A educação de qualidade destina-se ao desenvolvimento humano, não à incorporação de conhecimentos
Atualmente o aluno com deficiência é o grande bode expiatório de um processo de formação fracassado e de uma estrutura social que precisa ser modificada.
Apenas o aluno com deficiência é capaz de propiciar essa mudança porque revela onde a sociedade precisa se renovar. A inclusão escolar não favorece só o aluno com deficiência, mas aprimora o aprendizado de todos que estiverem ao seu redor. É a diferença o que nos constitui, não a igualdade.
É mais fácil viver em uma sociedade cuja escola se mantém igual e reproduz os mesmos modelos e movimentos há anos. Entrementes, por causa dos alunos com deficiência, vem surgindo um ensino muito mais dinâmico.
É triste ver a pessoa que traz dentro de si uma maior rigidez com relação à aceitação, não enxerga a pessoa com deficiência em outro contexto e responsabiliza este aluno pela falta de qualidade do sistema educacional.
Para quê passar anos oferecendo ao jovem o conhecimento do mundo exterior quando já o encontramos no Google? Eles serão os responsáveis por uma maior desumanização no mundo e aumento da pobreza interna que não é tão visível, tão óbvia.
A educação, se feita para o desenvolvimento humano, nos leva a ser o que somos em potência: seres completos. Sem ela somos como árvores retorcidas que não têm sol por um lado, e esticam seus galhos para conseguir água, numa vida muito raquítica, incompleta.
Negar o benefício de conviver com o diferente é tornar o preconceito contagioso e devorador e isso transforma os que ao seu lado estão em preconceituosos por contágio. É viver em uma sociedade inconsciente, violenta e voraz.
A voracidade do poder, de ter dinheiro, da primazia dos bens por cima do bem. O que é o sucesso? Isso só pode ser alcançado caso sejamos seres completos.
Para a existência de uma pedagogia do amor é preciso amar ao próximo como a si mesmo. As pessoas esqueceram que não se pode amar aos outros sem amar a si.
Daí porque não se dão conta de que também têm a capacidade de odiar a si mesmas, ao tratarem a si mesmas e a seus descendentes como escravas, explorando uns aos outros e se desvalorizando.
Freud descreve a mente destas pessoas como que dividida entre um perseguidor e um perseguido.
O aluno com deficiência traz à tona a compreensão de que a diferença é inerente ao ser humano. É esta diferença que permeia a humanidade e que torna cada ser um único em suas capacidades e habilidades. Ele trouxe a transformação dos processos de ensino e aprendizagem a partir do reconhecimento de si e do outro.
Esse é um dos principais desafios do milênio.
Na verdade, a crise atual só pode ser superada por uma mudança profunda no modelo educacional - evoluindo da transmissão de conhecimento para a formação de competências existenciais.
Dedicação ao desenvolvimento humano, não à incorporação de conhecimentos. Ser uma boa pessoa e não apenas acumular saber.
A escola deve estabelecer o desenvolvimento de competências existenciais, não técnicas:
1) Amor ao próximo (empático);
2) Amor aos ideais (devocional);
3) Amor a si (desejos);
4) Consciência do presente;
5) Autoconhecimento (quem sou)
6) Desapego.
Estas competências permitem que os alunos sejam mais completos como pessoas, consequentemente, melhores profissionais por possuírem formas mais solidárias e plurais de convivência.