A tão esperada revitalização

A tão esperada revitalização

é grande a expectativa de comerciantes, consumidores e moradores do centro por um local mais apropriado à sua importância histórica e econômica

Ansiosamente aguardado, o término das obras de revitalização do Calçadão de Ribeirão Preto, previsto para novembro, deve colocar fim a um período de três anos de dificuldades de acesso, máquinas, barulhos e sujeira, enfrentado por comerciantes e consumidores do centro. Marca, também, a expectativa pelo início de uma nova etapa relacionada ao conceito de reabilitação do bairro como um lugar para morar, trabalhar, circular, divertir e admirar a paisagem urbana.


O projeto traz “vida nova” para o centro, segundo o arquiteto e urbanista José Antônio Lanchoti, supervisor representante da Prefeitura. “Eu o chamo de Centro Novo - Novo Centro porque impõe uma nova dinâmica ao coração da cidade. A reforma física do Calçadão trará qualidade de vida aos seus usuários do dia a dia, ao mesmo tempo que estimulará a vinda de outros usuários. Mais pessoas se sentirão bem circulando pelo novo piso, sentando-se nos novos bancos, à sombra das novas árvores, contemplando as antigas lojas, porém, quase todas de ‘cara’ nova em função da limpeza visual promovida pelo Cidade Limpa e de reformas feitas pelos lojistas buscando oferecer aos seus clientes um local mais agradável”, afirma Lanchoti.

Proposta abrangente
Entre os planos para o futuro e a realidade, e a despeito da demora na execução dos mesmos, o projeto do Calçadão — ganhador do prêmio IAB/SP (Instituto de Arquitetos do Brasil/Departamento de São Paulo) como o melhor projeto urbano de 2012 — contempla uma visão, até então, nunca imposta ao centro.

A obra concentra apenas um dos eixos da Reabilitação do Quadrilátero Central, prevista em uma iniciativa muito maior. “O Calçadão está inserido no projeto Cidade Histórica — de revitalização das manchas urbanas identificadas como de relevância histórica —, desenvolvido pela Prefeitura, através das Secretarias da Cultura, Planejamento e Gestão Pública, com a colaboração dos diversos órgãos municipais e de lideranças que representam a comunidade local”, explica a arquiteta Rose Borges.

Integram, ainda, este ideal para o centro: o projeto Cidade Limpa, que promoveu a readequação das fachadas; a obra antienchente, que revitalizou toda a avenida Jerônimo Gonçalves; o Plano de Mobilidade, que trará um novo conceito de mobilidade urbana para o centro da cidade; a renovação das pinturas das fachadas da rua José Bonifácio; a reforma do Mercadão; o corredor viário da avenida Independência; o projeto de Acessibilidade em todo o quadrilátero Central e, ainda, o plano de revitalização Calçada Melhor.

Pormenores da proposta
O respeito ao projeto proposto pela arquiteta e urbanista Rose Borges e apresentado ao público, em março de 2012, tanto no auditório Meira Jr. quanto através de painéis espalhados no Calçadão, está sendo questionado por usuários do local, principalmente em função da troca do piso, originalmente inspirado nas cores dos grãos e da saca do café, como o vermelho (do grão maduro), o marrom claro (do grão seco), o marrom escuro (do grão torrado), o amarelo (da saca de café) e alguns tons de cinza (de alguns fios na trama da saca de café).

Lanchoti defende que está sendo executado exatamente o que foi idealizado pela arquiteta, mas afirma que foram necessárias algumas adequações técnicas. “O conceito de ‘rede’ que pautava a identidade cultural da cidade é respeitado no conjunto da obra. Há total respeito à história e à cultura do café no projeto, tal como idealizado, colocando o café como elemento chave do projeto”, pontua o urbanista.

Segundo Lanchoti, a trama do piso, inspirada na da saca de café, está impressa no desenho estampado nos pisos atuais, com traços largos e finos que lembram o da saca de estopa. Os nós formados pela trama também estão destacados no desenho do piso e sua textura também é a mesma do projeto, buscando remeter com pequenas pedras granuladas aos grãos de café espalhados em um grande terreiro. Os pontos de encontro de ruas com grandes “tapetes coloridos” recebendo o mobiliário urbano também estão mantidos, nos mesmos lugares onde foram idealizados. “Apenas as cores originais dos pisos precisaram ser substituídas porque fizemos testes e identificamos, juntamente com a arquiteta Rose, que a cor vermelha desbotou em menos de dois meses e o amarelo e alguns tons de cinza encardiram muito rápido, dificultando a manutenção. Optamos, então, por tons de cinza e preto por serem mais resistentes. Alguns pisos possuem a mesma cor, porém a quantidade de grãos pretos e brancos variam, dando a impressão de serem diferentes”, explica Lanchoti.

Outro detalhe que estava no projeto e foi mantido, segundo o arquiteto, é o desenho inspirado nos trilhos do trem idealizado na rua Álvares Cabral, em frente ao edifício Diederichsen. “Aquele trecho é importante para a economia e a cultura de Ribeirão Preto. A união das grandes negociações financeiras que aconteciam na A Única e a riqueza cultural que se apresentava no Theatro Pedro II está simbolicamente representada pelo desenho do trilho do trem no piso como uma menção à riqueza e à cultura que chegavam pela Estrada de Ferro Mogiana”, enfatiza Lanchoti, acrescentando que todos os simbolismos que a autora inseriu com sensibilidade e sutileza à proposta do novo Calçadão estão sendo respeitados.

Outro ponto que precisou de ajuste, mas que teve a estética considerada, foi a iluminação, substituída para LED, que ilumina mais e tem menor custo de manutenção e consumo. “Escolhemos um modelo simples, reto e esbelto para garantir a luminosidade necessária sem, contudo, ‘roubar a cena’ visual do Calçadão, porque é um elemento implantado em grande quantidade. O poste é discreto em sua unidade e ganha força em seu conjunto”, comenta o arquiteto da Prefeitura.

Com relação às árvores previstas no projeto (ipês e resedás), Lanchoti afirma que a vegetação será implantada com o acompanhamento de um engenheiro agrônomo no momento certo. Os bancos são os originalmente previstos, sem encosto, para permitir que as pessoas escolham o lado de sentar e contemplar. Os sombreiros serão a grande surpresa. Segundo o urbanista, são elementos muito bonitos, desenhados exclusivamente para o Calçadão, que terão a função de ampliar a área de sombra em alguns trechos. “Temos a certeza de que a materialidade da obra respeita por completo os conceitos e intenções do projeto original, que, por sua vez, valoriza os elementos marcantes da nossa história, tão presente naquele espaço de Ribeirão Preto”, conclui Lanchoti. 


Texto: Yara Racy

 

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