Show com Édith Piaf e centenário de Ribeirão Preto: conheça o pianista Paquito
Paixão desde criança mantém a energia de Paquito durante suas apresentações no Hotel JP

Show com Édith Piaf e centenário de Ribeirão Preto: conheça o pianista Paquito

Aos 90 anos de idade, José Antônio Peinado se apresenta toda semana no Hotel JP e coleciona grandes histórias em 79 anos como músico

Toda sexta-feira, José Antônio Peinado, de 90 anos, chega ao Hotel JP, situado na Via Anhanguera, em Ribeirão Preto, por volta das 18h30. Sempre com seu terno e gravata, acompanhado de sua mala com todas as suas partituras, ele logo se dirige ao balcão de bebidas e pede uma xícara de café e um copo d'água. O garçom cumprimenta pelo apelido. “Boa noite, Paquito!”, diz o funcionário do hotel.

“O nome vem do meu irmão, que era chamado de Paco. Nós dois éramos músicos e um dia um professor nosso resolveu me chamar de Paquito”, explica José. Nascido em São Paulo, ele possui descendência e cidadania espanholas. Seus pais nasceram na Espanha, na região de Granada, e vieram à capital. O pai trabalhou na primeira ferrovia do Estado de São Paulo, a São Paulo Railway (SPR).

Ao contrário da trajetória de sua família, que não tinha nenhuma relação com a música, Paquito começou a ler partituras com apenas cinco anos de idade e aprendeu a tocar trompete, piano e órgão em missas nas igrejas. O músico diz que não foi fácil. “Desde menino eu ia pra rua engraxar sapato, vender leite de cabra, mas nunca deixando a música de lado”, ele explica.

Na década de 40, Paquito começou a tocar em cassinos até a proibição dos jogos de azar no Brasil, estabelecida por lei pelo presidente da época, Eurico Gaspar Dutra, em 1946. José decidiu deixar o Brasil e viajar pela Costa do Oceano Pacífico, percorrendo países como Argentina e Chile, conhecendo as culturas e as tradições musicais de cada povo.

Em 1950, voltou para o País e participou da inauguração da primeira emissora de televisão do país, a TV Tupi, aberta por Assis Chateaubriand, no dia 18 de setembro daquele ano, em São Paulo. Lá, conheceu o pai de Hebe Camargo, Sigisfredo Monteiro Camargo, que tocou violão ao lado de Paquito.

Paquito mostra uma das partituras que colecionou ao decorrer de sua carreira

Anos depois, em 1956, o músico participou da turnê de São Paulo de uma das maiores lendas da história da música, a francesa Édith Piaf, apenas sete anos antes de a cantora morrer na França. “Lembro que, na época, ela já estava viciada em morfina, envolvendo-se com drogas, era uma pena. Mas foi um show que não esqueço, todos me perguntam e querem saber sobre isso”, conta Paquito.

Em 1976, Paquito deixou São Paulo e chegou a Ribeirão Preto. Apesar disso, ele conta que já conhecia o interior paulista. “Eu era convidado para tocar em formaturas da USP nos anos 50 e, em 1956, fui chamado pelo Cóstabile Romano, prefeito na época, para a comemoração do primeiro centenário da cidade”, diz o músico. “Já já eu participo do outro!”, brinca Paquito.

José é casado há 66 anos com Wilma Miani, de 89 anos. O casal mora no Jardim Paulistano e tem cinco filhos. O caçula da família, de 53 anos, participou da orquestra juvenil de Ribeirão Preto durante a época do trágico incêndio do Theatro Pedro II, em julho de 1980.

Há 22 anos se apresentando e entretendo adultos e crianças no Hotel JP, Paquito toca todas as sextas-feiras e sábados, das 19h às 22h30, no Restaurante Bouganville, com música clássica e melodias de músicas famosas e trilhas de filmes que divertem todas as famílias presentes no local.

José foi convidado pessoalmente pelo dono do local, que fez questão de que o músico fosse uma atração do hotel. “Diziam que o piano toma espaço tomava espaço das mesas. Ainda bem que o Jeremias, dono do hotel e amigo meu, não concordava com isso”, conta Paquito, sorridente.


Fotos: Pedro Grossi

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