As rotas do vinho

As rotas do vinho

Atendendo ao convite da Revide, quatro enófilos compartilham fotos, lembranças e experiências colecionadas em visitas a diferentes vinícolas pelo mundo

Fugir da agitação da cidade grande para curtir a tranquilidade do campo, passear pelo parreiral e conferir paisagens de tirar o fôlego, analisar a geografia do terreno e as condições climáticas, entender como funciona o Tales destaca a região do Douro, em Portugal, como uma ótima opção para os apaixonados pela bebidaprocesso de colheita, as etapas de fabricação e o sistema de armazenamento, saber mais sobre a cultura e as tradições da região, e, por fim, retirar a rolha, sentir o aroma, degustar as notas de diferentes rótulos e testar as possibilidades de harmonização: por proporcionar essa experiência imersiva, prazerosa e enriquecedora pelo universo dos vinhos, o enoturismo tem conquistado cada vez mais adeptos.

Um deles é Tales Rubens de Nadai. Professor doutor do Departamento de Cirurgia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e diretor geral do Hospital Estadual Américo Brasiliense, o cirurgião confessa que o fascínio pela bebida começou na adolescência. “Meu pai abriu uma loja de queijos e de vinhos. Naturalmente, desenvolvi uma certa curiosidade em relação ao tema. Para ajudar os clientes na hora da compra, lia várias matérias em revistas especializadas. Aos poucos, o interesse evoluiu e se tornou um hobby. Desde então, tenho estudado e pesquisado vinícolas pelo mundo. O melhor de degustar um vinho é desvendar as particularidades antes mesmo de abrir a garrafa”, opina Tales. 

Para aprender ainda mais, o médico associou algumas viagens em família ao enoturismo. Entre os destinos que já visitou, destaque para a região do Douro, em Portugal. “Tombada como patrimônio mundial pela UNESCO, essa região tem uma história surpreendente. Nos últimos três séculos, o rio Douro foi totalmente modificado. Um enólogo português me explicou que as águas turbulentas foram ‘domadas’ para viabilizar o transporte do vinho através da navegação”, recorda. No local, existem produtoras que investiram em uma estrutura especial para recepcionar o público, com acesso facilitado e espaços confortáveis, voltados para tours guiados, para degustação e até para hotelaria.

“É preciso dar uma chance ao vinho e a viagem pode ser a desculpa perfeita para descobrir esse mundo novo”, indica HenriqueOutras, no entanto, preferem manter a magia e o charme típicos da rusticidade para prosperar uma videira de qualidade. Por isso, é importante saber o perfil da empresa antes de incluir no roteiro. “Agendei, previamente, uma visita a uma vinícola no Douro Superior. Após duas horas percorrendo estradas sinuosas pelo vale, tive uma recepção maravilhosa. Por quatro horas, caminhei pelas plantações, acompanhei a produção e entrei na adega que armazenou o primeiro vinho ‘Barca Velha’. Vivi momentos extremamente agradáveis. Porém, para a minha esposa e minha filha, o mesmo passeio foi descrito como uma confusão de chuva e de lama. É preciso manter as expectativas alinhadas à realidade para evitar frustrações”, aconselha. O episódio pontual, felizmente, não comprometeu os planos futuros de Tales. “Não fui a 99% dos destinos que gostaria. Pelo rico conteúdo histórico, o próximo país que pretendo conhecer é a França, especificamente Borgonha e Bordeaux. Com certeza, vou contar com a companhia da minha família nessa aventura”, adianta o médico.

A região do Douro também conquistou Henrique Augusto Nogueira Sandoval, que coleciona vivências indescritíveis em lugares onde a bebida é uma grande atração. A Alsácia e a região de Champagne, na França, são ótimos exemplos. “Essa viagem estará guardada para sempre na minha memória. Em outras oportunidades, vi as vinhas nascendo ao lado das oliveiras, na Grécia, e a Cordilheira dos Andes abençoando os vinhedos, tanto da Argentina, quanto do Chile”, descreve. O advogado enfatiza que o enoturismo não deve ser encarado como uma opção exclusiva para quem já é apreciador de vinhos. “Até os 23 anos, minha preferência era pela cerveja. Certo dia, em um restaurante, meus amigos pediram vinho e eu, receoso, resolvi, por educação, acompanhar. Gostei. Logo em seguida, o meu mestre no Direito e na vida, amigo e professor,  Saulo Ramos, apresentou-me os inúmeros encantos da bebida. É preciso dar uma chance ao vinho e a viagem pode ser a desculpa perfeita para descobrir esse mundo novo”, indica Henrique.

O contato próximo com os produtores é mais um ponto positivo que merece ser citado para encorajar aqueles que ainda não se convenceram. “Os produtores são apaixonados pelo que fazem e esse sentimento é contagiante. Existe um cuidado com cada detalhe e um orgulho imenso pelo resultado final. Eles trabalham com o que amam e o sabor do vinho reflete todo esse carinho e dedicação. Quem não teve a possibilidade de fazer uma visita dessas, faça, pois vale a pena. Temos que quebrar a ideia de que o vinho exige conhecimento apurado e que é voltado a Renatto indica alguns espaços no Chile, na Espanha e no Brasilum público seleto. Pelo contrário, na França e na Itália, países onde a bebida tem maior expressão, ela é amplamente acessível à população”, comenta Henrique. Segundo o advogado, a volúpia tributária é a principal razão para que essa situação não se repita no Brasil. Com os preços elevados, inclusive dos rótulos nacionais, o público acaba se distanciando desse mercado.

De acordo com Renatto Pietro, a melhor ferramenta para transpor tal barreira é a comunicação. “Trocar informações é essencial. Meus amigos e eu começamos a compartilhar nossas impressões sobre rótulos, marcas e valores pelo WhatsApp. O crescimento foi tão significativo que decidi criar um grupo fechado no Facebook e, em poucos dias, tínhamos mais de mil membros. Postamos fotos, opiniões e dicas nesse espaço, que recebeu o nome de ‘A Turma do Vinho Ribeirão Preto’. Essa interação informal entre os iniciantes, os mais experientes e até os profissionais da área é muito positiva para disseminar a cultura do vinho que, aqui, ainda é restrita, e torná-la mais inclusiva”, argumenta o jornalista.

Como um bom entusiasta da bebida, Renatto é fã do enoturismo. No Chile, as tradicionais Undurraga e Concha Y Toro, no Vale de Maipo, fizeram parte do roteiro. “A Undurraga é sensacional, tanto pela visita, que é bem técnica, quanto pela degustação. Mais famosa, a Concha Y Toro possui um casarão maravilhoso, um jardim lindo e uma lenda assustadora. Em 1883, para afastar ladrões que invadiam a adega particular da propriedade, o fundador, Don Melchor Concha y Toro, dizia aos funcionários que o diabo aparecia no local durante a noite. O medo se espalhou, ele salvou a produção e se tornou uma das maiores lendas da indústria mundial”, revela. Por isso, uma linha exclusiva da casa se chama “Casillero del Diablo”.

Apaixonado por espumantes, no ano passado, foi até a Espanha, nas regiões de Penedès e de Rioja. “Adoro a Freixenet e não poderia deixar de conhecer essa vinícola. Queria ver de perto o processo de produção das Cavas, que acontece em covas com mais de 10 metros de profundidade. O ambiente elegante e a visita intimista só fizeram elevar meu conceito sobre a marca. Dos rótulos que provei, o ‘Reserva Real’ foi um dos prediletos”, aponta. No Francisco fez um passeio a cavalo para conhecer os vinhedos mais distantes da Bodega Colomé, em Salta, na ArgentinaBrasil, o enófilo percorreu a região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. “Estive na Miolo, na Chandon e na Cave de Pedra. Fiquei impressionado. Parece um pouco do interior da França no Brasil. A produção e o passeio não deixam a desejar comparados a outras vinícolas do exterior”, enfatiza Renatto. 

Os países com ampla produção de vinhos também estão entre os destinos favoritos de Francisco Della Torre. O engenheiro recorda com exatidão da primeira viagem que fez com o foco nesse segmento, em 2004. “Minha família já tinha um envolvimento com o tema e, incentivado por eles, queria aprender mais. Embarquei, então, rumo a Mendoza, com o único intuito de conhecer as vinícolas de lá, que começavam a despontar no cenário internacional”, relata. A partir daí, não parou. Foi para França, Itália, Portugal, Espanha e Chile, além de outras regiões da Argentina, como Salta. “Cada produtor tem suas peculiaridades, um modo próprio de preparar o vinho. Agora, quando abro uma garrafa, é como se viajasse, momentaneamente, para o local de origem da bebida. Lembro da paisagem, do plantio das videiras e dos métodos de vinificação. É uma delícia dividir essa experiência com amigos e familiares. Sem dúvida, recomendo”, finaliza o engenheiro. 

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