Ribeirão Preto está no mapa do assédio às mulheres

Ribeirão Preto está no mapa do assédio às mulheres

“Nós estamos fartas disso e queremos mudanças imediatamente”, diz criadora do aplicativo, a estudante Catharina Doria, de 17 anos

Ribeirão Preto já tem mais de 50 registros de assédio contra mulheres. Os registros estão no aplicativo "Sai Pra Lá", idealizado pela estudante Catharina Doria, de 17 anos, que conversou com o Portal Revide sobre a iniciativa. O objetivo do app é registrar quando situações de assédio ocorrem nas cidades brasileiras, para que nada passe batido, já que poucos casos são registrados.

“Estamos nos conscientizando de que o assédio, que antes era parte do cotidiano, e esquecido, não é algo aceitável. Nós, mulheres, estamos fartas disso e queremos mudanças imediatamente”, diz Catharina, que viu uma grande adesão do aplicativo, tanto que poucos dias após o lançamento, o software já não suportava a grande demanda, e só funcionava corretamente em horários com pouco tráfego. Segundo a idealizadora do projeto, isso ocorreu “pois muitas mulheres, que antes acreditavam não ter voz, estão se empoderando”, diz.

Ela, que para desenvolver o aplicativo usou o dinheiro que pretendia pagar a viagem de formatura, resolveu apostar nisso depois que foi chamada de “gostosa” em uma rua, em São Paulo, onde vive. Dentro de casa, Catharina recebeu o apoio da mãe, e as amigas também concordaram com a ideia.

“Sempre me dizem que já estava na hora de alguém encontrar uma maneira ‘atual’ de combater o assédio”, afirma a estudante, que acredita que o "Sai Pra Lá" ajuda a trazer a “consciência de que o assédio não é algo normal”, e ela também pensa em discutir com organizações públicas ações para se trabalhar com os dados levantados pelo software.

Mas para isso, ainda é necessário investir no projeto, já que ele necessita de ser ampliado, devido a grande repercussão que teve nos primeiros dias disponível para o download, e para isso é preciso patrocínios.

MANIFESTAÇÕES

Mais de 300 manifestantes realizaram um protesto no Centro de Ribeirão Preto, no último sábado, 7, contra Projeto de Lei (PL) 5069/2013, do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), que dificulta o socorro de pessoas que sofreram abuso sexual.

Esse foi mais um dos assuntos que tomaram discussão na sociedade brasileira nas últimas semanas, desde que o Exame Nacional do Ensino Médio trouxe como tema da redação “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira", no qual foi abordado uma citação da filósofa francesa Simone Beauvoir, por tratar, especialmente dos direitos das mulheres.

O debate trouxe à tona a discussão do machismo no Brasil, e do desrespeito com as mulheres. Isso foi o impulso para surgirem ações como a campanha #AgoraÉQueSãoElas, na imprensa, e Primeiro Assédio, no qual personalidades relataram a primeira vez que sofreram algum tipo de assédio sexual, para propor uma reflexão.

A PL

A respeito da PL 5069/13, Catharina acredita que é “um absurdo” obrigar uma mulher a mulher passar duas vezes por uma situação tão ruim, pois acha que essa pessoa “já sofreu o suficiente”.

“Isso é fazê-la reviver o ato em si. Precisamos ajudar e acolher mulheres que sofreram abusos, e não fazer com que elas se sintam culpadas”, aponta a estudante, que vê com bons olhos grupos saindo às ruas cobrando os próprios direitos.

Na Espanha

Mas a questão do machismo, do assédio e da violência contra a mulher não está sendo discutido apenas no Brasil. Também no último sábado, milhares de pessoas tomaram as ruas de Madri, capital da Espanha, por ver no país europeu um crescente número de assassinatos de mulheres, sendo registrados 41 somente neste ano.

Revide On-line
Leonardo Santos
Foto: Arquivo pessoal

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