Ribeirão Preto está mais velha do que nunca: e não é só porque a cidade faz aniversário
Em Ribeirão Preto, a quantidade de pessoas com mais de 60 anos já é similar à de jovens com menos de 14 anos

Ribeirão Preto está mais velha do que nunca: e não é só porque a cidade faz aniversário

Fundação Seade aponta que índice de envelhecimento do município quadruplicou em 40 anos

Ribeirão Preto comemora 162 anos de fundação nesta terça-feira, 19, e, além de estar mais velha como cidade, também está mais "experiente" quando o assunto é a população. De acordo com a Fundação Seade, órgão do Governo Estadual, o índice de envelhecimento da população do município quase quadruplicou nos últimos 40 anos.

A quantidade de pessoas com mais de 60 anos de idade está quase igual à população de pessoas com até 14 anos, segundo o levantamento. Enquanto a porcentagem de jovens caiu de 30% para 18% da população em geral de Ribeirão Preto – no Estado de São Paulo essa proporção é um pouco maior, cerca de 20% -, a população idosa está quase se igualando a este número.

É que o índice de envelhecimento da Fundação Seade, que aponta a proporção de pessoas de 60 anos ou mais para cada 100 indivíduos de 0 a 14 anos, está em 87,3% - ou seja, quase chegando no total de jovens. Em 1980, o primeiro ano com os dados compilados, esse índice era de apenas 21%. Há 10 anos, em 2008, o índice marcava 59%, e há 20 anos, em 1988, apenas 38%.

Fenômeno semelhante ocorre no restante do País. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa no Brasil já representa uma fatia de 7,4% do contingente nacional.

Para Nelma Cristina Araujo Zanata, assistente social do Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Pessoa idosa da Alta Mogiana em Ribeirão Preto, uma série de fatores levam a esta marca, como os novos arranjos nupciais e baixas taxas de natalidade.

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Nelma acredita que, cada vez mais, é preciso dar atenção para esta faixa da população, já que ela aponta que a sociedade ainda não está preparada para receber de maneira inclusiva as pessoas mais experientes. Isso causaria exclusão, que, para ela, é o principal problema enfrentado pelas pessoas da terceira idade.

“O maior problema que as pessoas da melhor idade enfrentam é a exclusão, o confinamento, e o negligenciamento. Vejo que são as três maiores questões, fora a violência. Ribeirão, assim como a sociedade, ainda não se preparou para receber a população idosa que cresceu de forma muito relevante. Nós não estamos preparados para acolher essa população. Deveríamos ter mais espaços para esses idosos”, analisa a assistente social.

Ela ainda diz que muitas famílias “transferem” as responsabilidades com os idosos para entidades e lares de acolhimento destas pessoas. Prova disso é que uma das atividades desenvolvidas pelo Núcleo é justamente o fortalecimento da convivência e dos vínculos sociais das pessoas da terceira idade.

Além disso, o projeto presta atendimento a quem já sofreu algum tipo de violência ou abuso, oferecendo serviços de assistência social, advogados, nutricionista, psicólogos, terapeutas. “As famílias transferem a realidade de amá-los para o lar. Eles são abandonados pelos próprios familiares”, lamenta Nelma.

‘Faço o mesmo que qualquer pessoa de 50 anos’

O policial aposentado Ildo Melani, 78 anos, vive uma realidade um pouco diferente da de muitos idosos, termo que ele não gosta de utilizar e nem acredita que faça parte do grupo. Ele conta que já fez um pouco de tudo na vida e diz que a manutenção das atividades do dia a dia o mantém “elétrico”, como define,

“Eu estou com 78 anos, mas, para mim, não está faltando nada. Tudo que uma pessoa de 50, 60 anos faz, eu estou fazendo. Dirijo carro, vou para todo lado. Eu mantenho a minha rotina normal. Eu levanto às 6h, levo a minha neta na escola às 7h, busco meio-dia, depois volto e levo a outra. Vou no supermercado normal, ajudo bastante em casa”, descreve a sua rotina.

Para ele, o contato com as netas e os filhos é fundamental. “Dou muita atenção para as minhas netas, para os meus filhos. Família é família. Em primeiro lugar é família”, declara. “Eu só acho que eu não paro um minuto. Fazer exercício normal eu não faço. Tenho aparelho de ginástica moderno, mas nunca utilizei, mas continuo fazendo todas as atividades normalmente”, completa.


Foto: Pixabay

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