Do berço ao picadeiro: conheça as histórias de quatro mães que se equilibram dentro e fora dos palcos
Confira a reportagem especial que o Portal Revide preparou para o Dia das Mães

Do berço ao picadeiro: conheça as histórias de quatro mães que se equilibram dentro e fora dos palcos

Com uma rotina diferente das demais, a arte se faz presente no desenvolvimento diário dos filhos

Para este Dia das Mães, o Portal Revide entrevistou quatro mães que dominam não só a arte de ser mãe, mas também a circense. Entre uma acrobacia, cambalhota ou palhaçaria, elas cuidam de seus filhos com mágica.

Iana Montanha

“Eu trouxe ela para nossa rotina, mas claro que respeitando os limites. Essa é a facilidade, ela pode ficar com a gente aqui, além de adorar este ambiente. Eu fico ansiosa para saber quando vai ser a primeira cambalhota”, conta a acrobata Iana Montana, de 33 anos, mãe da Ísis, de nove meses.

Iana sempre esteve envolvida com arte. Formou-se em Artes Cênicas, e foi durante o processo de criação de uma peça de teatro que ela descobriu o mundo do Circo. E, nessa descoberta, Iana pode afirmar que se encontrou. Conheceu seu marido, Rafael Rodrigues, e um mundo de magia apaixonante. Hoje, os dois (e agora a Ísis também), fazem parte da Cia. ELA mais EU.

Durante a gravidez, Iana continuou treinando, mesmo que aos poucos. Os treinos eram essenciais para que ela conseguisse retomar o condicionamento após o nascimento da Ísis. “Me cuidei bastante, mas treinei porque a gente depende do corpo, eu fiquei com medo da recuperação demorar muito tempo. Por isso, fui encontrando alternativas para poder treinar. Hoje, eu treino menos do que antes, mas as coisas estão fluindo.”

Com uma rotina completamente diferente, ela se contorce entre as acrobacias do circo e os afazeres de mãe. É entre os tecidos e colchonetes da escola de circo que a Ísis passa grande parte do seu dia. Ainda pequena, ela já conhece os aparelhos e se alegra ao assistir e participar das aulas, espetáculos e viagens. “Nós continuamos viajando e ela sempre vai junto. Ela já conheceu muitos lugares e já assistiu diversas apresentações. Tivemos que fazer algumas adaptações, como, por exemplo, fazer mais paradas, dormir em lugares melhores, mas é muito tranquilo”, relata Iana.

Mesmo com convicção de que cultura e educação caminham juntos, ela conta a dificuldade que é viver de arte no cenário atual do país. “Optar por viver de arte hoje é uma decisão difícil. As pessoas ainda não enxergam como profissão. Tem lugares que valorizam, mas é difícil. É uma luta diária e eterna, mas é a vida que eu escolhi e que eu amo.”

Anália Foresto




Foi enquanto trabalhava em um escritório que Anália Foresto, de 27 anos, teve o seu primeiro contato com o circo. A primeira aula foi suficientemente encantadora para que fizesse com que ela descobrisse que era ali que gostaria de viver. Após algum tempo dando aulas, decidiu que largaria o trabalho no escritório para viver somente do circo.

Pouco tempo depois, veio Helena. Mesmo sabendo das dificuldades financeiras de se trabalhar com arte, Anália persistiu no sonho. Com a intenção de fazer parto normal para ter uma recuperação mais rápida e tranquila, ouviu dos médicos que teria que parar de treinar, então deu continuidade somente as aulas.

Após o nascimento, mesmo com uma rotina mais leve de treinos e aulas, Anália continuou presente no mundo do circo, e Helena também. “Desde pequena ela sempre vai comigo aos ensaios, por bastante tempo eu dei aula com ela no colo. E quando ela começou a andar, tinha bastante medo e sempre que eu subia nos aparelhos ela chorava. Mas hoje, sempre que a gente chega ao local de ensaio ela pede os aparelhos para brincar. Ela gosta muito, já pegou amor. Ela adora o tecido e começamos a fazer portagem juntas agora”, conta a artista.

Anália não só organiza a vida de treinos com a de ser mãe, como também inclui Helena, de três anos, no encantador mundo do circo. Mas não foi sempre assim, há um ano e meio, quando descobriu que a filha tinha autismo, ela se questionou sobre continuar ou não com as rotinas de aulas e treinos. Hoje, após um período de adaptação, Anália afirma que trabalhar com arte faz com que ela consiga uma relação muito mais presente com a filha. “Eu consigo continuar minhas atividades, mas eu preciso de um tempo só pra ela. E, mesmo com os treinos, a vida que eu levo hoje me proporciona isso. Eu tenho mais flexibilidade de horários, consigo me dedicar mais a ela. E, para o diagnóstico dela, a arte é muito importante, ela adora.”

Michelle Maria



A vida sem rotina de Michelle Maria, de 36 anos, e de sua filha, Clara, de oito anos, faz com que a relação delas seja cheia de amor, magia, experiências e encantamento. E foi em um desses momentos de encanto, em um festival de circo, que Clara deu os seus primeiros passos.

Michelle já atuava no circo antes da Clara nascer, mas precisou parar e, quando voltou, foi de forma mais intensa. Sua volta foi após conhecer e produzir o espetáculo de Tatiane Cola e Thata Cola, duas malabaristas que hoje são suas grandes amigas e companheiras de lar. Desde então, elas ajudaram a fundar o CabarElas, um coletivo integrado por seis mulheres do universo circense que buscam promover espetáculos com protagonismo feminino.

Michelle conta que quando Clara nasceu os ensaios eram das 8h às 17h. “Ela sempre esteve comigo nos ensaios, desde a gravidez. Sempre esteve nos encontros e nos festivais, viajamos muito. É uma rotina de não ter rotina e também um processo de abertura de mão dos dois lados.”

Vivendo em uma casa onde todas são mulheres e artistas, Clara possui uma vasta consciência de mundo e já tem responsabilidades nas produções culturais. Recentemente, ela fez um curso de palhaçaria e foi assim que surgiu a palhaça Marreta, personagem dela. Agora, Clara também se apresenta nos festivais de circo. “Ela já sabe diferenciar a relação maternal e a relação de quando estamos nos festivais trabalhando e apresentando. Também sempre sabe onde estão os figurinos, sabe do que ela vai precisar, dos processos de montagens e dos horários de ensaio”, conta Michelle.

Elas contam que, a cada ano, é um novo processo na escola. “Muitas vezes, a Clara precisa faltar da escola para viajar, mas os professores entendem, conversamos, pedimos as atividades da escola com antecedência. Tudo precisa estar sempre sendo conversado, mas dá certo”, conta a mãe.

Além de atuar no Circo, Clara também faz aulas de ginástica olímpica e, mesmo querendo fazer muitas coisas, diz que o seu maior sonho hoje é participar das olimpíadas.

Luciana Donega

Luciana se formou em enfermagem, atuou na área e depois gerenciou um banco, mas foi nas lonas e na estrada que ela se encontrou. Incentivada pelo marido, que já atuava na área como palhaço, ela decidiu sair do seu emprego para seguir carreira como produtora cultural em uma companhia de circo. Entre uma produção e outra, ela foi se interessando pela palhaçaria e acabou descobrindo um novo mundo.

Luciana, seu marido e os três filhos, Luara de 17 anos, Davi de 15 e Isaac de 10, formam a companhia Pé de Chinelo. Um circo familiar, onde a união e a arte se fazem presente.

Desde que saiu do emprego de gerente, Luciana conta que a vida mudou por completo. “Em relação as crianças, por exemplo, eu consigo ter uma relação mais presente agora. Passamos mais tempo juntos, mesmo durante o período de trabalho, porque a intenção é que nos apresentemos sempre juntos. Eles só ficam em Ribeirão quando é período de prova e não tem como adaptar.” Mas, apesar de passarem mais tempo juntos, ela afirma que nem sempre é fácil se organizar como mãe e produtora.

Hoje em dia, vivendo apenas de circo, a companhia da família é referência. Os filhos, que já assistiram aos maiores palhaços deste país, neste mês seguem viagem para 15 apresentações com os pais. Luara trabalha na produção dos espetáculos e Davi e Isaac fazem parte da palhaçaria e dos malabares. “O que eu acho mais interessante é que como eles viajam muito com a gente, eles já têm um conhecimento dos lugares que vão e uma responsabilidade diferente das crianças da idade.  Eles são proativos e separam bem o horário do trabalho com o horário da família”, conta Luciana.


Fotos: Líria Machado

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