Centro em perigo

Centro em perigo

Enquanto Prefeitura tenta colocar em funcionamento sistema de vigilância por câmeras, violência tem assustado lojistas no Centro de Ribeirão Preto

Pouco antes das 6h da manhã da quinta-feira, dia 28 de outubro, a gangue da marcha à ré fez uma nova vítima em Ribeirão Preto. O carro parou na Rua Mariana Junqueira, em pleno Centro da cidade, dois criminosos desceram, enquanto o motorista arrombou a porta de uma empresa de peças para motos. O alarme chegou a disparar, mas eles conseguiram fugir antes da chegada da polícia. Entre os itens roubados e os danos ao estabelecimento, estima-se um prejuízo de R$ 21 mil. Esse é mais um dos casos de violência que tem assustado lojistas no Centro de Ribeirão Preto. Por isso, a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) lançou um manifesto cobrando mais segurança para os comerciantes da região.

A Associação alega que o Centro passa por um “gradativo processo de abandono pelo poder público”, com reflexos na segurança dos comerciantes e dos moradores. “Nos últimos anos, é visível o processo de degradação da área central da cidade, que coincide com a redução/extinção do sistema de videovigilância. Lembramos que, até alguns anos atrás, a Acirp era responsável pela manutenção de todo o sistema, formado por mais de 20 câmeras de vigilância. Até aonde sabemos, os índices de violência na região central eram significativamente inferiores aos atuais”, declarou a Acirp.

A empresária Sandra Brandani Picinato, proprietária da loja que foi vítima da gangue da marcha à ré citada no início da matéria conta que ela não foi a primeira na região a sofrer com a violência. “Tem um comerciante que até fechou as portas depois do assalto da marcha à ré e, na semana, foi assaltado à mão armada no horário normal de expediente”, descreve. Para Sandra, além das ações de segurança, os problemas no Centro precisam ser alvo de políticas públicas, incluindo, a assistência social. “Precisamos urgentemente das câmeras, que antes eram do Olhos de Águia, e agora passaram para a Prefeitura. Também aumentou o número de andarilhos que aguardam o alimento que é distribuído naquele local. É preciso organizar os grupos de doadores de alimento, principalmente os do Centro”, comenta.

Ao longo de 12 anos, a Acirp coordenou, em parceria com a Polícia Militar, o programa Olhos de Águia, com a gestão das câmeras de segurança no Centro. Entretanto, desde 2018, a Prefeitura assumiu a responsabilidade sobre a administração do projeto, agora chamado de “Guardiões da cidade”. A ideia da Prefeitura é de, além das câmeras no Centro, criar um sistema interligado ao da Polícia Militar e do Departamento Estadual de Trânsito. O compartilhamento de informações, fotos e placas de veículos possibilitaria um trabalho de inteligência mais eficaz, além da prevenção de crimes. Porém, no momento, as câmeras estão desligadas. O investimento estimado será de R$ 1,5 milhão.
Gangue da marcha à ré invade loja no Centro; prática já virou rotina
O projeto prevê que, inicialmente, sejam instaladas  40 câmeras, sendo 24 para substituição das câmeras em pontos já existentes, que estão defasadas tecnologicamente. Além de 16 equipamentos em novos pontos estratégicos, como a confluência das avenidas Francisco Junqueira e Jerônimo Gonçalves, das ruas Rui Barbosa e Tibiriçá, São José e Américo Brasiliense, cruzamentos da avenida Nove de Julho, entre outros locais. 

A Acirp exige uma resposta rápida e eficiente dos gestores públicos. “Ou, pelo menos, indícios de que os gestores desta cidade têm um mínimo de preocupação com a região central. [...]  Exigimos o direito de poder comprar e vender sem ter as vidas postas em risco, pela falta de proteção do Estado, conforme exigido pela Constituição da República Federativa do Brasil”, acrescentou no documento. Ainda de acordo com a Associação, nos últimos dois meses, pelo menos quatro estabelecimentos comerciais do Centro foram assaltados, causando, inclusive, o fechamento de um dos negócios. As rondas ostensivas e a investigação de ocorrências de roubo a pedestres e ao patrimônio particular são de responsabilidade da Polícia Militar e Civil, ambas do governo estadual. 
Programa Guardiões da Cidade promete criar uma rede de monitoramento em todo o município
Ademais, a Guarda Civil Metropolitana mantém uma base no Centro, porém, com o objetivo de proteger o patrimônio e os equipamentos públicos municipais. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, as ocorrências de furto e de roubo registradas apenas no 1º Distrito Policial, da Rua Duque de Caxias, subiram em relação a 2020. Uma média de 76 boletins de ocorrência de roubo e furto eram registrados por mês no 1º DP em 2020, enquanto em 2021 o número subiu para 90, até setembro. Contudo, em 2019 a situação era ainda pior; a média era de 130 boletins por mês.

PREFEITURA 

Cabe à Prefeitura, nesse aspecto, outras medidas para tentar coibir a ação dos criminosos. Por isso, o governo municipal tem trabalhado para implantar o sistema de monitoramento por câmeras. Já foram instaladas 24 câmeras e mais 16 estão em processo de instalação. Porém, elas não estão funcionando no momento. Para entrarem em operação, é necessário a implantação da fiação de fibra ótica. “Importante ressaltar que o edital para contratação da empresa já foi publicado no Diário Oficial desta quinta-feira, dia 28. O pregão eletrônico receberá propostas até o dia 16 de novembro e a abertura e disputa dos preços acontecerá no mesmo dia”, informou a Prefeitura. De acordo com o Executivo, as câmeras estarão interligadas em um sistema único de segurança, formando o programa “Guardiões da Cidade”, composto por 112 câmeras, sendo que 40 estarão no quadrilátero central e as demais 62 espalhadas pelos principais pontos de entrada da cidade.

Após a divulgação do manifesto da Acirp, a Prefeitura encaminhou uma nota destacando a instalação das câmeras, além de ações de natureza diversa realizadas no Centro da cidade. O governo municipal destacou os trabalhos de restauro do patrimônio histórico como os monumentos nas praças XV de Novembro e Carlos Gomes. Além da entrega do Museu da Imagem e do Som, na Rua Cerqueira César, a recuperação da fonte luminosa da Praça XV e a recuperação do pavimento e troca de iluminação dos postes por lâmpadas de LED das praças. “Na questão de mobilidade urbana, para contribuir com o comércio central, foi retomada a área azul para garantir a rotatividade de vagas e ainda garantiu asfalto novo em vários pontos [...]. Ainda entregou quatro pontes na Francisco Junqueira interligando o centro da cidade com a zona leste da cidade”, acrescentou.


Foto: Arquivo Revide

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