Gargalos no trânsito

Gargalos no trânsito

Com uma frota de mais de 503 mil veículos, Ribeirão Preto necessita de investimentos urgentes em novas modalidades de transporte, capazes de contribuir para solucionar questões viárias e de mobilidade

“Falta maior consciência do motorista em relação à legislação de trânsito”, reforça o tenente MichelEm dez anos, a frota de veículos de Ribeirão Preto quase dobrou, chegando a setembro de 2016 com 503.781 unidades emplacadas, de acordo com o Departamento  Nacional de Trânsito (Denatran). No mesmo período, foram poucas as alterações na infraestrutura viária da cidade. Sem investimentos significativos em mobilidade urbana, os problemas do trânsito vão muito além dos congestionamentos em horários de pico, do trânsito lento nas principais avenidas e de um número cada vez maior de acidentes. 

Estimular uma ampla discussão sobre a implantação de novos modelos de transporte e sobre a melhoria da infraestrutura viária, que beneficie motoristas, pedestres e o meio ambiente, é um dos principais objetivos da Revide ao dedicar-se ao tema. Assim, a revista fecha um ciclo de campanhas trimestrais que em 2016 fizeram parte da programação que comemorou os 30 anos da publicação.

Além do aumento acelerado da frota, a falta de consciência de motoristas e pedestres e as péssimas condições das vias, tanto por conta dos buracos quanto pela sinalização insuficiente contribuem para o aumento de acidentes na cidade. Um levantamento do Corpo de Bombeiros aponta que o número de ocorrências atendidas pela Instituição mais do que dobrou em um ano, saltando de 633 em 2015 para 1.321 até outubro de 2016. Mesmo com uma legislação mais dura, o tenente da corporação, Michel Aparecido Monroe, observa que falta mais consciência do motorista para os perigos que corre ao não respeitar as leis e a sinalização, ao dirigir sob efeito de álcool ou falando ao ao celular. 

Para Luiz Gustavo Correa, especialista em Planejamento e Gestão de Trânsito e observador certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), o aumento da frota é uma das causas de acidentes no trânsito, pois a disputa por espaço leva os condutores a cometerem excessos, criando situações de risco. “Comparada com cidades do mesmo porte, hoje, Ribeirão Preto está atrasada em mobilidade urbana. Aproximadamente 27% da frota é composta por motocicleta (103.743). Isso porque, como o transporte público não atende às necessidades da população, a moto se tornou uma alternativa econômica de transporte, porém, com muito risco de acidente”, aponta Luiz. 

“Cerca de 90% dos acidentes ocorrem por falhas humanas”, lamenta LuizEstudos do ONSV apontam que 90% dos acidentes ocorrem por falhas humanas – que podem envolver desde a desatenção dos condutores até o desrespeito à legislação. Segundo o observador, o que chama a atenção na estatística é o aumento no número de mortes de mulheres no trânsito. Nos 12 meses de 2015, foram 13 óbitos; já em 2016, de janeiro a setembro, 14 mulheres perderam a vida. “Há mais mulheres dirigindo, principalmente motocicletas de baixa cilindradas. Sendo assim, elas estão mais expostas, inclusive, aos problemas estruturais do trânsito da cidade”, analisa Luiz.

O Observatório aponta, ainda, que os recentes conflitos de condutores no trânsito demonstram que muitos motoristas encaram as ruas como um espaço de competição, deixando de lado a boa prática da cidadania. Brigas por estacionamento, por exemplo, são comuns na cidade. “Como o condutor não é cauteloso, o pedestre sabe bem como é difícil e perigoso atravessar as vias. Os números de atropelamentos comprovam essa situação”, lamenta o observador. Além disso, ele lembra que a cidade não conta com programas voltados à educação dos condutores. A Transerp investe no Programa de Educação para o Trânsito (Progett) que trabalha principalmente com crianças e adolescentes. O especialista sugere também que as empresas invistam em educação no trânsito para os colaboradores. Para isso, há programas já implantados, como CIPA, SIPAT, entre outros. 

Além disso, iniciativas como o  movimento Maio Amarelo tem chamado a atenção da sociedade para o alto índice de mortos e feridos no trânsito em todo o mundo. A ação coordenada entre o poder público e a sociedade civil aborda a questão do trânsito nas mais diferentes esferas. “Em 2017, teremos a 1ª Corrida e Caminhada do Maio Amarelo”, que vai destacar o alto índice de acidentes e mortes no trânsito no município”, antecipa Luiz.

O especialista explica que a Lei Seca gerou avanços em relação à conscientização dos motoristas sobre o risco de beber e dirigir, mas muitos ainda ignoram esse perigo, sendo responsáveis por diversas tragédias. Luis reforça que “O número de acidentes é proporcional ao volume de veículos em circulação”, avalia o tenente Franciscouma direção segura e responsável exige que o motorista tenha reflexo rápido, poder de decisão, coordenação motora e capacidade de prever riscos e evitar acidentes. “Quando ingerimos álcool, o controle de nossas funções é afetado. Por isso, é preciso intensificar a fiscalização para inibir a ação de beber e dirigir. O poder público também deve investir em ações de conscientização dos motoristas”, sugere o especialista.

Números alarmantes

De acordo com levantamento realizado somente na área de atuação do 51º Batalhão da Polícia Militar do Interior, com sede em Ribeirão Preto (MPM/I), de janeiro a outubro deste ano, foram registrados 2.155 acidentes de trânsito, contra 2.324 em todo o ano passado. Com especialização em policiamento de trânsito urbano, o primeiro tenente da Polícia Militar, Francisco Carlos Wohnrath Monteiro, observa que, atualmente, há um convênio firmado entra a Polícia Militar e a Prefeitura de Ribeirão Preto, onde parte dos recursos arrecadados é repassado ao policiamento ostensivo de trânsito na forma de viaturas e equipamentos para serem utilizados diretamente na fiscalização de trânsito.  

Comandante do pelotão de Força Tática e das Rondas Ostensivas Com Apoio de Motocicletas (Rocam) do 51º BPM/I, o tenente afirma que o aumento da frota exige do poder público a realização de obras e a adequação do sistema viário. “Uma vez que isso não existe, o número de acidentes tende a crescer. Por exemplo, a zona sul vive uma explosão imobiliária, aumentando o número de veículos e pessoas que circulam nos horários de pico, entrada e saída das escolas, shoppings e zonas comerciais”, pontua Francisco. Em outro ponto crítico, a rotatória entre as avenidas Independência e João Fiusa, Francisco sugere a construção de um viaduto ou a implantação de semáforos, para tentar minimizar o problema do fluxo de veículos. 

Vias com maior número de acidentes de trânsito, de acordo com a Transerp:

Em 2015:
Av. Independência: 412
Av. Francisco Junqueira: 350
Av. Presidente Vargas: 233
Av. Jerônimo Gonçalves: 210
Av. João Fiúsa: 209

Primeiro semestre de 2016:
Av. Francisco Junqueira: 264
Av. Independência: 250
Av. Presidente Vargas: 217
Av. João Fiúsa: 162
Av. Treze de Maio: 123

Pontos críticos, com trânsito lento em horários de pico Rotatória da Praça Amin Antônio Calil. Rotatória de acesso à
SP-322/ Anel Viário Sul, para o bairro Nova Aliança Sul Anel Viário Sul SP-322, no acesso à Av. Caramuru pela Av. Adelmo Perdizza Rotatória das Avenidas Independência com a Av. João Fiusa.

Estatística de mortes de janeiro a setembro de 2016

Motociclista: 17 
Pedestre: 15
Carros: 9
Bicicleta: 7
Não disponível ou não divulgado: 15

Educação para o trânsito

Em nota, a Prefeitura, por meio da Transerp, informou que desenvolve um conjunto de ações educativas de trânsito através do Progett. O projeto objetiva a redução dos acidentes. Entre elas, a formação de professores; visitas técnicas nas escolas; minicidade móvel; estudo da circulação no entorno das escolas; espaço Edutran, um local que simula situações reais do trânsito, concurso Transerp de Segurança e Educação para o Trânsito (Transetran) e palestras. Além disso, o órgão participa de diversos eventos e ações no decorrer do ano como Maio Amarelo, Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, Semana Nacional de Trânsito, realiza campanhas e blitzes educativas, entre outras iniciativas. 

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