Venezuelano encontrou em Ribeirão Preto a chance para uma vida melhor
Aldo saiu da Venezuela com R$ 400 no bolso e inúmeros objetivos

Venezuelano encontrou em Ribeirão Preto a chance para uma vida melhor

Aldo Calle trabalha há quatro meses em uma padaria na Zona Sul de Ribeirão Preto e considera que o Brasil é um ‘país de oportunidades’

Poco a poco”, essa é a estratégia adotada pelo venezuelano Aldo Calle, que há quatro meses vive em Ribeirão Preto. Aldo saiu da Venezuela em razão da crise política que o país vizinho vem passando. Ele veio tentar encontrar possibilidades no Brasil e elas vêm aparecendo, permitindo que ele planeje alcançar mais objetivos no ano de 2019.

Aldo trabalha em uma padaria na Zona Sul da cidade, local onde conseguiu trabalho logo na primeira semana em que chegou. Apesar de ter um sotaque puxado para o castelhano, tem recebido elogios dos clientes que atende.  

“Ainda falo enrolado (risos). Muitas vezes, quando me ligam, a pessoa faz o pedido, mas, antes de desligar, perguntam: ‘você é de onde?’, ‘você é argentino?’, ‘você está falando bem o português’. Eu estou falando bem, mas ainda é um pouco enrolado”, relata o atendente, que é formado em uma profissão bem diferente da que atua no Brasil.

Leia mais:
Venezuelano encontra em Ribeirão Preto um lugar para sair da crise
Venezuelanos precisam de doações enquanto aguardam tratamento de filho em Ribeirão

Aldo Calle é graduado em engenharia de petróleo e, antes de deixar a terra natal, trabalhava na estatal venezuelana de exploração do produto. Apesar d o emprego parecer muito bom, o salário na Venezuela, segundo ele, dava apenas para comprar um frango inteiro e um saco de farinha no fim do mês.

A princípio, a mãe de Aldo não queria que o filho deixasse o país para tentar a sorte no Brasil. Opções como Colômbia e Argentina, em razão do idioma, eram mais requisitadas pela família e amigos. No entanto, Aldo acreditou que o desafio no Brasil ia ser mais enriquecedor, justamente pela diferença de idiomas, e preferiu atravessar a fronteira, entrando no País através de Roraima.

“Minha mãe achava que eu ia terminar no ônibus vendendo bala. Aí, eu disse: mãe, eu vivendo de bala, dando para eu viver e ajudando você, é melhor do que eu estando na Venezuela, onde posso ser chamado de engenheiro, quando, realmente, não está compensando”, relembra o rapaz, de apenas 25 anos de idade, que vendeu os pertences que tinha em seu país para tentar a vida em terras canarinhas.

Aparelhos eletrodomésticos, como televisão e ferro de passar, foram vendidos. Além disso, ele pegou o pagamento das férias que a empresa em que trabalhava lhe devia. A soma chegava a 80 milhões de bolívares, a moeda venezuelana. Quando chegou a uma casa de câmbio na fronteira, uma surpresa tragicômica: todas as economias que o engenheiro tinha não somavam mais do que R$ 400.

Com alegria, no entanto, ele consegue driblar os obstáculos e a enxerga como oportunidades que aparecem na vida. No emprego que conseguiu em Ribeirão Preto, economizando, ele já conseguiu comprar alguns itens de que tinha se desfeito, além de poder ajudar a mãe e a irmã, que continuaram no país vizinho.

“Ser estrangeiro abre muitas portas, porque as pessoas perguntam como está a Venezuela, questionam como eu vejo o Brasil, e isso ajuda a abrir a cabeça das pessoas e ver que o Brasil é um país de oportunidades. O que precisamos é enxergar isso e sonhar com essas oportunidades. Você não precisa sair. Seu país não está em crise, seu país não está em guerra. Você, somente, precisa trabalhar por ele. Se você não tem essa visão, pode chegar na Argentina, nos Estados Unidos e não vai acontecer nada”, analisa.

Estudo do português o trouxe para a região

Aldo Calle conta que, antes de chegar em Ribeirão Preto, ele se hospedou com uma família de Orlândia. Ele conheceu a família por meio de uma de suas filhas, na internet, em um curso de idiomas. Enquanto a garota ensinava Aldo o português, o rapaz ensinava, para ela, o espanhol.

No entanto, a vontade de não precisar depender dos outros o fez sair de Orlândia e procurar uma oportunidade em Ribeirão Preto. “A ideia é sempre ir subindo. Uma escalada, sem pisar em ninguém que ficar embaixo. Sempre tentando ajudar o outro”, relata o venezuelano, que faz planos para 2019.

A intenção do rapaz é conseguir uma casa, para que possa trazer a mãe e a irmã, que ficaram na Venezuela, para o Brasil, já que ele não vê perspectivas no país vizinho enquanto não houver mudanças no comando. Enquanto isso, o rapaz tem a intenção de melhorar ainda mais o conhecimento da Língua Portuguesa e tentar validar o diploma de engenheiro no Brasil, para, quem sabe, um dia poder atuar em sua formação.


Foto: Leonardo Santos

Compartilhar: