Destino de área da Cianê ainda é incerto

Destino de área da Cianê ainda é incerto

Executivo tenta, ainda sem sucesso, revitalizar e ocupar o espaço

A prefeita Dárcy Vera (PSD) se reunirá neste sábado, dia 15, às 11 horas, com Déborah Vendramini, secretária municipal da Educação, e a coordenadoria de Engenharia, Obras e Manutenção do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). O instituto visita os galpões da Cianê para averiguar as instalações e as condições físicas do local.

Pois, o IFSP demonstrou interesse em investir na construção de um campus na cidade.

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História
A iniciativa é mais uma que, desde 2005, tenta revitalizar os galpões da antiga fábrica textil da família Matarazzo.

Em 2009, a então secretária municipal da Cultura de Ribeirão Preto, Adriana Silva, reuniu-se com representantes da sociedade civil para elaborar projetos que pretendiam revitalizar parte dos 39,5 mil metros quadrados da Cianê através de verbas públicas.

Batizado de Complexo Cultural Matarazzo, o projeto – avaliado em R$ 34 milhões – visava a contemplar, inicialmente, a transferência do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, exigido pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 2004, intermediado pelo Ministério Público e representantes da Sociedade Civil, para um dos galpões da antiga fábrica.

Assim, a Secretaria da Cultura tentou através da Lei Rouanet arrecadar R$ 9 milhões para realizar o projeto do Arquivo Público. Porém, não chegou a arrecadar os recursos.

Enquanto a Secretaria tentava a verba para a transferência do arquivo público para um dos galpões, em 2010 o secretário estadual da Cultura, na época Angelo Andrea Matarazzo – sobrinho-neto de Francisco Matarazzo, criador do complexo industrial do qual a Cianê fez parte – anunciou que o Estado seria contemplado com seis pinacotecas. “Era uma chance de ocuparmos parte do grande espaço do terreno”, conta Adriana Silva.

Interessada em instalar uma pinacoteca na cidade, a ex-secretária da cultura resgatou um projeto, apresentado em 2005 (durante o governo de Welson Gasparini), do arquiteto Aurelio Martinez Flores que foi articulado por João Carlos Figueiredo Ferraz.

O estado demonstrou interesse no projeto da pinacoteca. Mas, também, não foi oficializado. “Acabou que o Estado não instalou as seis pinacotecas e o nosso projeto não foi viabilizado”, conta.

Impasse

Com o projeto do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto aprovado pela Lei Rouanet, a Secretaria da Cultura procurou o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para conseguir os R$ 9 milhões. Contudo, para que o projeto recebesse o investimento do banco, o espaço precisaria ser tombado pelo Governo Federal. "É uma condição importante que o bem a receber o recurso seja tombado em âmbito Federal. Não era nosso caso, e, por isso, o projeto foi recusado", explica.

Ao todo a negociação com o BNDES levou um ano (2010) e insistindo em receber o investimento, a Secretaria, por orientação do próprio banco, desenvolveu um projeto de cunho social. O projeto foi aprovado e receberia o investimento de R$ 9 milhões. “Eles pediram vários documentos. Como a planilha de gastos da instituição que seria instalada no local. Eles pediam que contabilizássemos até o dinheiro que seria gasto com café”, recorda Adriana.

Para arrecadar o restante da verba necessária para o projeto total do Complexo Cultural Matarazzo – R$ 34 milhões –a proposta foi dividida em quatro etapas como uma estratégia de captação. Adriana Silva conta que a proposta foi apresentada a um grande banco e a uma grande empresa de cimento. No entanto, a ex-secretária revelou que a ideia de fracionar o projeto, preocupava os possíveis apoiadores.

Paralelamente a este projeto, cogitou-se instalar uma unidade da Faculdades de Tecnologia (Fatec). No entanto, o prédio de aproximadamente 11 mil metros quadrados, que receberia o centro de aprendizado estadual, sofreu um incêndio. O que acabou abalando a possível construção da Fatec no local. A construção foi para a Vila Vigínia.

“Todos tinham receio de investir e nós não conseguirmos viabilizar o total e terem o investimento deles perdidos. Chegou um momento que o BNDES apoiaria se o Estado instalasse a Fatec. E a o governo estadual faria se o BNDES investisse nos outros barracões. Ninguém queria restaurar um barracão e ser vizinho de ruínas”, afirma. 

Biblioteca Parque

Logo após a notícia de que a Fatec não seria instalada na Cianê, a Prefeitura de Ribeirão Preto levou outro duro golpe: o projeto de instalação de uma Biblioteca Parque – a primeira do interior do Estado de São Paulo, avaliada em R$ 4,5 milhões – não receberia do Ministério da Cultura uma verba de R$ 3,5 milhões por documentação incompleta. Assim, a Cianê novamente não foi revitalizada.

Recentemente a atual gestão da secretaria da Cultura, alegando escassez no tempo hábil para entrega e alteração de documentos, ficou novamente sem a verba.

Depredação preocupa

 

Para Henrique Telles Vichnewski, arquiteto e mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas, a preservação, assim como a depredação de um patrimônio histórico, é de responsabilidade de seu proprietário. Assim, como a conservação, limpeza e fiscalização. “No caso da Cianê, parte desse complexo fabril foi doado à Prefeitura de Ribeirão Preto, em 2004 e, desde então, todo esse patrimônio vem sendo depredado com uma enorme rapidez. Processo bem diferente da época em que o proprietário era de uma agência bancária. Além disso, é fundamental a participação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) e da sociedade civil no sentido de fiscalizar e denunciar, através do Ministério Público, ações depredatórias”, ressalta Vichnewski.

A Prefeitura de Ribeirão Preto foi procurada, através de sua Coordenação de Comunicação Social. Mas, não quis comentar o assunto.

Livro

Henrique Telles é autor do livro Indústrias Matarazzo em Ribeirão Preto, sobre Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo e o bairro Campos Elíseos, onde está localizada.

A pesquisa para a composição da obra durou cinco anos - de 1999 a 2004 e, segundo o arquiteto, para a preservação do patrimônio histórico, é fundamental que o bem tenha um uso, seja ele público ou privado. “Esse é o primeiro passo para o início do processo de sua salvaguarda”, conclui.

Enquanto o poder público aguarda a visita e o parecer do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), a história da Cianê aguarda um pouco mais para ser revitalizada.

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Bruno Silva
Foto: Arquivo

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