Novo reitor de USP pretende manter equilíbrio fiscal e trazer mais diversidade à instituição

Novo reitor de USP pretende manter equilíbrio fiscal e trazer mais diversidade à instituição

Carlos Gilberto Carlotti Júnior terá de enfrentar desafios do tamanho da responsabilidade de gerir a maior universidade do país

*Matéria publicada na edição 1096 da revista Revide.

Carlos Gilberto Carlotti Júnior toma posse no dia 25 de janeiro como o novo reitor da Universidade de São Paulo (USP). Como vice-reitora, pela chapa “USP Viva”, ele terá a professora Maria Arminda do Nascimento Arruda. As eleições para a reitoria da universidade ocorreram no dia 25 de novembro e foram disputadas por duas chapas.

Fizeram parte do colégio eleitoral os membros do Conselho Universitário, dos Conselhos Centrais – graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão – e das congregações das unidades e dos conselhos deliberativos de museus e institutos especializados, o que totalizou 2.121 eleitores, dos quais 2.002 (94,4%) registraram seus votos.

A chapa “USP Viva” recebeu 1.156 votos, enquanto a chapa “Somos todos USP”, formada pelos professores Antônio Carlos Hernandes e Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado, recebeu 795 votos. Apesar de ter feito parte da gestão atual, de Vahan Agopyan, como pró-reitor de pós-graduação, Carlotti era considerado o candidato da oposição.

Carlotti será o quarto reitor que se graduou no campus de Ribeirão Preto. Antes dele, vieram Hélio Lourenço de Oliveira, no final dos anos 1960; Suely Vilela Sampaio e Marco Antonio Zago, já nos anos 2000. Assim como seus antecessores, o novo reitor também tem formação na área da saúde e ciências biológicas.

Carlotti é médico formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), onde fez residência médica, mestrado e doutorado, além de participar de uma pesquisa de pós-doutorado no Canadá. Atualmente, é professor titular da FMRP na divisão de Neurocirurgia do Departamento de Cirurgia. Além de atividades clínicas, é responsável pelo Laboratório de Biologia Molecular.

À frente da maior universidade do país e uma das mais importantes da América Latina, Carlotti terá desafios do tamanho de sua responsabilidade. Durante o período pandêmico, a USP conseguiu conter gastos. No auge da crise financeira da universidade, entre 2014 e 2016, os gastos com a folha de pagamento superavam as receitas. Até o penúltimo trimestre de 2021, a folha de pagamentos respondia por 60% do orçamento da instituição.

A principal fonte de receita da USP, assim como de outras universidades no estado, é a cota fixa de 9,7% da arrecadação do estado com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Desde o início da pandemia, contudo, o Estado tem amargado recolhimentos abaixo do esperado. Além das questões financeiras, Carlotti também deve enfrentar as questões raciais e de gênero que já ocupam o debate público e, principalmente, o meio acadêmico.

O senhor citou ao longo da campanha que pretende melhorar a situação de gênero e étnico-raciais da USP. De que forma pretende fazer isso?

A USP fez um grande programa de inclusão social e étnico-racial, que precisa ser aperfeiçoado com um programa de permanência, garantindo uma percepção de pertencimento e que todos os alunos tenham as mesmas possibilidades ao se formarem. Em relação ao gênero, precisamos tornar o ambiente universitário mais receptivo para as mulheres. Por exemplo, durante o período da maternidade, é natural que a produção acadêmica diminua. Esse fato deve ser entendido e não utilizado para punir as professoras. Nossa proposta é a de criar uma pró-reitoria de inclusão e pertencimento para tratar de todos esses assuntos de forma planejada.

Antes da pandemia, a folha de pagamento da USP chegou a ultrapassar 100% do orçamento. De que forma o senhor pretende solucionar ou evitar esse problema?

A USP tomou medidas nos últimos anos para equilibrar o seu orçamento, incluindo um plano de demissão voluntária. Posteriormente, seguimos a legislação federal que impediu reajustes salariais e contratações nos últimos dois anos, período de alta inflação, com reflexos no ICMS, principal fonte orçamentária da Universidade. Todos esses fatores, em conjunto, trouxeram estabilidade orçamentária para a Universidade.

Professores e funcionários destacam a necessidade de reposição salarial e a contratação de mais docentes e servidores. Essas pautas farão parte da sua gestão?

Sim. Como disse anteriormente, nos últimos dois anos não foram realizados ajustes salariais na Universidade e a inflação tem sido muito elevada. É natural que consideremos recomposição salarial, respeitando o equilíbrio financeiro.

Assim que assumir, quais serão suas prioridades?

Buscar a excelência acadêmica, característica importante da USP. Para isto, precisamos valorizar as pessoas, incluindo apoio à permanência estudantil, organizar nossas pesquisas em centros interdisciplinares para sermos mais competitivos na busca de fomento e nos aproximarmos da sociedade, definindo propostas para políticas públicas e soluções para grandes problemas de São Paulo e do Brasil.

Para o senhor, o que significa receber a responsabilidade de ser reitor de uma instituição como a USP?

Realmente é uma grande responsabilidade dirigir a USP, por sua história e importância para a sociedade, mas sinto confiança pelas minhas experiências anteriores, como diretor da FMRP e pró-reitor de pós-graduação, e contar com toda a comunidade uspiana para compartilhar as decisões e implementá-las.


Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

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