Tatuadoras ribeirãopretanas vencem o machismo e se estabelecem como referência
Brenda Falcão e Priscilla Maia contam como conseguiram fazer carreira no mundo da tatuagem

Tatuadoras ribeirãopretanas vencem o machismo e se estabelecem como referência

Duvidas acerca do trabalho e piadas não impediram o sucesso dessas duas mulheres

Mulheres também têm de lidar com preconceito no mundo artístico. Priscilla Maia, tatuadora ribeirãopretana, já ouviu pessoas duvidarem de que o trabalho dela havia sido feito por uma mulher. Brenda Falcão, também de Ribeirão, foi alvo de piada machista enquanto tentava encontrar uma oportunidade para iniciar a carreira. As duas superaram as adversidades e hoje são artistas referências na área.

Brenda FalcãoBrenda Falcão começou aos 17 anos

Brenda Falcão fez a primeira tatuagem por curiosidade aos 17 anos. "O resultado foi bacana, então passei uns seis meses fazendo alguns trabalhos, aprendendo", diz. Aventurava-se com amigos que topavam ser cobaias. Na época, não cobrava, ou apenas pedia o valor dos materiais gastos.

Depois de um tempo, resolveu fazer um curso de Publicidade e Propaganda e parou de tatuar e ir ao estúdio que havia oferecido lugar para ela. Aos 20 anos de idade, decidiu trancar o curso e voltar a se dedicar às atividades artísticas, inclusive às tatuagens.  

Quando estava procurando estúdios para trabalhar, um deles disse a ela para voltar na semana seguinte. "Quando voltei, ele me disse que já tinha conseguido alguém para limpar o chão", lembra Brenda. "Foi uma das cenas mais marcantes da minha vida". Foi aí que ela decidiu que realmente seria tatuadora. "Parece sempre que é um grande esforço reconhecer a competência das mulheres".

Muitas mulheres procuram Brenda por ela ser mulher tambémBrenda sente que o mercado da tatuagem é majoritariamente masculino e cheio de grupos, porém anda vendo ascensão das mulheres no ramo, e fica feliz com isso. "Acredito na tatuagem como ferramenta para contribuir com a autogestão feminina, que proporciona liberdade e qualidade de vida", comenta. 

Muitas mulheres procuram Brenda por ela ser mulher também. "Não podemos nos sentir sempre à vontade com profissionais masculinos", ela diz. Apesar disso, ela não limita o público, mas fica feliz, pois sente que as mulheres estão cada vez mais unidas. "Algumas nos procuram porque o marido não quer que tatuem com mulher, outras por não terem feito tatuagem com mulher ainda e algumas vezes por eu ser negra", adiciona.

O trabalho que Brenda desenvolve é sempre pautado em três palavras: itinerante, coletivo e acessível. "Por mais profissional que eu me torne, a tatuagem merece ser acessível, inclusive por ser vista com maus olhos quando nas classes mais baixas", diz. Por conta disso, ela busca oferecer acessibilidade e qualidade no serviço. "Isso também é um exercício de coletividade".

E, com isso, vem a parte itinerante. Brenda leva o trabalho dela a outras cidades e pessoas. "Meu trabalho me permite viajar, aprender e melhorar", cita. Através da tatuagem, chegou a uma autonomia que não imaginava tão cedo na vida dela. "Cada vez mais meu compromisso é amor pela profissão e tudo que vem com ela", conclui.

Pri MaiaPriscilla Maia ama desenhar desde criança

Priscilla Maia ama desenhar desde criança, e já questionava se trabalhar em algo sem relação com arte a faria feliz. "O interesse pela tatuagem foi algo que me pareceu inevitável", ela diz. Priscila começou trabalhando com body piercing, mas colegas diziam que ela levava jeito para tatuagem, então ela passou a se dedicar mais ao estudo de desenhos. "Quando fiz minha primeira tatuagem, não me imaginei fazendo outra coisa", lembra.

Ela diz que nunca sofreu preconceito no meio exclusivamente por ser mulher. "Já ouvi comentários de clientes que mostram as tatuagens pra amigos ou parentes e escutam 'nossa, mas foi uma mulher quem fez?'", comenta. Isso, de certa forma, a motiva. Ela sente mais vontade de mostrar tudo o que as mulheres são capazes de fazer.

Priscilla diz que nunca sofreu preconceito no meio exclusivamente por ser mulherApesar de ter clientes de ambos os sexos, percebe que algumas mulheres se sentem mais confortáveis ao serem tatuadas por outra mulher. "A grande maioria tem preferencia por trabalhos mais delicados e associam isso a mãos mais leves, o que as fazem procurar uma tatuadora", coloca Priscilla.

Sob supervisão de Marina Aranha.


Fotos: Brenda Falcão/Priscilla Maia

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