A imagem fala

A imagem fala

A estilista e consultora de imagem Vânia Benvenuto evidencia como a moda pode ser uma poderosa aliada no processo de autoconhecimento, além de uma ferramenta estratégica de comunicação

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Esse ditado popular pode ser utilizado nos mais diversos contextos. Aqui, vamos aplicá-lo no universo da moda. Não há como negar que a aparência é importante, tanto no âmbito profissional, quanto no pessoal. Só que, nos últimos anos, essa questão tem saído de um plano da idealização e ganhado contornos mais reais e complexos, que vão muito além de acompanhar as tendências que a indústria lança a cada temporada.

 

Principalmente após o período da pandemia, em que a sociedade como um todo experimentou profundas transformações, o cuidado com a imagem passou a ser encarado como um processo de autoconhecimento e, a partir disso, uma poderosa ferramenta de expressão e comunicação não verbal. Na entrevista a seguir, a estilista e consultora de imagem Vânia Benvenuto explica como funciona essa jornada em busca de significado e pertencimento por meio da moda.

 

Como foi que você se envolveu nesse universo da moda?


Sempre fui fascinada por esse universo. Por isso, decidi cursar Moda, na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. Em 2009, voltei para Ribeirão Preto. Trabalhei em diversas áreas relacionadas, como consultora, fazendo styling e personal shopper, por exemplo. Naquela época, todo o estudo era baseado nos sete estilos universais: clássico, romântico, esportivo, criativo, elegante, sensual e dramático urbano. Só que eu não me conectava com a classificação. Era difícil apoiar esse conceito pré-estabelecido, uma vez que eu mesma me sentia fora dele.

 

Essa situação mudou em 2013, quando fiz um curso na Oficina de Estilo que me virou uma chave. Lá, entendi que a moda poderia ser muito mais acessível, com propósito e significado, voltada, de fato, para a realidade e para pessoas reais. O conteúdo do curso focava bastante na questão da autoestima, da confiança, de empoderamento e de protagonismo por meio da imagem.

 

Esse foi o primeiro passo para eu ir além. Eu queria entregar mais do que looks bonitos. Queria algo representativo. Desejava que minhas clientes se vissem através de uma outra perspectiva. Hoje, trabalho com uma análise bem mais profunda, de autoconhecimento e autodesenvolvimento. É entrando em contato com a nossa essência que revelamos a nossa verdadeira identidade e, consequentemente, a nossa beleza.

 

Qual é o propósito da consultoria de imagem e estilo?


A consultoria é um processo totalmente personalizado, que visa o autoconhecimento e a adequação da aparência com as qualidades pessoais, desenvolvendo o estilo da pessoa, sempre com base nas suas prioridades, personalidade e necessidades de vida. Mais importante que saber se a roupa combina ou não, é ter a clareza de como a gente se sente em cada uma delas e quais mensagens desejamos transmitir com as coordenações que montamos.

 

Alinhar o que se passa no interior com o que se vê no exterior. Não existe uma receita pronta, nem mágica, nem mistério. É um exercício diário, de testar, errar e acertar, com estratégia. Estilo se desenvolve na prática. Passar por essa análise é de redescobrir, prestar atenção em pequenos grandes detalhes que falam muito de nós. Pode não parecer, mas a roupa perpassa muitas esferas.    

 


A coloração pessoal é uma das etapas do processo de consultoria

 

Como funciona esse trabalho?


Antes de qualquer coisa, é preciso pensar na gente como ser humano. Tentar identificar as diversas camadas existentes em nós e que os nossos corpos carregam – para além dos tecidos, das cores e das tendências. As nossas escolhas são feitas com base nas nossas histórias, vivências, contextos, demandas, medos e certezas. É a partir disso que o desejo de se ‘sentir de tal jeito’ ou de ‘passar tal mensagem’ aparece. Então, vale pensar que a jornada da consultoria de imagem é constituída a partir das histórias, sensações e desejos de pessoas, e não de máquinas ou robôs.

 

Esse trabalho pode e deve oferecer uma visão integrativa para escutar, acolher e analisar com cuidado outros aspectos que influenciam diretamente na nossa imagem, no nosso vestir e também na nossa comunicação. Conduzo esse processo com máxima responsabilidade. O primeiro passo é a investigação. Converso com a cliente sobre absolutamente tudo e faço uma série de exercícios para compreender seu universo, suas particularidades e seus objetivos. Abastecida dessas informações, monto um plano de estilo e de identidade.

 

Depois, fazemos uma estratégia de reaproveitamento do acervo e de revitalização respeitosa do guarda-roupas, com a indicação de peças que valem o investimento. A última etapa é a montagem de looks para as mais variadas ocasiões. A cliente pode passar pela mentoria completa ou fazer etapas avulsas, como coloração pessoal, styling para um evento ou montagem de mala para viagem, por exemplo.

 

Quais são os principais benefícios de passar por essa jornada?


Esse trabalho ajuda a fazer escolhas corretas no dia a dia, de uma maneira mais rápida e simples, facilitando a montagem de looks e deixando o hábito de se arrumar muito mais prazeroso, respeitando sua autenticidade. Desbravar nossas emoções nos torna mais livres das pressões, pois elas existem e nos influenciam, mesmo que inconscientemente. Além disso, a consultoria estimula o consumo consciente, contribuindo para a questão da sustentabilidade, tão necessária na atualidade.

 

E quanto as tendências? Elas perdem importância nesse contexto?


As tendências são essenciais nesse mercado. Desempenham seu papel e movimentam uma enorme cadeia produtiva. Entretanto, nós não temos que seguir cada uma delas, à risca, caso contrário, a gente deixa de ser quem é. Temos que escolher, dentre as tendências, o que faz sentido, o que nos faz sentir bem, o que nos representa. Sair do ‘padrão’, do automático, de seguir o que é mostrado como referência de certo ou errado não é fácil. Mesmo que você esteja nesse movimento, vivemos em um mundo que cobra e julga o tempo todo. Mostrar que a moda é libertadora é um trabalho de formiguinha, feito aos poucos, mas que tem um potencial gigantesco de impactar positivamente a vida das pessoas.

 


Foto: Ju Rizieri

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