Especial Dia das Mães: jovens relatam os desafios e as recompensas da maternidade
Mulheres que se tornaram mães antes dos 20 anos contam a experiência e os desafios da maternidade

Especial Dia das Mães: jovens relatam os desafios e as recompensas da maternidade

Mulheres que se tornam mães antes dos 20 anos, e sem planejamento, enfrentam obstáculos, medo e insegurança; amor e apoio familiar transformam a descoberta

Mãe é sinônimo de amor sincero. Ser mãe é desafiador. Ser mãe jovem, então, é um desafio dobrado, mas com amor sincero sem medida. Mulheres que vivem a maternidade ainda jovens –na maioria das vezes, de forma inesperada e sem planejamento– superam dificuldades de toda ordem, lutam e descobrem, cada vez mais, o dom indescritível que é gerar uma nova vida e ter o filho nos braços, para ser amado.

Há duas décadas, em Ribeirão Preto, as mães que encaravam esse desafio até os 20 anos de idade representavam 17,2% do total de mães. No ano passado, as mulheres que se tornaram mães na cidade com menos de 21 anos representaram 8% do total de nascimentos.

Os dados da Secretaria Municipal da Saúde confirmam a tendência da maternidade em uma fase mais madura das mulheres –as mães acima dos 30 anos, que eram 29% do total de nascimentos em 2000, representam hoje 48% dos nascimentos. Com esse cenário, as mães jovens enfrentam ainda mais incertezas, julgamento e receio.  

Jovens que foram surpreendidas com a notícia aprendem com paciência o tamanho da responsabilidade e precisam, muitas vezes, repensar a carreira profissional.

Choque e julgamento

Maria Julia Furquin, de 18 anos, descobriu que estava grávida da Antonella aos 17

Maria Julia Furquin, de 18 anos, descobriu que estava grávida da Antonella aos 17 anos, dias antes da sua formatura do ensino médio. Por não ter sido uma gravidez planejada, relembra do choque e do medo que sentiu, além dos julgamentos e as críticas, que foram os maiores desafios neste período.

“Uma das coisas que mais ouvi foi que a gravidez me atrapalharia e atrapalharia meus estudos. Hoje, tendo uma filha de 9 meses, posso afirmar que isso não aconteceu, muito pelo contrário, penso em estudar para poder dar a ela tudo o que eu puder”.

Para Maria Julia, a filha veio em forma de muito amor e força para lidar com os julgamentos e responsabilidades. Mas não esquece o quão ser mãe é difícil, e mais ainda quando se é jovem.

“Não gostaria e não acho certo romantizar a gravidez na adolescência, porque só quem é mãe sabe como é difícil, mas hoje sou grata por ter a Antonella na minha vida. Com ela conheci meu lado forte que nem eu sabia que existia”.

Segundo psicólogo Guilherme Ciribelli, do Grupo São Francisco, quando essas mães jovens, sem experiência, descobrem a gravidez, vivem um misto de sentimentos, como insegurança, medo, ansiedade, estresse. “Todos esses sintomas aparecem porque a adolescente se sentirá no meio de fortes críticas, afastamento de amigos, julgamentos de parentes, muitas vezes abandono da responsabilidade do pai do bebê.”

Desafio e uma nova família

Rebecca, mãe do Theo, descobriu a gravidez aos 18 anos, com pouco tempo de namoro

Para Rebecca Mello, foi ainda mais desafiador. Descobriu sua gravidez aos 18 anos, com pouco tempo de namoro e em seis meses de gravidez foi para Tailândia, sem falar inglês fluente, para ficar ao lado do pai da criança e que hoje é seu marido. Ficou 15 dias de quarentena devido a pandemia da Covid-19 e mais tarde, deu à luz no país em que estava morando.

Ela usava método contraceptivo via oral e, por esquecer algumas vezes, acabou engravidando de Théo Henrique.

Segundo ela, aconteceu tudo muito rápido. Estava cursando o primeiro ano de Medicina Veterinária quando descobriu que estava grávida. “Eu sabia que teria de parar os estudos para estar ao lado do meu marido, sempre foi o sonho dele ser pai e nossa relação foi aos 200km/h, nos conhecemos, começamos a namorar, logo engravidei e em seguida nos casamos. Sinceramente, não me arrependo de nada, melhor coisa que aconteceu na minha vida”.

Mas, ela também não deixa de lembrar os desafios. “Mesmo que eu não me arrependa de nada, não quer dizer que não existiram desafios. Eu não tive um parto fácil, porém, quando vi o rostinho inchado e mais lindo, tudo passou. Naquele instante você só quer saber de pegar no colo, sentir o cheiro para ter certeza de tanto amor. A cada dia enfrento um desafio diferente, mas todos eles, problemas e dificuldades se transformam em amor. E quem tem amor, tem tudo”.

O psicólogo Guilherme Ciribelli destaca que a participação da família no desenvolvimento da adolescente grávida é muito importante para responder dúvidas. “É de suma importância a presença e o apoio do pai do bebê, influenciando favoravelmente no desenvolvimento da gravidez, diminuindo riscos à saúde da criança, pois solidão e insegurança podem causar problemas físicos e psicológicos.”

Para o especialista, entre os desafios da maternidade na adolescência está, primeiramente, processar a informação. “Antes de lidar com o outro, ela precisa entrar em contato com seus próprios sentimentos. O próximo passo é nomear alguém de confiança para compartilhar a notícia, antes dos pais, isso para construir uma base de apoio. Na maioria das vezes, o mais difícil, porém necessário, é o desafio de contar aos pais. É importante nesse momento ter um bate papo transparente e com muito respeito de ambas as partes.”

O médico explica que há uma grande evasão escolar quando a adolescente descobre que está gravida, por inexperiência, pouca vivência e até mesmo o insegurança de não saber lidar com o novo. “Por isso, é muito importante o apoio dos familiares e a continuação de suas obrigações escolares e sua inserção no meio social.”

Insegurança e coragem

Maria Caroline, mãe da Isabela, também passou pela gravidez jovem, em uma gestação inesperada aos 21 anos

Maria Caroline Tavares também passou pela gravidez jovem, em uma gestação inesperada aos 21 anos. Ela relata ter sido difícil no começo, principalmente porque não estava em um relacionamento sólido.

“Quando recebi a notícia me senti insegura e sozinha, mas ao mesmo tempo um sentimento muito forte de proteção. Eu só queria cuidar daquele serzinho dentro de mim. Tinha muito medo e ao mesmo tempo muito amor pela minha filha, um amor que não consigo explicar”.

Maria Caroline ficou grávida de Isabela quando estava no começo da faculdade de Direito. Pensou várias vezes em dar um tempo e deixar para depois, mas ao mesmo tempo seguiu seu ritmo. Foi importante para ela não se cobrar tanto, tendo em mente em ir conforme seu tempo e o tempo da Isa, como a chama carinhosamente.

Ela ainda comenta sobre a vontade que sempre teve de ser mãe, mas o momento se revelou desafiador. “Sempre quis ser mãe, adoro crianças, sempre achei a maternidade linda, um momento sublime da mulher. Mas não naquele momento. Não imaginava que seria tão desafiadora. Para mim, a parte mais difícil, com certeza, é educar”.

O médico Guilherme destaca que, durante a gestação, a não aceitação da mãe não causa transtornos específicos para o bebê. Mas para ela própria, sim, podendo ocasionar diversos problemas psíquicos tanto na gravidez como no puerpério. “É essencial que que a jovem em gestação faça um pré-natal adequado e busque uma equipe interdisciplinar para acompanhá-la, com grupos de apoio e psicoterapia individual.”

“A Isabela ela é minha coragem, a minha fé em Deus. Ela me faz acordar todos os dias e ser uma pessoa melhor porque eu quero que ela seja também. Quando estou triste, só preciso da companhia dela um pouquinho para me fazer bem. Ser mãe tem todos os seus desafios, mas não tem nada melhor do que o abraço do seu filho, um áudio no meio do trabalho dizendo que esta com saudades, uma flor que ela pega no jardim e diz que é o meu presente, são momentos que agradeço muito a Deus por passar, e penso como sou abençoada”, relata Maria.

Dr. Guilherme Ciribelli, psicólogo do Grupo São Francisco, destaca a importância da família da gravidez das jovens


Fotos: Arquivo Pessoal / Divulgação

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