“Vamos separar o Estado por regiões administrativas, porque as diferenças de PIB são fortes”, diz secretário
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“Vamos separar o Estado por regiões administrativas, porque as diferenças de PIB são fortes”, diz secretário

Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Lima, explica como o governo pode apoiar projetos dos empresariado para fomentar a economia na região de Ribeirão Preto

Em evento que reuniu autoridades regionais, lideranças empresariais da indústria e entidades atreladas ao setor de saúde, no auditório do Senai-RP, foi lançado o Polo de Saúde de Ribeirão Preto e Região Metropolitana. Elaborado pela Direção Regional do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), com apoio do SUPERA Parque, APL da Saúde de Ribeirão/Região e Instituto Ribeirão 2030, o projeto tem por objetivo forjar o desenvolvimento econômico e a geração de emprego e renda na área de saúde, principalmente por meio da instalação de novas indústrias e do fomento e apoio àquelas já existentes na região.


A ideia surgiu de uma coalização de empresários formada sob incentivo do Secretário do Desenvolvimento do Estado de São Paulo, Jorge Lima, em sua primeira visita à região após assumir a pasta, em janeiro deste ano. “Precisávamos trazer os empresários de cada região para entendermos o que fazer em cada uma”, justifica o secretário, cujo último cargo público foi como assessor especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, na gestão de Jair Bolsonaro. Antes, foi secretário nacional de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação e coordenou um projeto de redução do Custo Brasil.


Engenheiro mecânico formado na PUC (MG), Lima orgulha-se de dizer que acumulou na iniciativa privada a experiência que aplica na vida pública. Trabalhou na Sudecap e na Vale, foi diretor executivo da Cushman Wakefield e, partir de 1995, atuou como CEO de grandes empresas.


Como secretário do Desenvolvimento Econômico do governador Tarcísio de Freitas, tem viajado pelo Estado formando coalizões com o objetivo e ouvir sobre as principais carências de potencialidades econômicas de cada região e, a partir desse conhecimento, incentivar a elaboração de projetos e planos de ação que alavanquem o desenvolvimento econômico e a geração de emprego e renda. Na de Ribeirão Preto, além do Polo de Saúde, Lima está apoiando outras duas propostas: de criação de uma Rota do Vinho e o projeto Território Criativo, de incentivo ao fomento do turismo nas 35 cidades da região metropolitana. 

 

Como funcionam as coalizões que o senhor tem formado no Estado desde que assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo?

 

Desde que o governador Tarcísio de Freitas assumiu, ele vem me dizendo que temos que enxergar o Estado de São Paulo como um país. Vamos ter que enxergar o Estado por regiões administrativas, porque as diferenças de PIB são fortes. Há quatro regiões que dominam 81% do PIB do Estado, que são Campinas, São José dos Campos, São Paulo e Sorocaba. Chamamos os empresários porque são eles que têm o dinheiro.

 

O poder público cuida de saúde, educação, etc, mas não é dono de empresa. Precisamos entender no que esses empresários acreditam, no que apostam, onde colocam dinheiro, quais suas dificuldades e o que o Governo do Estado precisa fazer para eles investirem mais, empregarem mais. Preferimos não ter políticos nas coalizões porque o Brasil ficou muito polarizado, muito político, e não queremos levar essa conversa para os processos eleitorais. Os empresários se reúnem e vão trabalhando e, à média em que os projetos vão surgindo, apresentamos ao poder público (prefeitos, vereadores e deputados), mas de forma apolítica. Tivemos 13 milhões e meio de votos, mas a nossa responsabilidade é para com 46 milhões de pessoas. E as coalizões estão funcionando super bem.

 

Quantas são até agora?

Eram 16 na ideia inicial, mas tivemos que quebrar algumas regiões por serem muito grandes, como as metropolitanas de São Paulo e Campinas. Com a quebra, devemos chegar a 19 coalizões. Faltam cinco para fechar o pacote. A de Ribeirão Preto foi a primeira que montamos. Aqui saíram os projetos Rota do Vinho, Polo de Saúde e Economia Criativa, que vamos fazer em cidades pequenas com Turismo.

 

Segundo o diretor do CIESP Ribeirão Preto, falta mão de obra técnica na área da saúde. O que o poder público pode fazer a respeito no curto prazo?

 

Temos que dividir em três etapas. Tem a formação de mão de obra técnica, e vi aqui que o resultado das ETECs é muito bom. Então, é sentar os empresários com o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Vahan Agopyan, e adequar os cursos, se já não estão adequados. A primeira coisa é: como o Polo precisa disso, esse curso fala com o curso técnico? Se ainda não fala, precisa implementar. Essa é uma. E as faculdades vão se adaptar e ter cursos que atendam ao polo. Mas essa é a formação mais longa. A qualificação de curto prazo é comigo. Eu treino no que você quiser. Eu vou treinar a qualificação, porque hoje o Governo quer empregar. Então, nada é mais objetivo e determinante para a gente, do que qualificar, gerando emprego e renda. A demanda vem do empresário, da Prefeitura. E aí, o Governo começa a conversar com eles.

 

Ele falou também sobre muitas start-ups promissoras que naufragarem na hora de arcarem com o custo regulatório, considerado pesado pelas lideranças. O governo está aberto a rever esses custos?

Eu juro para você que não conheço essa carga. Eu lembro que participei do Marco das Start-ups quando estava no Governo Federal, mas não me lembro. Estou mais preocupado com a gente não ficar fazendo start-up por fazer, porque vamos frustrar os jovens.  A start-up deve nascer de uma demanda, claro, ou uma percepção de algo que vai gerar demanda. Se começarmos a fazer start-up a torto e a direito, vamos frustrar essa juventude porque não vai dar dinheiro. A cada dez, vão fechar nove. Temos que ter esse cuidado. E considerar a vocação do local. Eu tenho que adequar o que é a vocação da cidade para esse parque.

 

Existe uma disposição da sua pasta de estudar esses custos para revê-los?

Estudo. A gente estuda tudo, mas nunca ninguém tocou nesse assunto comigo nesses oito meses que estou nesta pasta. Se precisar, eu analiso tudo. Porque nosso governo acredita que o diálogo com os empresários, com a Prefeitura, com a imprensa, com o Governo Federal é o que vai construir algo melhor.

 

Os projetos Rota do Vinho e Economia Criativa já têm propostas tão adiantadas quanto as do polo de Saúde?

Já, já estão trabalhando. Sobre a Economia Criativa você fala com a Adriana [Silva]. O de vinho está comigo. Estou falando sobre ele aqui e em São Roque. Falta só uma região para eu completar o ciclo e estou dependendo deles. Nós não devemos criar uma Rota do Vinho com nome de cidade, eu preciso de região, para o cara ter na cabeça: “Puxa, eu quero conhecer a Rota do Vinho da Região das Montanhas”, por exemplo. Eu preciso criar a rota com uma quantidade de aglomerações para que a pessoa possa ficar mais e despertar nela a curiosidade de conhecer região por região.

 

E no caso da Economia Criativa, como a Secretaria está preparada para dar suporte a esse projeto?

A mesma coisa. Estamos com a Desenvolve SP [Agência de Fomento do Estado de São Paulo] e com a InvestSP [Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade] ajudando. Estamos conversando com o Roberto de Lucena [Secretário de Estado] do Turismo. A gente faz muita transversalidade. Tem muita coisa de Cultura e a gente está conversando. Tem coisa de Ferrovia que a gente está conversando. A cada tema que envolve alguma dessas áreas, eu trato e faço a transversalidade para eles, para que não tenham que ir a 15 lugares. Fora isso tem a Desenvolve para emprestar dinheiro, tem o Banco do Povo, que empresta dinheiro. E tem a Invest, que faz estudos mais aprimorados. 

 

Saindo de Economia Criativa para Economia Solidária, qual sua visão sobre esse tema?

Não sei o que é Economia Solidária. Vou te falar... sou muito sincero. Nunca ninguém me procurou para falar de Economia Solidária. Sou de ação e reação. Eu preciso ser provocado. Um dia um cara virou pra mim e falou: “Você já ouviu falar em piscicultura?”. Eu: “já”. “São Paulo não tem piscicultura”. Ele me provocou e hoje já estou montando projeto de piscicultura para cá. Essa é a vantagem das coalizões, de conversar com as pessoas, porque ninguém sabe tudo. Cada hora eu levo um susto de alguém falar um negócio novo comigo. Um dia um catador me procurou e falou: “você falou que ia resolver nosso problema”. Eu arrumei os carrinhos, uma coisa simples, mas mudou a vida dos caras. Estou criando nos polos toda a área de empreendedorismo. Por exemplo, eu não acredito em você construir moradia para pessoas de baixa renda sem cuidar do entorno. Na Rota do Vinho é para criar no entorno da rota um bar, uma lojinha de artesanato. Eu chamo isso de empreendedorismo circular. Isso estamos fazendo.

 

Numa região conhecida por ser uma potência do agro, a que o senhor atribui ter surgido só um projeto ligado ao setor: a Rota do Vinho?

Não, são três: a Rota do Vinho, o Pólo de Saúde e a Economia Criativa. Estamos vivendo um momento ímpar de ensinar o empresário a parar de reclamar e construir. Não é fácil, porque fomos acostumados assim. É um processo de aprendizado, porque a primeira reação do empresário é defender o negócio dele. Ele quer discutir o negócio, mas quando o governo fala em mudar a região com a capacidade dele, tem aí um processo de aprendizagem. Existe também um processo que eu chamo de aculturamento, de dedicação ao setor público. Estou querendo que o empresariado use toda a criatividade para olhar não só o negócio dele, mas o todo. Você faz com que a pessoa participe do processo e vai criando uma percepção de participação e de comprometimento.

 

O senhor defendeu muito o tema da Liberdade Econômica. Como governo e empresários podem trabalhar juntos para torná-la realidade?

Primeiro nós regulamentamos a Lei [13.874/19] e criamos o Decreto que institui todo o nosso trabalho. Vai ter coisa que eu vou decidir com a minha competência, que sou Estado. E vai ter coisa que eu preciso da Assembleia. Aí entra o empresário para que, juntos, mostremos a eles o que o empresário quer. Porque tem muita gente que procura deputado para coisas dele, não do segmento. A outra ponta em que os empresários vão ajudar muito é junto às Prefeituras, porque com os dois modelos integrados sob uma mesma base tecnológica, a velocidade é maior. Há estudos que provam que, depois que você atua sob liberdade econômica, você aumenta 40% do emprego. É isso que estamos procurando. 


Foto: Divulgação

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