Exercício Físico & Autismo – Obesidade

Exercício Físico & Autismo – Obesidade

      Olá, leitores!

      O assunto desta semana envolve Obesidade no contexto da prática de exercícios físicos por pessoas com autismo. Para falar sobre este assunto eu convidei um grande amigo e colega de estudos e profissão, o Prof. Dr. Jonas Gamba. Atualmente nós trabalhamos juntos em uma Consultoria na área de Exercício Físico e já aproveito a ocasião para agradecê-lo pela sua contribuição neste blog. Tenho certeza que irão gostar. Aproveitem...

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      Quando o assunto é qualidade de vida, as questões sobre o aumento do índice de obesidade são prontamente colocadas em pauta. E não é à toa. A obesidade está relacionada a diversos problemas que podem acarretar prejuízos para a saúde do indivíduo - e que vão além da preocupação estética. Na maior parte dos casos, a obesidade é consequência do aumento da ingestão calórica ou do decréscimo do gasto energético (ou ambos) e, uma vez que se observa um aumento no índice de obesidade na população adulta, não causa espanto que o mesmo ocorra na população infantil. Especificamente, veremos como crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) estão inseridas nesse contexto.

      Um artigo recente de Srinivasan, Pescatello e Bhat (2014) relata o crescimento do índice de obesidade infantil (geralmente aferido pelo Índice de Massa Corporal) e descreve como as características do TEA relacionam-se com esse quadro. Primeiramente, observa-se que crianças e adolescentes com TEA encontram-se menos engajados em programas de exercício físico e essa limitação pode ser atribuída a dificuldades encontradas nas áreas motora, sensorial e social. Além disso, indivíduos com TEA podem apresentar um padrão alimentar restrito (inflexibilidade alimentar), priorizando alimentos altamente calóricos. Outra variável importante é o uso de medicação que, em longo prazo, pode contribuir para o ganho de peso, somado ao fato de que indivíduos com TEA podem apresentar disfunções metabólicas e hormonais associadas com a obesidade. Por fim, alguns indivíduos com TEA, principalmente os que apresentam um maior déficit cognitivo, podem não discriminar os riscos associados com a obesidade.

      Assim como sabemos dos riscos que a obesidade pode acarretar em nossas vidas, sabemos também que o exercício físico é uma das melhores armas para combatê-la. Vejamos agora, em linhas gerais, algumas recomendações feitas pelos autores acima citados para a condução de programas de exercício físico para indivíduos com TEA (a referência completa encontra-se no final do texto). Em primeiro lugar, devemos nos atentar para a estruturação do ambiente em que a atividade será conduzida (estrutura consistente, bem demarcada e limitada no espaço, facilitando um maior foco na atividade por parte dos praticantes e aumentando a probabilidade do engajamento na atividade). Outras orientações envolvem a interação do profissional com o praticante, como, por exemplo, a utilização de instruções breves e precisas, a combinação de dicas vocais e visuais, reforçamento, aferimento de algumas medidas fisiológicas que podem ser alteradas por conta de medicações, fornecer intervalos para evitar demandas excessivas, utilizar equipamentos adaptados, entre outros.

      É importante também que estejamos atentos para não conduzir um programa de exercício físico simplesmente para proporcionar lazer ou entretenimento aos indivíduos. Obviamente, atividades que os indivíduos avaliem como prazerosas podem aumentar as chances de adesão ao programa, mas isso não quer dizer que não devemos nos preocupar em melhorar as aptidões físicas necessárias para uma melhor qualidade de vida. Se considerarmos a obesidade, por exemplo, sabemos que não é qualquer programa de exercício físico que proporcionará uma diminuição dos riscos que ela acarreta. Mesmo que, a princípio, a simples presença do indivíduo no local da atividade possa ser considerada um avanço, deve-se planejar uma série progressiva de atividades de participação (1:1; 1:2; 1:3 até grupos maiores – conforme abordado neste blog dia 09/05) de tal forma a possibilitar sucessivas aproximações de um contexto de prática condizente com aquilo que é necessário para que os benefícios do exercício físico sejam alcançados.

Referência:
Srinivasan, S. M.; Pescatello, L. S.; & Bhat, A. N. (2014). Current perspectives on physical activity and exercise recommendations for children and adolescents with autism spectrum disorders. Physical Therapy, 94 (875-889).

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      Quem quiser saber um pouquinho sobre o que o Prof. Dr. Jonas Gamba atualmente estuda, pesquisa e atua, espiem: https://lattes.cnpq.br/2272473540657147

      Na semana que vem o assunto envolverá Habilidades Motoras e Desempenho Esportivo. Até lá!

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