A vida dos rios e dos homens

A vida dos rios e dos homens

 

      A vida dos homens é um rio que passa...  Há tempo de seca e  tempo de águas...

      Os rios podem ser grandes ou pequenos... Os grandes são como os reis das grandes nações que recebem tudo de graça de seus milhares de súditos. Nada precisam fazer para manter o poder, a majestade! São soberbos e imponentes! Recebem subsídios em abundância! Conduzem barcos e sentimentos soberanos com  orgulho! No tempo de águas tornam-se algozes, verdadeiros Herodes à caça das criancinhas! A fúria deles destrói casas, estradas, pontes e muitas esperanças! São absolutos!

      Os rios pequenos são pobres trabalhadores que humildemente procuram o caminho desviando-se das grandes pedras, dos grandes troncos de árvores, dos grandes atoleiros. São fracos,  pequenos e, muitas vezes, lhes faltam alimento para continuar a caminhada. Uma seca prolongada pode-lhes diminuir o viço, diminuir-lhes a alegria e, até acabar com a frágil vida. que carregam dentro de seus leitos, como peixes e outros animais que deles dependem para viver!  Os seus gritos são pouco sonoros e, até as plantas ribeirinhas podem lhes cobrar as prometidas intenções de lhes fornecer água em abundância para poderem sobreviver! Os capins que o cercam e que deixam seus ramos compridos  nadar sobre as águas reluzentes ao sol de verão para enfeitá-los, poderão lhes cobrar o antigo viço da época das grandes águas!  Eles nada poderão fazer para contentá-los e terão de fazer grandes esforços para continuar a manter a água que da vida por onde passa!  

        Na seca, o rio pequeno fica solitário e triste! Tão solitário e triste que suas águas assemelham-se a lágrimas de um choro inútil, nas madrugadas insones da época do inverno. No tempo da abundância das águas alegra-se um pouco, mas nunca passa dos troncos de árvores, das pedras adormecidas ao seu lado, dos barrancos que marcam o seu leito e que não lhes dão oportunidade para avançar para fora dele! Os rios pequenos são os indigentes que pedem ajuda  ao orvalho escasso das noites de inverno que os fazem encolher de frio, mas que poderá ajudá-los a não morrer de sede.

      Os grandes esbanjam poder e glória porque nas suas longas caminhadas sempre passam por lugares onde a chuva não falta e sempre há centenas de súditos para lhes fornecer água!

      Os  homens são como os rios!  Uns são pequenos e pobres, trabalham dia e noite para poder sobreviver!   São sempre súditos dos poderosos!   Como sofrem ao longo de suas caminhadas quando lhes falta a água, isto é, o trabalho para continuarem a  missão de manter  a vida! Quantas vezes perdem os peixes, isto é, os sonhos que carregam dentro do peito, a  vegetação ribeirinha, isto é, os amigos que os cumprimentam e os estimulam na  caminhada, na seca da vida, isto é, na diminuição do trabalho e do ganho  material e psicológico do qual dependem para continuar a luta do dia a dia!

Outros homens são grandes, e de nada precisam! Tudo lhes vem cair no colo sem grandes esforços! Vivem como os grandes rios, apenas colhendo a colaboração dos seus milhares de súditos. Quando recebem colaboração exagerada, sufocam os pequenos,  impedindo que eles desenvolvam o próprio trabalho! Quando angariam fortuna e poder, esquecem-se daqueles pobres que fizeram a escada para que eles pudessem subir! Agora já não se lembram dos que construíram a escada, nem da própria escada porque agora voam como o condor a centenas de metros acima dos que ainda continuam a fazer tijolos e massa para a subida de outros não menos bajuladores e mestres em enganar os desavisados.

       Assim são os rios... Assim são os homens...

 

 

    

  

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