Avanços no tratamento

Avanços no tratamento

Cirurgia, radioterapia, quimioterapia, novas medicações e até uma vacina estão entre as novidades que minimizam os índices e os efeitos progressivos do câncer de próstata

A terapia adequada para o tratamento do câncer de próstata depende de cada caso e leva em consideração fatores como idade, da expectativa média de vida, estadiamento da doença (se localizada ou espalhada) e, principalmente, a escolha do paciente frente às possibilidades. Quando o tumor está apenas na glândula prostática, o tratamento pode seguir três caminhos: cirurgia, radioterapia ou braquiterapia, que consiste na colocação se sementes radioativas no local.

Em busca da cura, estes procedimentos podem ser usados isoladamente ou em associação. O valor do exame PSA (antígeno prostático específico), o resultado da biópsia e outros dados clínicos definem a necessidade da prostatectomia (retirada da glândula) ou de radioterapia. Com essas informações, o especialista Harley Francisco de Oliveira, coordenador do setor de radioterapia do Hospital das Clínicas (HC) e docente da Faculdade de Medicina da USP, ambos em Ribeirão Preto, define um grau de risco para o paciente — ser baixo, intermediário ou alto, em relação às chances de evolução da doença.

Na cirurgia, são retiradas a próstata e as vesículas seminais; na radioterapia, a radiação é utilizada para eliminar as células cancerígenas. “Ambos promovem a cura em oito em cada dez pessoas tratadas”, observa Harley.
O médico reforça, ainda, que a cirurgia robótica — ou guiada por robô — torna o procedimento mais preciso e com menor risco de danificar a inervação, mantendo a potência. Porém, na radioterapia, as evoluções tecnológicas são mais evidentes, com melhores resultados. Harley aponta que, atualmente, está disponível a Radioterapia de Intensidade Modulada, conhecida como IMRT e, mais recentemente, VMAT, quando realizada em arco volumétrico. Associados a um sistema de localização e posicionamento de alta precisão, esta terapia promove alto índice de cura e mínimos efeitos colaterais.



No entanto, o tratamento pode levar a complicações como disfunção erétil, ou impotência sexual, e incontinência urinária. Na primeira, a terapia medicamentosa pode ser utilizada e, em determinados casos, o implante de prótese peniana resolve o problema. Já a incontinência urinária pode ser tratada com fisioterapia pélvica, específica para a musculatura envolvida. “É fundamental que o homem busque alternativas para reverter esses efeitos, pois sabemos que a continuidade da qualidade de vida depende de tais fatores”, orienta o médico.

Oncologista clínico e médico assistente no HC, Fábio Eduardo Zola ressalta que existem novas medicações, mais eficazes e pouco tóxicas, que conseguem controlar a doença avançada por um longo tempo. Também surgiram novas modalidades de terapia, como as vacinas, que utilizam fragmentos do tumor para desenvolver um remédio personalizado. “A nova estratégia, desenvolvida por um grupo do Rio Grande do Sul, é semelhante ao tratamento já disponível nos Estados Unidos a um custo três vezes superior. A vacina brasileira segue em fase final de estudos e deve ser uma arma a mais no combate ao câncer de próstata”, explica o oncologista.

Vida normal

Como 84% dos colaboradores da RTE Rodonaves, de Ribeirão Preto, são homens desde 2013, a empresa realiza ações relacionadas ao Novembro Azul. Entre elas, uma campanha interna de conscientização sobre a importância de manter os exames em dia, com distribuição de informativo para os colaboradores, questionamentos com sorteio de brindes, orientações médicas, entre outras informações e dicas nos veículos de comunicação da empresa.

O lubrificador Antonio Carlos dos Santos Souza, de 59 anos, foi diagnosticado com a doença em 2012. “No primeiro momento, levei um susto e cheguei a pensar na morte. Durante o exame preventivo, o médico notou uma alteração. Agendamos uma biopsia e descobrimos o tumor maligno. Ter a família ao meu lado me deu coragem para encarar o problema de frente. Além disso, a ajuda do médico Carlos Noccioli e a segurança no meu trabalho foram importantes. Esses fatores permitiram que minha recuperação fosse tranquila”, conta Antônio.

Segundo ele, o médico explicou tudo o que poderia acontecer, incluindo os riscos da cirurgia, necessária para a retirada da próstata. Não foi preciso fazer quimioterapia ou radioterapia. Hoje, Antonio segue uma vida normal, mas terá que fazer o acompanhamento médico de seis em seis meses por cinco anos. “Estou bem, sem nenhuma alteração nos exames atuais”, comemora.











Novidades no tratamento

Pesquisadores e indústria investem pesados nos estudos em busca de novas terapias e medicamentos para o tratamento do câncer de próstata. Essas terapias visam atacar o tumor por meio de diferentes mecanismos, tais como: manipulação hormonal, quimioterapia, terapia-alvo dirigida (bloqueio do alvo-molecular celular, a fim de destruir a célula tumoral), medicina nuclear e vacinas.

A abiraterona e a enzalutamida são os principais novos medicamentos aprovados que visam bloquear a produção ou ação da testosterona em pacientes que falharam a tratamentos de manipulação hormonal e quimioterapias prévias. O cabazitaxel é um novo quimioterápico recentemente aprovado para o tratamento de pacientes que falharam com o quimioterápico docetaxel.

Novos medicamentos potenciais são o alpharadin (também conhecido como Rádio-223), que é um isótomo radioativo que ataca as lesões metastáticas nos ossos; o cabozantinibe, que ataca proteínas nas células tumorais (VEGFR-2 e cMET) responsáveis pela agressividade do tumor; e as vacinas, que visam a melhorar a resposta do sistema imunológico dos pacientes contra o tumor.

Vacina contra o câncer

Mais um grande passo foi dado na guerra ao mal por trás de pelo menos 8 milhões de baixas na humanidade todo ano. A FDA (Food and Drug Administration), agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos, deu sinal verde para a primeira vacina terapêutica contra o câncer. Produzido pelo laboratório americano Dendreon, o novo armamento se destina, por enquanto, a homens com tumor de próstata avançado. O Instituto de Câncer Dana Farber já tratou 512 pacientes, legitimando a vacina.

No Brasil, os estudos são conduzidas pelo médico e doutor em biotecnologia Fernando Kreutz, diretor da FK Biotec, companhia gaúcha pioneira em pesquisas com imunoterapia no Brasil explica que diversos trabalhos estão em curso inclusive para apurar um possível elo entre o tratamento e o maior risco de derrames. Até agora, a indicação se restringe a pacientes com metástase, ou seja, quando a doença já está disseminada pelo corpo -, poucos sintomas e sem resposta à terapia hormonal, normalmente convocada nessa fase.

A expectativa é que a liberação da primeira vacina terapêutica abra caminho ao advento de outras correntes de imunoterapia. No Brasil, Fernando trabalha, desde 2001, em cima de uma vacina contra o câncer de próstata aplicada direto na pele. "Diferentemente do modelo americano, partimos das células do tumor do paciente, extraídas em uma biópsia", explica.

Em laboratório, elas são modificadas a fim de facilitar o reconhecimento do antígeno - substância que denuncia o câncer - pelo sistema imune. "Já tratamos 216 homens e notamos uma resposta positiva em 38% deles. Alguns pacientes relatam melhora na qualidade de vida", conta Kreutz. A vacina estimula o sistema imunológico a identificar e destruir as células cancerígenas. O laboratório prevê lançar o produto em, no máximo, três anos.

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