nervosismo aumentado, e termina no estágio de ficar acamado, todo o trabalho feito com esses pacientes, é praticamente nulo. O tempo maior, ou menor, de tratamento, modifica pouco o quadro clínico. Os idosos acabam por ficar internados num hospital, alguns na UTI, e terminam por morrer silenciosamente, numa clara rejeição à velhice que deles tomou conta. Nós idosos, que já passamos dos sessenta, alguns, mais de setenta, devemos ficar alertas contra essa síndrome de rejeição à velhice. Do ponto de vista físico não adianta pegar em espada contra  a velhice porque ela certamente  não nos vai  dar grande atenção! Ela continuará firme nos seus passos, que a cada dia, parecerão mais largos, e nós, cada vez mais velhos. Mesmo assim, devemos lutar contra ela! Se o nosso corpo físico não consegue nenhuma vitória, o psicológico, certamente terá grande benefício. Já disseram que o espírito não envelhece porque ele é eterno. O espírito, a alma, a mente, seja qual for o nome que lhe dermos, vai manter dentro de nós aquela centelha de esperança  que nos alegra e que nos faz não dar muita importância ao espelho. Sabemos que o espelho é o pior inimigo do velho! Apesar disso, não devemos quebrar os nossos espelhos! Muitas vezes eles são relíquias de família e devem ser conservados para a posteridade! São eles, também o baú guardador das lembranças  da nossa juventude, mas algumas vezes nos trazem um sentimento de rancor com o tempo que aos poucos nos vai ceifando a vida! Bem, caros amigos, acho que no Grupo de Médicos Escritores e Amigos Dr. Carlos Roberto Caliento, a tal síndrome não está presente    e certamente estamos lutando diariamente contra ela. Vamos em frente! Contra a amizade, a vontade de viver e a escrita nossa de cada dia, nenhum mal  triunfará!

 

 

                                                                               

 

                                                        

Compartilhar: