Da empatia à validação dos sentimentos

Da empatia à validação dos sentimentos

Para continuar as publicações sobre o tema de família, pensei de "conversarmos" hoje sobre algo que tenho percebido bastante nas famílias com que convivo, tanto no consultório quanto na minha vida privada. Há uma atitude que parece muito simples, até às vezes subvalorizada por nós, mas que se colocada em prática tem um valor imenso. Este ato que hoje gostaria de chamar a atenção é o de validar sentimentos! O que será isso? Vocês sabem?

A validação de sentimentos é a habilidade de legitimar e fazer com que se torne válido e reconhecido o que sentimos e também o que o outro com quem nos relacionamos sente! Por meio da validação podemos demonstrar que nos importamos profundamente com quem se encontra em sofrimento. Portanto, esta é uma habilidade que tem o potencial de aproximar pessoas, estabelecer e fortalecer vínculos e ajudar uns aos outros a se compreenderem melhor.

Quando conseguimos validar os sentimentos de alguém, há a possibilidade desta pessoa sentir-se realmente ouvida, acolhida e compreendida em sua dor ou em seu sofrimento e a partir disso esta pode se sentir mais confiante e segura inclusive para sentir seus próprios sentimentos. Assim, ela tem a chance de identificar e nomear o que sente, podendo se sentir mais conectada consigo mesma e com a forma com que expressa suas emoções.

Percebo que muitos pais têm receio de se aproximar dos sentimentos e emoções dos seus filhos, pois muitas vezes se angustiam ao perceber que não sabem como lidar nestas situações. Nestes casos, é comum a gente apelar para o lado racional que pega uma via no sentido contrário, isto é, muitas vezes bloqueia a expressão dos sentimentos. Um exemplo é quando os pais veem o filho chorando por algo que eles (o pai ou a mãe, ambos adultos) consideram ser simples ou banal e, com a melhor das intenções, pedem para que a criança não chore, pois acreditam que é bobagem ou besteira que logo vai passar. No entanto, para a criança, o que ela está sentindo é sim muito difícil, assustador e impactante!  

Então, nestes momentos é muito importante lançar mão da nossa capacidade de ter empatia, de sairmos um pouquinho de nós mesmos e de nossas necessidades e nos colocarmos no lugar do outro. Talvez poder lembrar das situações da sua infância pode ser uma boa ponte para te conectar com seu filho, pois você pode recordar o quanto certas coisas como dormir no escuro era também assustador para você ou ainda te possibilita lembrar das frustrações que você também vivenciou e dos sentimentos gerados nesses momentos. Ao retomar essas lembranças, se questione: havia alguém com quem você pudesse conversar? Como seria se houvesse alguém do seu lado que demonstrasse respeito, abertura, interesse e principalmente valor aos seus sentimentos?

O intuito da validação dos sentimentos não é concordar ou discordar, mas sim possibilitar ao seu filho a capacidade de experimentar o que sente e a partir disso poder pensar e elaborar a sua experiência pessoal.  Assim, frases como: "Não chore", "Isso é besteira", "Por que você está sofrendo com tão pouco?" podem ser trocadas por: "Poxa meu filho, eu vejo o quanto você fica assustado quando apagamos a luz", "Meu filho, o que você acha que está sentindo? Você consegue descrever?", "Eu também quando criança sentia algo semelhante ao que você está sentindo, eu também ficava chateada quando perdia o jogo ou quando não faziam o que eu queria". Desta forma, a criança possui maiores chances de se sentir conectada com seus pais, pois por meio da validação há a demonstração de que os pais estão juntos do filho e que se importa com o que ele sente, pensa e vivencia. Normalmente isso é muito mais reconfortante para a criança do que frases vagas como "tudo vai dar certo", "isso vai passar", pois no momento do desconforto, do medo, do susto, da tristeza, a criança não tem condições de acreditar que aquilo que ela está sentindo irá passar e, então, frases desse tipo fazem com que ela se sinta ainda mais solitária na sua experiência pessoal.

É uma atitude, como eu escrevi no início do texto, muito simples, mas que no dia a dia pode ser difícil de colocar em prática por diversos motivos. Um deles é porque muito frequentemente nós não nos autorizamos a validar sequer os nossos sentimentos, pensamentos e emoções. É muito comum sermos rígidos e pouco acolhedores com o que sentimos. Então, se não temos o hábito nem de valorizarmos o que sentimos, como teremos condições de olhar com abertura, interesse e gentileza os sentimentos dos outros? Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade que pouco ensina as crianças (e aí incluo os pais adultos que também foram crianças um dia) sobre a importância das emoções em nossas vidas e sobre como lidar com elas. É muito comum pensamentos de que emoções e sentimentos devam ser controlados, arrumados ou domados e frases como “não fique triste” ou “não se sinta assim” são muito valorizadas nesta sociedade que busca sempre o prazer e tende a negar o desprazer. No entanto, o melhor caminho para aprender a lidar com emoções e sentimentos é necessariamente passando pela aceitação, acolhimento e validação do que somos, sentimos e pensamos.

Que tal tentar colocar em prática? Comece com você e tente ir expandindo para as suas relações! Você pode se surpreender com o impacto positivo dessa habilidade em seu dia a dia.

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