Desenhando na pele

Desenhando na pele

Além de contar histórias, a tatuagem se tornou uma forma de expressão, um estilo, uma identidade

*Matéria publicada na edição 1097 da revista Revide.

Há milênios, a prática de registar desenhos, símbolos e palavras, na pele, permeou por diversos povos do mundo. A indústria da tatuagem ganha fama diariamente, seja por conta do que ela representa, seja pela beleza, pela a estética e pela a arte. Muito além do simples desenho, a tatuagem possui muitas formas de ser elaborada.

Existem tatuagens Old School – ‘Velha Escola’ – o estilo mais tradicional, com contornos em negrito e uma paleta de cores mais limitada, como amarelo, vermelho, verde e preto; tatuagens Maori, feitas com desenhos tribais; tatuagens Fineline – ‘Linha Fina’ – apresentando um traço mais fino que demanda maior atenção, técnica e cuidado por parte do tatuador; entre outras. 

Contando histórias

Desde criança, a tatuadora Priscilla Maia se identifica com o mundo das artes. “Até a adolescência, eu queria trabalhar com algo relacionado a artes ou desenhos, mas, depois de fazer a primeira tattoo, já sabia que faria isso para sempre”, conta.

Priscilla, iniciou sua trajetória profissional como aprendiz, em 2009. Alguns meses depois, começou a atender em um estúdio. A tatuadora não aplica apenas um estilo a seus desenhos, mas os principais que compõem sua linha de trabalho e estudo são: desenhos geométricos, pontilhismo, mandalas, escritas, ornamentais e blackwork. “Cada um possui uma origem e, através deles, gosto de contar histórias. Se alguém me pedir elementos com significados específicos, gosto de criar a partir de símbolos sagrados, geometria e mandala. Com isso, consigo inserir na arte um pouco de cada área de estudo, como o pontilhismo e a ornamental”, explica. 

Priscilla tem como foco principal de seus trabalhos, tatuagens geométricos, pontilhismo, mandalas, escritas, ornamentais e blackwork

Para ela, os estilos podem se complementar. O principal é que a ação resulte em um trabalho harmônico e bonito a longo prazo. Como grande admiradora de artes em geral, Priscilla vê a tatuagem com esses mesmos olhos, em resumo, para ela, são obras de arte com histórias muito pessoais.

“Cada trabalho conta, ao mesmo tempo, um pouco da história do profissional e do cliente. É possível marcar na pele um amor, uma superação, uma lembrança ou, até mesmo, um ornamento feito por estética”, detalha. De acordo com a tatuadora, durante muito tempo a tatuagem foi marginalizada, mas, hoje em dia, a visão mudou. “Costumo falar que ‘diferente nos dias atuais é quem não tem nenhuma tatuagem’. Percebo que vai além de apenas uma busca por desenhos no corpo, mas sim uma busca por identidade”, finaliza. 
Liberdade de escolha

Conhecido pela delicadeza e traços finos nas tatuagens, Lucas Gouveia Zeoti iniciou nesse meio em 2013, durante o período da faculdade na Universidade de São Paulo – USP –, onde cursava Economia e Contabilidade.

“Totalmente de forma despretensiosa, acabei conhecendo a profissão de tatuador e, desde então, entrei de cabeça. Realizei vários tipos de workshops, desde máquinas, realismo, oriental e até mesmo camuflagem de estrias, onde fui pioneiro a trazer esse método para Ribeirão Preto”, conta. Para ele, a tatuagem construiu sua vida. “Ela me proporcionou coisas que eu nunca imaginei conquistar. Dá liberdade para trabalhar o horário que eu quiser, da forma que eu quiser. Acredito que tatuagem é isso: Liberdade de escolhas”, declara. 

Além disso, o tatuador afirma que a tatuagem nada mais é do que uma forma de expressão. “Ela pode ser caracterizada de várias formas. As pessoas marcam a sua pele para o resto da vida para homenagear um amigo ou um parente querido, seja ele vivo ou falecido. Pessoas fazem tatuagem como uma forma de expressar seus sentimentos através de palavras ou desenhos. E, hoje em dia, também estão levando a tatuagem para um lado mais estético, com desenhos, muitas vezes, sem nenhum significado pontual. Isso é super legal, pois é mais uma forma da pessoa expressar seus sentimentos, mas de forma visual. Aquele conceito de tatuagem ser algo marginalizado está, cada vez mais, ‘caindo por terra’”, alega.

Lucas Zeoti acredita que as tatuagens representam liberdade de escolha

Registrando significados

A atriz e criadora de conteúdo Thaylise Fogaça Pivato sempre enxergou beleza na tatuagem. “Comecei a me tatuar porque eu sempre achei muito bonito. Eu queria começar a registrar algumas coisas importantes e significativas na minha pele”, recorda.

Apesar de prezar pelo significado, a atriz conta que não teria problema em tatuar desenhos apenas pela estética. “Hoje, todas têm algum significado. Algumas delas são: a constelação do meu signo, que é aquário; tenho um foguete, que é da frase ‘foguete não tem ré’; e tenho uma em que eu coloquei um cérebro dentro de um coração para me lembrar de colocar mais razão nas minhas emoções”, descreve. Atualmente, Thaylise possui 17 tatuagens e nunca se arrependeu de nenhuma. Segundo ela, por ter a cicatrização da pele mais acelerada, o processo de cuidados é bem tranquilo. “Eu deixo de comer as coisas que o tatuador pede na semana em que a tatuagem é feita. E, se eu for para a praia, nas primeiras semanas, passo bastante protetor. Mas, não tenho nenhum cuidado específico”, explica.

Também prezando mais pelo valor significativo, o profissional de educação física Murilo Darahem Kohn Bredariol começou a se tatuar aos 18 anos, mas, conta que, desde os 15 já sentia vontade de registrar desenhos na pele. “Eu queria desde os 15 anos, porque tinha um tio que era todo tatuado. Eu gostava, achava legal! Mas, minha mãe não permitiu, porque eu era muito novo. Ela deixou só quando fiz 18. Foi bom esperar, criei um propósito para as tatuagens e não fiz somente porque achava bonito”, revela.

Atriz e criadora de conteúdo, Thaylise Pivato, preza por tatuagens com significado

Bredariol tem três tatuagens. A primeira é de um Sol, nas costas. Segundo ele, sem o Sol não existe vida na terra. As plantas não cresceriam e, consequentemente, não existiria oxigênio. “O espetáculo nas manhãs e finais da tarde é um extra. Para minha vida como treinador, empresário e atleta, eu sempre vou precisar de muita energia”, declara.

Além disso, Bredariol tatuou o seguinte verso do médium Chico Xavier: “O que sentes, revela o rumo para onde te diriges. O que pensas, te aponta o lugar em que te encontras. O que falas, indica o que sabes. O que fazes, mostra quem és”. Para ele, o verso diz exatamente o que o ser humano é. “Por isso, devemos sempre estar atentos as nossas atitudes, nossos pensamentos, nossas vibrações e fazer tudo com muito amor para viver a vida da melhor maneira”, esclarece. Por fim, o educador físico descreve a arte geométrica que fez em homenagem a sua cachorra Kona. “Ela é diferenciada, entrou na minha vida e me completa em tudo. Muito expressiva, carinhosa, super companheira e me acompanha durante todos os dias no meu trabalho”, pontua.

Incorporando o estilo

Aos 13 anos, a profissional de educação física Marília Ferreira embarcou no estilo tatuado. Sua primeira tatuagem foi uma rosa, devido ao grande amor pela banda Guns N’Rose. Com mais de 50 tatuagens, Marília conta que sempre escolheu pelo desenho, apesar de ter algumas com significados especiais.

“Tenho um número marcado no meu braço, que é um número de competição, de quando competi no regional da América do Sul de Crossfit. Outra é um bulldog, que foi meu filho de quatro patas. Ele faleceu e eu quis homenageá-lo. É uma forma de sempre ter ele comigo. Desenhei ele na minha perna com uma frase e a data de nascimento. Também tenho uma mandala no braço. Meu marido que me deu, então ela tem um significado muito especial para mim”, conta.

Seguindo o estilo Old School, a educadora diz que o processo é dolorido, mas que, de tanto fazer, já se acostumou. Além disso, Marília preza muito pela segurança com o profissional. “A primeira coisa que vejo é o traço do tatuador, higiene e o local que ele faz. Hoje, tatuo com uma amiga minha e não troco ela por nada”, conclui. 

Atualmente, Marília tem mais de 50 tatuagens


Foto: Arquivo pessoal/Revide

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