Independência e Jardim Paulista: nosso bairro, nossa história

Independência e Jardim Paulista: nosso bairro, nossa história

De cafezais a ruas com nomes de cidades, estes dois bairros de Ribeirão Preto estão interligados por uma avenida de três nomes e têm muitas histórias para contar

Os bairros Independência e Jardim Paulista, ambos desenvolvidos ao longo do prolongamento da Avenida Independência — nomeada Meira Júnior um trecho e Cavalheiro Paschoal Innechi em outro, até seu encontro com a Avenida Mogiana —, são bastante similares.

 

De uso misto e com uma população que já vive há bastante tempo em sua área (e que não tem intenção de se mudar), são bairros considerados “tranquilos” para se viver, a despeito da insegurança generalizada na cidade, e possuem boas perspectivas de valorização, segundo especialistas. O Independência pela previsão de implantação do Novo Centro Administrativo e o Jardim Paulista pelo processo de verticalização que vem registrando nos últimos anos.

 

Trechos da História – Independência


Segundo informações levantadas pelas equipes da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano do Município, o bairro Independência foi aprovado em 21 de setembro de 1969 e projetado pela Integral Engenharia — processo nº 10.023/1996. Possui uma área total de 899.144,00 m² e 50 ruas e avenidas que fazem divisa com as vilas Cel. Quito Junqueira, Gertrudes, Morandini e Elisa. 


Desenvolveu-se na área sudoeste das fazendas Palmeiras e Morro da Vitória, atual parte debaixo da Avenida Mogiana, e nasceu, segundo Victor Estevão da Silva, jornalista fundador do jornal O Bairro — publicação que, entre agosto de 2019 e dezembro de 2021, dedicou-se a reunir informações e deixar registrada a memória do local e de sua gente —, de um loteamento construído pela Balbo.

 

“O bairro costuma ser, erroneamente, intitulado de Jardim Independência, porque, no documento oficial da Secretaria de Planejamento, consta apenas a nomenclatura Independência no mapa da área que, inclusive, forma o desenho de um sapato”, conta o jornalista. Para ele, possivelmente, o termo tenha se consolidado inspirado nos vizinhos Jardim Paulista e Paulistano e pela Transerp, ao colocar a abreviatura Jd. Independência na linha de trólebus 202, que passou a circular pelo bairro a partir de 7 de agosto de 1983. “Um antigo motorista me contou que estavam cansados de serem questionados pelas pessoas se a linha passava pela Avenida Independência e acharam essa solução para evitar a confusão”, explica Victor.

 

Segundo Victor Estevão da Silva, o bairro é equivocadamente chamado de Jd independência. “Na verdade é bairro Independência, segundo consta na documentação original e mantida na Secretaria de Planejamento, cuja checagem é pública”


Ainda de acordo com o jornalista, há teorias de que o bairro tenha recebido esse nome por ter seu marco zero no mês de setembro ou que esteja associado à saída de seus moradores do aluguel para a casa própria, como um marco de independência socioeconômica. A “Revista do Arquivo Municipal”, publicação da Prefeitura do Município de São Paulo, de 1945, que fornece nomenclatura das ruas, praças, bairros e vilas de Ribeirão Preto, à página 94, menciona os bairros Parque Independência e Vila Independência, com a denominação oriunda da Avenida Independência, nome dado em homenagem ao Primeiro Centenário da Independência do Brasil.


Na história do bairro, o Educandário e a Mogiana são apontados como os grandes impulsionadores do seu desenvolvimento. A criação do Abrigo de Menores de Ribeirão Preto, em 1938 — que passou a se chamar Fundação Educandário Coronel Quito Junqueira, em 1944 —, levou à abertura da Avenida Educandário (atual Coronel Quito Junqueira) para ligação da instituição com o Centro (por meio Avenida Saudade), o que teria contribuído com a ocupação da região. E a construção da nova estação ferroviária da Mogiana e da vila dos ferroviários (na atual rua Horácio Montenegro), no início da década de 1960, seria o estímulo decisivo para o desenvolvimento do bairro.

 

“Com exceção do Aeroporto, do Jóquei Clube e da indústria de óleos e derivados de algodão Sanbra, na década de 1930, a zona norte de Ribeirão Preto ainda podia ser considerada uma enorme área rural. Em 1967, no entanto, as antigas terras de Amadeu Braghetto Junior, Carlos Alberto Benelli Braghetto e Manoel Ferreira Leão foram desapropriadas para a construção de casas populares do futuro loteamento bairro Independência. A Construtora Balbo foi a responsável por erguer as casas, típicas de conjunto habitacional, e fez isso em duas etapas”, narra Victor, no jornal O Bairro.


Antigamente, o bairro era conhecido como “Sapolândia”, porque as lagoas da Paschoal Innechi atraiam muitos sapos e, também, vacas. Moradores mais antigos, que chegaram no início da década de 1970, comentam que tudo por ali ‘não passava de mato e sapo para todo lado’ e que o bairro foi cogitado para receber um cemitério. Seria onde funciona, hoje, o Quartel da Polícia Militar, mas, desistiram da ideia quando começou a minar água onde abririam as covas. Agora, em vez de cemitério, o bairro foi escolhido para receber o Novo Centro Administrativo de Ribeirão Preto, o que, se realmente sair do papel, deve inaugurar uma nova era na história do seu desenvolvimento. 

 

Os bairros Independência e Jardim Paulista, ambos desenvolvidos ao longo do prolongamento da Avenida Independência — nomeada Meira Júnior um trecho e Cavalheiro Paschoal Innechi em outro, até seu encontro com a Avenida Mogiana —, são bastante similares. De uso misto e com uma população que já vive há bastante tempo em sua área (e que não tem intenção de se mudar), são bairros considerados “tranquilos” para se viver, a despeito da insegurança generalizada na cidade, e possuem boas perspectivas de valorização, segundo especialistas. O Independência pela previsão de implantação do Novo Centro Administrativo e o Jardim Paulista pelo processo de verticalização que vem registrando nos últimos anos.

 


Área ao lado do Comando da Polícia Militar, na Avenida Cavalheiro Paschoal Innechi, está cogitada para receber o Novo Centro Administrativo da cidade. 

 

Mogiana

Criada pela Lei Provincial nº 18, de 21 de março de 1872, em que o Governo Imperial concedia privilégio e garantias para a construção de uma estrada de ferro ligando Campinas à Mogi Mirim, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação foi organizada por fazendeiros, seus principais acionistas, e o primeiro presidente foi Antônio de Queiroz Telles Barão, visconde e, depois, conde de Parnaiba, que exerceu a função de 1873 até 1886. Em 25 de abril de 1880, uma Lei Provincial concedeu à Companhia Mogiana liberação para a construção de uma estrada ligando Casa Branca à São Simão e Ribeirão Preto. 

 


Em 23 de novembro de 1883, foi inaugurada a estação Ribeirão Preto, construída, provisoriamente, nas proximidades do início da atual Avenida Caramuru. Em 7 de setembro de 1885, foi inaugurada a definitiva, próxima às margens do ribeirão Preto, sendo uma das mais importantes da companhia. Contava com despachos de encomendas, área livre para passageiros, telégrafo, sala de espera e restaurante. Em 1927, foram inaugurados armazéns (na atual área da rodoviária), casa de máquinas, oficinas e rotunda (na atual área da Câmara Municipal). 


Em 1964, seus trilhos começaram a ser retirados e, em 1967, essa estação foi demolida, após a estação Ribeirão Preto-nova (na atual Avenida Mogiana) — projetada por Osvaldo Arthur Bratke e que teve apenas sua primeira etapa concluída — passar a receber trens de passageiros, o que aconteceu em 1º de junho de 1965. Desde dezembro de 1961, a estação nova já recebia cargueiros e passou a ser o ponto de saída do ramal de Sertãozinho, que antes saía da estação de Barracão. Ela recebeu passageiros até 11 de agosto de 1997 e, em 2022, ainda servia como escritórios da VLI (ex Ferrovia Centro-Atlântica) e depósito de locomotivas.  [Fonte: Jornal O Bairro | estacoesferroviarias.com.br]

 

Educandário

 

Criado em 13 de maio de 1938, inicialmente com o nome de “Abrigo de Menores de Ribeirão Preto - Educandário Cel. Quito Junqueira”, e transformado em fundação no ano seguinte, o Educandário é uma instituição filantrópica — idealizada pelo casal Francisco Maximiano Junqueira, conhecido como Coronel Quito, e Theolina Zemilla de Andrade Junqueira, conhecida como Sinhá Junqueira —, das mais fortes e atuantes no amparo à pobreza, no incentivo à cultura e na proteção de crianças e adolescentes de famílias de baixa renda em Ribeirão Preto.

 

 

Responsável pela manutenção das atividades do Colégio Camillo de Mattos, da Escola de Educação Infantil Dr. Fábio Musa e da Biblioteca Sinhá Junqueira, a fundação atende 700 crianças e contribui com a inclusão social. Atualmente, forma programadores para atender às demandas de mercado e recebeu da Câmara Municipal, no dia 11 de maio deste ano, uma moção de congratulações pelos seus 85 anos.

 

Trechos da História  – Jardim Paulista


Mais velho que o Independência, o Jardim Paulista, que possui este nome em homenagem ao povo de São Paulo, segundo dados da Secretaria de Planejamento, nasceu em 18 de novembro de 1946 — processo nº 1292/46, projetado por Dario Cordovil Guedes, ocupando uma área de 416.364,39 m², onde estão distribuídas 13 ruas e avenidas que fazem divisa com os bairros Vila Angélica, Vila Paulista, Vila Guarujá, Jardim Paulistano, Jardim do Rosário, Vila São Jorge, Vila Inês, Jardim Sete Capelas e Jardim São Paulo. 


Para o historiador Nélson Martins de Almeida, no entanto, o bairro é anterior à esta data, o que ele explica na publicação “Boletim Bairros de Ribeirão Preto”, de 2001: “A história se faz com documentos e a fonte que nos servimos para as pesquisas foi o Arquivo Municipal, onde destacamos, entre outros, o requerimento datado de 24 de julho de 1928, remetido pelo fazendeiro Daniel Kujawski ao prefeito José Martimiano da Silva. Ali é comunicada a extinção da fazenda N. S. de Lourdes, com seus 15 mil cafeeiros, para a formação do loteamento de 700 datas que se denominou Vila Paulista”, descreve.

 


Para muito além do seu desenho de ruas e avenidas, o Jardim Paulista englobou como sua —  por assim dizer —, toda área entre as avenidas Francisco Junqueira, Plínio de Castro Prado, 13 de maio e Meira Júnior

 

Neste documento, Daniel Kujawski é cobrado pela Prefeitura Municipal a pagar um imposto sobre o cafezal da fazenda, de sua propriedade, quando ela havia sido transformada em um loteamento e seus cafeeiros abandonados. “O fato sugere que o loteamento não foi terraplanado, apenas delineado em planta, em meio à vegetação, e os cafezais extintos”, relata Nélson.


Segundo o historiador, esse loteamento teve a venda de lotes prejudicada pela crise de 1929 (após a queda da Bolsa de Nova Iorque) e pelas revoluções de 1930 e 1932, e algumas datas, quadras inteiras, foram adquiridas e reservadas para serem reloteadas mais adiante. Caso do processo nº 1292/46 — com 37 quadras e uma média de 20 lotes em cada uma —, que, segundo ele, refere-se a um reloteamento sobre determinada área de terras do loteamento original (Vila Paulista), redundante da partilha extraída em 10 de dezembro de 1946, do espólio de Dona Maria de Mello Kujawski, viúva de Daniel Kujawski, sendo adquirente seu filho, Ernesto de Mello Kujawski.

 

Depois dele, outros reloteamentos também foram solicitados, como o da quadra 27, por Sebastião Vianna Martins (processo nº 7049/1962), que deu origem a 11 lotes situados entre as ruas Orlândia, Franca, Itararé e Itapura, e o da quadra nº 23 (em 17 de junho de 1967), onde Dr. Gumercindo Velludo solicitava aprovação para 30 lotes reloteados de 250 m² entre as ruas Orlândia, Laguna, Franca e Itararé.

 


Autorizada em 2 de setembro de 1968, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Barão de Mauá é um marco na história do Jardim Paulista. Começou com um prédio e, em 1971, a sede na rua Ramos de Azevedo já ocupava todo o quarteirão. Hoje, o Centro Universitário se espalhou pelo bairro e, além dele, conta com unidades de ensino especializadas.


O imbróglio explica o fato de muitos ribeirãopretanos considerarem as ruas Henrique Dumond e Camilo de Matos — principais corredores comerciais desta região —, bem como o Centro Universitário Barão de Mauá, tido por muitos como um grande impulsionador do desenvolvimento do bairro, como pertencentes ao Jardim Paulista quando, segundo a Prefeitura Municipal, pertencem à Vila Angélica.

 

A “Revista do Arquivo Municipal”, publicação da Prefeitura do Município de São Paulo de 1945 (um ano antes, portanto, da aprovação do Jardim Paulista), à página 93, descreve a Vila Paulista como sendo constituída pelas ruas Saturnino de Brito, Ramos de Azevedo, Carlos Chagas, Henrique Dumond, Italianos, Piracicaba, Orlândia, Franca, Almirante Barroso, Meira Júnior, Albuquerque Lins, José Martiniano da Silva, Cesário Mota, Laguna, Itararé, Itapura, Iguape, Guarujá, Cravinhos, Itapira, Itatiba, Atibaia, Capivari, Batatais e Chuí.

 


Um marco na verticalização do Jardim Paulista foi a inauguração, em julho de 1983, do “Jardim das Pedras”, entre as ruas Ramos de Azevedo, Iguape e Carlos Chagas. Com seus 13 edifícios, que somam 1248 apartamentos, de 2 e 3 dormitórios, o residencial trouxe para o bairro uma população estimada em 5 mil habitantes, contribuindo, significativamente, para o desenvolvimento do comércio local.

 

Mercado Imobiliário


Luís Felipe Archangelo de Oliveira, empresário imobiliário que mora e trabalha no Jardim Paulista desde 2006, sente uma procura muito grande por imóveis para venda e locação nessa região e enxerga uma tendência de crescimento da verticalização no Jardim Paulista. “Dificilmente você encontra terrenos vazios e as casas, devagarzinho, vão dando lugar aos prédios. Você tem, também, um comércio com um crescimento acentuado e a procura de imóveis está cada vez maior. Com isso, logicamente, a valorização ao longo dos próximos anos é certa, principalmente nas áreas próximas a grandes supermercados e padarias”, avalia. 

 


“Dificilmente você encontra terrenos vazios e as casas, devagarzinho, vão dando lugar aos prédios”, afirma Luís Felipe Oliveira sobre o Jardim Paulista


Segundo ele, por possuir um comércio forte, evitando que o morador precise sair do bairro, e via de acesso rápido a outros bairros e à saída da cidade, o Jardim Paulista se torna bastante atrativo.

 

“Tudo que os moradores precisam o bairro oferece. Além disso, possui empresas, padarias, docerias e restaurantes que são procurados, também, por moradores de outros bairros. O bairro tem uma localização privilegiada, bem próximo ao Centro da cidade, com fácil acesso para tudo, e a Barão de Mauá traz grande quantidade de estudantes vindos de todo país para residir próximo. Para quem gosta de correr, praticar esporte ao ar livre, as praças e a Cava do Bosque, que fica vizinha ao bairro, são alternativas. Ao lado, há, ainda, o vizinho Jardim Paulistano, um bairro com uma característica mais residencial, também de fácil acesso a toda cidade, onde os moradores podem fazer boa parte do que precisam sem utilizar veículo, pois a Avenida 13 de Maio, que divide os dois bairros, é um forte polo comercial que atende, inclusive, outras regiões da cidade. São bairros tão valorizados que dificilmente você encontra casas para alugar por um preço razoável, mesmo sendo mais antigas”, conclui Luís Felipe. 

 

LINHA DO TEMPO

 

1975
Regulamentação Feira Livre, Avenida Capitão Osório Junqueira, 


1976
Inauguração Comando de Policiamento do Interior (CPI-3) | Batalhão e Quartel da Polícia Militar (PM) e construção do Centro do Professorado Paulista (CPP)

 

1977
Inauguração Condomínio Horizontal de Sobrados Rosa dos Ventos e da atual E.E. João Augusto de Mello

 

1982
Instalação da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) | Inauguração da paróquia da Igreja Católica Santa Rita de Cássia e da Igreja Batista 

 

1997
Fim do transporte de passageiros de trem pela FEPASA e da linha de trólebus Jd. Independência

 

2006
Inauguração Condomínio Residencial Vila Inglesa (Vila Bete)

 

2007
Fundação Jornal Independência (JI)

 

2010
Inauguração Banco Santander

 

2019
Anúncio da construção do Centro Administrativo de Ribeirão Preto no bairro Independência; Instalação do 11º BAEP; Instalação do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Mogiana e fundação do Jornal O Bairro

 


 

• Confira mais sobre o Jardim Paulista, Independência e outros bairros de Ribeirão Preto na editoria "Nosso bairro, nossa história".


Foto: Arquivo Revide

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