Exercício Físico & Autismo – Redução de Estereotipia (Parte 2)

Exercício Físico & Autismo – Redução de Estereotipia (Parte 2)

        Olá, amigxs!

        Hoje retomamos o assunto “Exercício Físico, Autismo e Redução de Estereotipia”. Aos leitores que tiverem dúvidas sobre o que se refere essa não tal “estereotipia” e sobre o que isso tem a ver com “Autismo”, eu sugiro que leia a Parte 1 deste tema (https://www.revide.com.br/blog/paulo-chereguini/exercicio-fisico-autismo-reducao-de-estereotipia-p/) antes de continuar a leitura aqui.

        Lembro que já foram discutidas algumas das principais falhas/lacunas nos estudos científicos sobre essa temática, cujos resultados divulgados a partir de “médias” possibilitam elevar ao status de “profissionalismo” determinadas atuações mostradas e vendidas na mídia como bem sucedidas. Resultados apresentados a partir de médias possibilitam “esconder” justamente as informações que mais nos interessam no âmbito da Educação Inclusiva: as que indicam insucesso em ensinar certas habilidades aos participantes que não aprendem mediante intervenções padronizadas e normalizadoras. Estes participantes que não aprendem a partir de intervenções (técnicas ou estratégias) padronizadas são exatamente os acabam necessitando de atenção especial e que, por este motivo, são os mais beneficiados com a abordagem científica que finalizei o texto recomendando, a única comprovadamente eficaz para este fim: a Análise do Comportamento Aplicada – ABA.

       Deixemos por instante estas questões éticas para outra oportunidade e voltemo-nos às orientações para prescrição de exercícios físicos e a redução de comportamentos estereotipados. ;)

       Em termos de contextos de atuação e de pesquisa, existem pelo menos dois campos possíveis: A. Prática de exercícios físicos, considerando a ocorrência de estereotipias e; B. Prática de exercícios físicos objetivando a redução da estereotipia. Explicarei melhor cada um destes campos. Hoje eu falarei do campo de atuação “A” e o texto sobre o campo de atuação “B” estará disponível sábado que vem, dia 20 de Junho (Parte 3).

       Importante: embora eu apresente um recorte de orientações gerais que acredito serem úteis e esclarecedoras aos alunos, profissionais, pais de pessoas com autismo e demais interessados na área, cada condição de atendimento requer uma análise particular e, para tanto, informações adicionais devem ser consideradas.

A. Prática de exercícios físicos, considerando a ocorrência de estereotipias:

            * Tem-se como objetivo primário a adesão à prática de exercícios físicos, no que diz respeito aos benefícios para emagrecimento, desenvolvimento das capacidades físicas e das habilidades motoras, e para tanto, procura-se controlar a ocorrência de estereotipias que incompatibilizem a realização dos exercícios;
           
            * No âmbito das pesquisas, a prática propriamente dita dos exercícios físicos ou a sua adesão é a variável dependente. Em outras palavras: é o comportamento alvo que se pretende aumentar a probabilidade de ocorrência;

            * Neste campo de atuação, que geralmente possibilita participação em grupos maiores e em esportes individuais e coletivos, se tomadas algumas medidas preventivas, as possíveis ocorrências das estereotipias não comprometem significativamente o aprendizado;

            * Entende-se então por medidas preventivas justamente este conjunto de situações que devem ser manipuladas (controladas) no ambiente de prática a fim de diminuir a probabilidade de ocorrência de estereotipias, tais como:
                         # Assim que o praticante ingressa em um novo ambiente ou atividade, fornecer um contexto com rotina previsível e programada;
                         # Na programação da rotina, evite a ocorrência de tempo livre, ou seja, “sem atividade específica para fazer”. A ociosidade aumenta as chances de desencadear estereotipias;
                         # Apresente instruções orais objetivas, curtas e garanta sempre o contato visual recíproco antes da instrução;
                         # Se um praticante começa a gritar e/ou chorar, em grau de intensidade incompatível com a prática, o professor deve fornecer imediatamente uma pausa. O aluno deve então ser retirado do ambiente de prática até que seja reduzida a estereotipia e, logo em seguida, ele deve voltar para a prática;
                         # Os colegas da turma de prática devem ser previamente ensinados a não darem atenção com risos, críticas ou broncas, contato físico e nem mesmo contato visual permanente quando as estereotipias ocorrerem.

            * As modalidades mais comumente relatadas neste campo de atuação são: natação, hidroginástica, caminhada, corrida, ciclismo, futebol e recreação, mas há também evidências de prática em musculação e esportes radicais;

            * Dois estudos publicados em 2011 (Nicholson e colaboradores e; Oriel e colaboradores - ver estas referências no final do texto) mostraram que o tempo gasto de engajamento em exercícios físicos, que também podem ser realizados em ambiente escolar, está positivamente correlacionado com o subsequente engajamento bem sucedido em atividades acadêmicas e com a redução em médio prazo dos comportamentos estereotipados;

            * Considerando dados de pesquisas que mostram que o engajamento de pessoas com autismo é consideravelmente menor e menos frequente, especialmente em exercícios mais vigorosos, sustentados e com ênfase neuromuscular (os chamados treinos funcionais), quando comparado com o de pessoas com desenvolvimento típico (sem deficiência), vê-se claramente aí um nicho de mercado pouquíssimo explorado e com alto potencial de suce$$o;

            * Por conta das dificuldades que os profissionais têm tipo na atualidade para adequar essas medidas preventivas à prescrição de exercícios físicos e de esportes, eu recomendo que eles aprendam noções básicas sobre os princípios da Análise do Comportamento (especialmente sobre controle de estímulos, análise funcional, estabelecimento de metas e reforçamento diferencial) ou, pelo menos, que sejam supervisionados por um especialista desta área. Sugestão LINDA de especialização, em Ribeirão Preto/SP, com inscrições abertas: https://acaoinclusiva.com.br/crbst_5.html


B. Prática de exercícios físicos objetivando a redução da estereotipia: O texto novo estará disponível daqui alguns dias.

        Espero que tenham gostado do texto. A parte que está por vir é ainda mais fascinante!

        Comentários e críticas são sempre bem vindos e aguardados, amigxs!

        Abraços!!!
        (https://www.facebook.com/modeloexerciencia/)

Referências recomendadas:

Nicholson, H. K.; Bray, T. J.; Heest, M. A.; & Van, J. (2011). The effects of antecedent physical activity on the academic engagement in young children with autism spectrum disorder. Psychology in the Schools, 48; 198-213.

Oriel, K. N.; George, C. L.; Peckus, R.; & Semon, A. (2011). The effects of aerobic exercise on academic engagement in young children with autism spectrum disorder. Pediatric Physical Therapy, 23; 198-193.

Compartilhar: